segunda-feira, novembro 25, 2024
19.9 C
Vitória
segunda-feira, novembro 25, 2024
segunda-feira, novembro 25, 2024

Leia Também:

O lugar mais underground de Vitória

Na Rua Professor Baltazar, subindo uma ladeira de paralelepípedo em direção à Catedral de Vitória, uma casa espremida entre outras chama atenção dos mais atentos pelos graffitis, que ocupam a fachada e também a varanda superior, por vezes ocupadas por jovens que parecem se divertir. Uma vez por mês, aos sábados, o local, denominado como Sala Pós-Cirúrgica, costuma receber shows e exposições, ajudando a mover a cena artística do Centro de Vitória, que tem seus constantes altos e baixos.

Graffiti é parte da arte que compõe a Sala Pós-Cirúrgica. Foto: Vitor Taveira

Um estreito portão, escadas, uma sala vazia com pichações, uma porta com uma placa que diz “Serviço de criminalística” são só o aperitivo desse espaço que, desde agosto de 2019, compõe a cena “underground” capixaba. Mas é subindo as escadas para o segundo andar que encontramos, primeiramente, uma ante-sala com galeria que expõe obras de um artista local a cada evento.

Na segunda sala, que emenda com a varanda, um tapete faz as vezes de palco e as bandas arrumam o som para apresentar sua música, sempre autoral. Luz verde, desenhos e graffitis, um manequim com adesivos e mensagens em caneta, teclados e uma guitarra quebrados, fazem parte da decoração, que inclui também um vaso sanitário feito de cinzeiro na varanda. “Muita coisa aqui a gente achou na rua”, diz Mario Schiavini, um dos produtores culturais do espaço, junto com Igor Dettmann, ambos estudantes de Música da Ufes e integrantes das bandas Ella Fritadjeli Trio, Gadus Morhua e Tegwa.

Mario e Igor, moradores, músicos e produtores culturais. Foto: Vitor Taveira

Os dois alugaram a casa com intuito de morar, sem a ideia inicial de usá-lo como espaço cultural. “Quando mudamos, vimos que tinha muito espaço vazio na casa e não tínhamos móveis. Mas tínhamos muitos instrumentos”, relata Igor. A forma de ocupar o espaço vazio lhes pareceu natural. Mudaram em julho e já em agosto aconteceu o primeiro evento. Desde lá, a cada mês, uma atividade cultural, com seis edições já realizadas e dezenas de artistas envolvidos.

O esquema é o seguinte: a bilheteria fica inteiramente para as bandas e a casa vende bebidas, camisas e outras coisas. O valor da entrada é escolhido pelas próprias bandas de acordo com seu público e costuma variar entre R$ 5 e R$ 10. As datas também são eleitas pelas bandas, geralmente duas ou três por evento, de acordo com a melhor conveniência para elas. Por vezes, são grupos com sons similares, mas em outras os produtores preferem misturar estilos. A única regra é ser música autoral, com composições próprias, ajudando a manter a cena que vem sendo construída nos últimos anos no Espírito Santo, mas que carece de espaços, já que muitos não se interessam pelo autoral e os que apostam nele por vezes têm curto tempo de existência.

Na Sala Pós-Cirúrgica, quando é dia de evento, é preciso mover algumas coisas. A geladeira vai para o quarto de Igor, que se transforma no bar e também camarim para os artistas. O sofá vai para a varanda, para dar espaço para abanda e também para atender ao gosto do público capixaba de concentrar-se principalmente na parte externa dos locais. No total, a casa recebe entre 60 e 70 pessoas por evento.

Apresentação do duo A Transe em uma das noites culturais da casa. Foto: Vitor Taveira

Os eventos começam cedo, para acabar antes das 22h e evitar qualquer perturbação para os vizinhos, como já vinham fazendo outros espaços alternativos na cidade. A única reclamação recebida foi em relação às pichações, denunciadas por uma vizinha à polícia achando que eram ilegais, e terminando publicadas em um jornal como se fossem “vandalismo”. Mas não eram. A pedido de grafiteiros, as pinturas foram autorizadas pelos inquilinos e compõem as paredes das partes interna e externa da casa, com exceção do espaço da galeria, cujas paredes são utilizadas pelos artistas que expõem a cada evento, podendo também vender suas obras.

Geralmente, o mesmo artista expositor também é convidado para fazer a arte de divulgação do evento, que é impressa em papel, divulgada no Instagram da Sala Pós-Cirúrgica e também impressa em camisas, já que numa das salas da casa funciona o ateliê de serigrafia Um Quarto Escuro. É de praxe da casa fazer o sorteio de uma delas entre os participantes de cada evento.

É a boa e velha correria que sustenta a cena alternativa, que sempre existe resistindo. Vale a pena mais pela movimentação, não tanto pela grana, considera Igor. Além de shows, exposições e serigrafia Sala Pós-Cirúrgica também recebe ensaios de banda e pretende num futuro próximo instalar um home studio para a gravações. O próximo evento será no sábado (25), com início às 18h, com as bandas Gastação Infinita, Madellena e Volapoque, além de exposição de Patrick Trugilho. 

Objetos em desuso ou encontrados na rua fazem a decoração. Foto: Vitor Taveira

Quem chegou até aqui na leitura pode estar se perguntando desde o início: mas porquê o estranho nome de Sala Pós-Cirúrgica? A inspiração é mais prática do que uma abstração. Em anexo à casa funciona uma pequena fábrica que produz cintas pós-cirúrgicas, comercializadas numa loja nas proximidades. Daí veio a brincadeiras de chamar o local com esse nome. “Nós pensamos que passando pela rua as pessoas veriam a placa da loja e entenderiam”, disse Igor, contente com o fato de isso não acontecer, o que permite que os visitantes possam “viajar” pensando sobre o sentido do peculiar nome escolhido para o centro cultural.

AGENDA CULTURAL

Noite cultural na Sala Pós Cirúrgica

Atrações: Shows com Gastação Infinita, Madellena e Volapoque e exposição de Patrick Trugilho

Quando: Sábado, 25 de janeiro, de 18h às 22h

Onde: Rua Professor Baltazar, 123, Centro de Vitória

Entrada: R$ 10

Mais Lidas