Mestre Antônio Rosa dedicou a vida ao Congo. Desde a juventude já seguia o pai nos festejos de São Benedito. Mas foi na década de 80 que ele, percebendo que o Congo estava ameaçado a desaparecer, começou a tomar medidas para protegê-lo. Um de seus maiores feitos foi a criação da Associação das Bandas de Congo da Serra (ABS) em 1986. O diretor Fábio Carvalho decidiu também manter viva a memória de Mestre, assim como ele manteve viva a tradição do Congo, sua história está agora perpetuada no filme O Congueiro do Santo Preto.
Fábio conta que o interesse em fazer o filme veio quando conheceu Antonio Rosa durante uma das Festas de São Benedito. “Nos tornamos muito amigos e fui conhecendo cada vez mais a história deste homem tão devoto a São Benedito e um apaixonado pela sua cultura, o Congo da Serra. O tempo foi passando e ele faleceu em 1999, então eu decidi de fato contar a sua luta pelo Congo em um filme”, diz Fábio.
A produção do documentário demorou três anos para ser finalizada e o diretor procurou conversar com diversas pessoas próximas ao mestre e que pudessem descrever sua vida em função das bandas de congo e da festa, dedicação que foi herdade de seu pai, João Rosa. O Congueiro do Santo Preto teve apoio da Lei Chico Prego, Lei de Incentivo da Serra, e da Lei Rouanet, do Ministério da Cultura, mas mesmo assim Fábio teve dificuldade em trocar os bônus, o que também atrasou a produção do longa. “Uma pena a falta de sensibilidade de nossos empresários”, lamenta.
“É sempre a mesma história precisamos convencer os empresários da importância do trabalho cultural e de uma obra artística. Temos sempre que explicar que é benéfico para eles também aparecer apoiando cultura, num pais onde a cultura não chega para todos”, desabafa.
À parte os problemas financeiros, Fábio conta que todos os momentos das filmagens foram mágicos e emocionantes porque a todo momento se lembrava do Mestre que foi tão importante na sua formação cultural. “Foi por causa dele que eu acabei me envolvendo com diversos projetos ligados à cultura popular. Sempre que me encontrava ele dizia: ‘Os velhos estão morrendo e os novos não querem participar da brincadeira’”.
Fábio Carvalho é responsável pelo projeto Congo nas Escolas, que recentemente completou 15 anos. O projeto, realizado com crianças e jovens estudantes e residentes na Ilha das Caieiras e na Grande São Pedro, leva para as novas gerações, o Ritmo, a Melodia e a Tradição do Congo do Espírito Santo.
O Congueiro do Santo Preto estreou no Cine Metrópolis no início do ano e agora já está viajando para outros estados e países. No dia 20 de agosto foi exibido no México na Sala Cultural Brasil Mexico, no Consulado Brasil Mexico. No mesmo dia, o filme foi exibido em uma Mostra de Audiovisual em Recife, na Sede da Regional Nordeste do Ministério da Cultura do Brasil. No dia 27 de agosto será a vez da Cidade de Xalapa receber e exibir o filme, na Universidade de Veracuziana, na cidade de Xalapa.
“É maravilhoso ver a minha obra, que na verdade é uma grande homenagem, rodando por aí, tendo vida própria e cumprindo sua função que é mostrar para o mundo a Fincada de Mastro de São Benedito”, diz Fábio, que também conta que a receptividade tem sido incrível pois o congo ainda é novidade para muitos brasileiros e estrangeiros também.
Ainda haverá mais uma exibição do Congueiro do Santo Preto na sua passagem pelo México. No dia 28 de agosto o filme será lançado junto com a abertura da exposição O Congo e seus Ofícios, da fotógrafa e artista plástica Kika Gouvea, que viveu no Espírito Santo durante muitos anos e agora reside na Cidade do México.
Amostra retrata a fabricação dos Instrumentos, pelos Mestres Vitalino ( Casaca) e Mestre Daniel ( Tambor) , da Barra do Jucu, como Mestre Honório e também o Mestre Valdemiro Salles ( Casaca), do Congo Panela de Barro de Goiabeiras Velha. A banda de Congo Amores da Lua também esta presente na exposição quando foi fotografado em uma apresentação comovente. Para Kika, a fotografia aproxima ainda mais o público da magia e da beleza do Congo.
“Acompanho o trabalho de Fábio Carvalho com o Congo há anos no Espírito Santo e quando assisti ao filme me apaixonei. Como estou morando por um tempo no México, achei que deveria trazer o filme para cá para que todos pudessem conhecer e admirar essa manifestação da cultura capixaba tão bonita”, declara a fotógrafa.