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Novo livro reflete sobre atuação de mulheres negras no cinema

Coordenado por Bárbara Cazé, obra reúne análises a partir de filmografia e debates organizados pelo Cineclube Afoxé

Sete ensaios compõem a obra recém-lançada Mulheres Negras na Tela do Cinema, livro organizado por Bárbara Maia Cerqueira Cazé, a partir das atividades do Cineclube Afoxé, que realiza exibição de filmes e debate em Vitória, com foco em curtas-metragens produzidas por negras e negros.

O livro traz um tema em evidência: não se pode mais negar ou ignorar a sub-representação das pessoas negras no audiovisual brasileiro, não só nos atores e personagens, mas também em todo o processo de produção para além do que aparece nas telas, como a direção, produção, equipe técnica e outros trabalhos necessários. Parece impossível deter a ascensão de realizadores negros no cinema brasileiro neste século 21, porém ainda há muito espaço a ser ocupado, e Mulheres Negras na Tela do Cinema contribui com uma análise de filmes já produzidos e suas repercussões tanto na estética audiovisual como no conteúdo abordado a partir do olhar de diretores negros.

Divulgação

Compõem a filmografia analisada as obras Braços Vazios, de Daiana Rocha (ES), Casca de Baobá, de Mariana Luiza (RJ), Deus, de Vinícius Silva (SP), Mulheres de Barro, de Edileuza Penha de Souza (ES), Nada, de Gabriel Martins (MG), Tia Ciata, de Mariana Campos e Raquel Beatriz (RJ) e Travessia, de Safira Moreira (RJ). Todos filmes foram exibidos pelo cineclube, e quem os analisa no livro são mulheres negras, acadêmicas, em sua maioria jovens, com formações em diferentes áreas, que participaram como debatedoras nas exibições do Cineclube Afoxé.

Bárbara Cazé com o livro recém-lançado. Foto: Divulgação

“As sessões aconteciam, os debates eram intensos e profundos, e eu ficava com o sentimento de que as ideias que circulavam naquele espaço tempo não se esgotavam ali, que precisavam ficar registradas para que outras pessoas conhecessem as discussões que aconteciam em nossas sessões”, conta Bárbara Cazé, que também escreveu um dos artigos da obra. As outras escritoras são Andreia Teixeira Ramos, Eliane Quintiliano, Keila Mara, Mara Pereira, Renata Beatriz Rodrigues da Costa e Tamyres Batista, além do prefácio assinado por Edileuza Penha de Souza, professora, pesquisadora e cineasta capixaba que recentemente conquistou o prêmio de melhor documentário com seu curta-metragem Filhas de Lavadeiras, no Festival É Tudo Verdade, um dos mais importantes do gênero no país.

“São temáticas que afetam as mulheres negras: memória, família, trabalho, amor, maternidade, mobilidade social, políticas públicas de acesso e permanência à universidade e, claro, cinema. Um cinema pensado e realizado a partir do ponto de vista de pessoas negras”, aborda Bárbara sobre as abordagens feitas pelos textos. “Escrevemos porque nos autorizamos a escrever, inspiradas em mulheres negras como Carolina Maria de Jesus e Lélia Gonzalez e todas as que vieram antes de nós e ousaram”, diz.
Debate após sessão do Cineclube Afoxé. Foto: Divulgação

O cinema hegemônico, aponta Bárbara, é branco, masculino e heterossexual. Mas há muita produção acontecendo de um “cinema racialmente engajado”, especialmente a partir de jovens realizadores negros, alguns com formação universitária, possibilitada sobretudo a partir da política de cotas para ingresso nas universidades públicas.

“A nossa experiência tem mostrado que o público tem muito interesse em conhecer o que as realizadoras negras e realizadores negros estão fazendo, de assistir um cinema que apresente personagens e narrativas que abarquem a complexidade de pessoas negras”, relata Bárbara a partir da experiência do Cineclube Afoxé, que leva em conta na curadoria filmes em que as pessoas negras tenham papel protagonista, seja na realização ou como protagonistas das narrativas. “Outra coisa que temos aprendido é que o cineclube é uma importante janela no audiovisual para que haja encontro entre o filme e o público. Muitos desses filmes não entram no circuito comercial. Circulam em festivais, atingem um público especializado que os procuram. O cineclube atinge o público que não tem acesso a esse circuito de festivais”.

O livro Mulheres Negras na Tela do Cinema foi editado pela Editora Pedregulho e está à venda por R$ 35, com frete grátis para todo Brasil. A aquisição pode ser feita diretamente com a Bárbara via transferência por Banco do Brasil ou PicPay, ou por cartão de crédito por meio do site da Pedregulho. Em caso de dúvidas, o telefone para contato é (27) 99276-4514 ou pelas redes sociais do Cineclube Afoxé no Instagram e Facebook. O livro foi produzido com recursos do Fundo Estadual de Cultura (Funcultura) e teve uma série de unidades doadas à bibliotecas de todo o Espírito Santo e cineclubes. 

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