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O canto feminino e coletivo da Suindara

Grupo de mulheres surgido no Caparaó capixaba apresenta ao público seu primeiro álbum e prepara turnê pelo Espírito Santo

“A proposta do grupo é produzir um canto feminino coletivo, ao mesmo tempo forte e sensível, capaz de refletir a magia, a beleza, a simplicidade e o mistério da vida”. Tão simples quanto complexa, a ideia da banda Suindara, surgida no entorno de belezas naturais da vila de Patrimônio da Penha, no Caparaó Capixaba, vem conquistando espaço nos meios alternativos e se consolida com o lançamento de seu primeiro EP, homônimo, com cinco composições próprias e participações de convidados especiais.

“Nosso desejo é ofertar ao planeta nossa gratidão e nosso profundo sentimento de amor pela natureza e ao público um respiro na mata, um mergulho nas águas puras e um momento de silêncio para ouvir a música que emana da floresta através da nossa canção e conectar-se com ela”, diz Aline Maria, que integra o grupo junto com Laissa Gamaro e Relva Rodrigues

Aline Maria, Laissa Gamaro e Relva Rodrigues. Foto: Mari Garcia & Douglas Bonella

O som da Suindara vem carregada de essência, pois surge conectado com as vivência das artistas em Patrimônio da Penha, onde além da grande exuberância natural com florestas, rios e cachoeiras, encontra-se talvez uma das maiores concentrações de artistas e espaços para a cultura por metro quadrado no Espírito Santo, devido às tradições locais unidas ao fluxo de novos moradores, geralmente vindos de cidades metropolitanas cansadas do caos da urbe e em busca de novos ares.

“O disco foi todo concebido a partir da nossa relação com esse lugar chamado Serra do Caparaó, nossa casa e abrigo de uma exuberante Mata Atlântica preservada”, observa a cantora. Relva foi criada desde criança no local, enquanto Aline e Laissa foram morar por lá há cerca de seis anos, aderindo a um novo ritmo e estilo de vida.

“As canções tocam especialmente em questões do ser feminino, do ponto de vista social e espiritual, e convidam o público a uma reflexão sobre nosso lugar no mundo, a conexão com o sagrado e a natureza que habita em tudo e em todos”, explica Aline. Um disco sobretudo sobre amor, em seu conceito mais amplo, na relação com o todo e não apenas no engodo da estrita visão romântica que domina o mercado da indústria cultural de massas.

O entorno natural é inspiração para letras e melodias da Suindara. Foto: Mari Garcia & Douglas Bonella

Se o som e a mensagem da Suindara possam soar estranhos a alguns ouvidos mais urbanóides, também têm o potencial de cativar corações diversos, inclusive os que buscam em meio à cidade algum sossego. A vida simples do campo, a beleza das matas, das águas e os sons das florestas transformados em música comunicam de forma melódica. Sons de pássaros, grilos, cigarras dos próprios quintais e outros sons da natureza local fazem parte da sonoridade do álbum, “para compartilhar com o mundo a magia real do lugar onde estamos”.
“E a Natureza é a maior e mais perfeita fonte de inspiração da arte que estamos oferecendo, em primeiro lugar, a ela. Por ela. Pela proteção deste planeta, que nunca esteve tão devastado pela ganância humana”, diz Aline Maria, lembrando também da veia crítica que pulsa no conjunto de mulheres. “Nossas canções relembram o passado, consagram o presente e zelam pelo futuro da humanidade”, resume a descrição do conjunto nas redes sociais.

A Suindara surgiu em 2019 para o Festival Holístico das Artes Cósmicas. Aline cantora, arranjadora e percussionista mais experiente, que integrou projetos como o Pó de Ser Emoriô, uniu-se a Laissa, que vinha compondo canções em voz e violão, e Relva Rodrigues, que desenvolvia estudos em canto e percussões. “Assim nasceu um trio de mulheres amigas, vizinhas e irmãs, e aos poucos nos tornamos uma família”, diz Aline. “E juntas partilhamos e descobrimos saberes em torno da produção musical independente”. Cresceram juntas musicalmente e agora oferecem ao mundo uma música com potencial de ir além de qualquer fronteira imaginada.

Entre as influências musicais do grupo estão mulheres compositoras e instrumentistas como os grupos paulistas Clarianas e Obinrin Trio, o duo Perota Chingó, em que se somam a voz uma argentina e uma uruguaia, e a dupla Luli e Lucina, que teve maior sucesso na década de 1970. Também lembram das músicas de cura da cantora Danit Treubig e da poética de Dércio Marques, defensor da natureza e da cultura popular do Brasil.

Um tributo musical à natureza resume o som da banda feminina. Foto: Mari Garcia & Douglas Bonella

No primeiro disco, Suindara traz companhia do exímio violeiro Marcos Côco, integrante do Moxuara, dos percussionistas Carlinhos Ferreira, Lídia Soares e Bernardo Leitão, do sanfoneiro Breno Brício e do baixista Jackson Pinheiro. Ainda participa a banda Roça Nova, também originária da região Caparaó, e as crianças Itzi Melca e Maitê Luz, moradoras de Patrimônio da Penha.

O álbum foi mais uma das iniciativas proporcionadas pelos recursos da Lei Aldir Blanc, que descentralizou de forma emergencial recursos federais para projetos culturais de todo Brasil, tendo sido selecionado por edital a nível estadual. Uma vez lançado, agora a banda acompanha os desdobramentos, que segundo Aline tem sido de um retorno muito positivo do público. “Os dados mostram que as mesmas pessoas estão escutando o álbum várias vezes, e isso é um sinal de que elas estão gostando muito. A repercussão na internet está bem intensa também, muita gente compartilhando”.

O próximo desafio é produzir um videoclipe do single “Bailado de Cabocla”, que abre o EP, e também iniciar uma circulação de shows pelo Espírito Santo. A primeira apresentação depois do lançamento aconteceu no último dia 26 “em casa”, no espaço cultural colaborativo Quintal da Villa. Na agenda já estão outras apresentações no Festival EnCura, dia 15 de maio, em Patrimônio da Penha, e no dia seguinte em Guaçuí, como parte do projeto Cultura em Toda Parte, da Secretaria de Cultura do Espírito Santo (Secult-ES).

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