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O ???Morador do Mato??? de Cainã, um linharense na música independente do Estado

 
Há algumas semanas, a série A Novíssima Música do ES foi iniciada aportando em Guarapari, com o jovem Duarte e sua música autoral. Nesta semana é Linhares, no litoral norte do Espírito Santo, que entra na cena musical autoral capixaba com outro jovem talento, Cainã – que pela sonoridade do nome já se percebe uma inspiração indígena. E Cainã confirma, seu nome é indígena e recebe o significado de  Morador do Mato –  não por acaso o título de seu primeiro e atual álbum. 
 
O ambiente do mato, do interior, é algo muito presente no trabalho de estreia do rapaz, que foi criado no mato mesmo, em Pontal do Ipiranga, na região costeira de Linhares. “Cresci ali até os cinco anos. Lembro de muito mato mesmo; e que eu e meu irmão adorávamos batucar e inventar música”, conta ele. Hoje, aos 23 anos, formado em Jogos Virtuais e constantemente procurando especializações e atualizações em técnica musical, Cainã mostra que o ambiente do interior está presente em sua essência. 
 
Escutar o disco Morador do Mato (capa ao lado) – uma estreia imponente de 15 faixas – é quase como fazer uma viagem ao interior. As letras de Cainã, todas escritas por ele, revisitam um ambiente com tamanha naturalidade, que chegam a transportar quem escuta. Em sua página na internet, há muita gente admirada falando o mesmo, elogiando um trabalho de cunho notadamente profissional. Poucos ali sabem que Cainã gravou todo o disco no quarto de casa, com um microfone e seus instrumentos.
 
“Nasci lá no mato, andei pelo asfalto, num caleidoscópio de cheiros e tons” (música Morador do Mato)
 
O jovem até brinca ao constatar, então, que o trabalho foi feito para isso, para ser uma estreia que soa o mais profissional possível, mesmo fora de um estúdio profissional, mesmo com todas as etapas de produção sendo feitas por Cainã – que conseguiu realizar tudo devido ao aprendizado nessa área um tanto curiosa de Jogos Virtuais – curso daqui mesmo de Vitória. “O músico precisa saber que por mais que ele não tenha tantos aparatos técnicos, ainda assim pode gravar, editar, colocar o trabalho em rede. A gente não precisa esperar que tudo comece em um estúdio, com todas as etapas estritamente bem definidas. O primeiro passo pode ser feito com força de vontade”, acrescenta ele.
 
 
Dentro das possibilidades que o curso lhe oferecia, Cainã viu no segmento da trilha sonora para jogos uma via de carreira. Contudo, deixou as trilhas para trás ao perceber que, com o conhecimento adquirido, poderia gravar algo autoral, de casa mesmo, com o que tinha. Cainã retornou então a Linhares e voltou-se às composições. Idealizou um trabalho musical autoral e fez nascer Morador do Mato, disco lançado no final de 2015 e que, agora, começa a entrar na fase de ser trabalhado fora do meio virtual. 
 
Morador do Mato incluiu a participação de músicos decisivos para a sonoridade do disco. Dan nos baixos, Heviny no violino, e Maressa na bateria. Os três ajudaram Cainã a incorporar importantes vertentes musicais no disco, de um samba mais sutil ao pop rock. E por falar em sutileza, essa foi uma pontualidade muito bem trabalhada por Heviny com seu violino – sem dúvidas, um diferencial na banda. 
 
“Eu e meu irmão tivemos durante bastante tempo uma banda de cover do Red Hot Chili Peppers, antes mesmo da faculdade. Então, por eu ter vindo nessa pegada um pouco mais rock, a Heviny precisou chegar com uma sutileza. A conheci nos tempos da escola e nos aproximamos em eventos como saraus. Quando tocávamos juntos, parecia que estávamos conversando. Era uma conexão sem explicações. E lembrei dessa conexão quando estava procurando integrantes para a banda, foi assim que a Heviny entrou”, explica Cainã.
 
Em meio às letras igualmente cuidadosas, está o violino de Heviny, que acrescenta um toque a ser notado. Contudo, Heviny e Maressa estão de saída da banda. A distância entre Vitória e Linhares dificultou o acompanhamento do projeto e, assim, a decisão de afastamento foi anunciada na página oficial de Cainã. “Meu coração fica partido, claro, mas preciso agora procurar novas pessoas para ocupar esse espaço. O principal é encontrar pessoas que tenham a mesma vibração com a música, independentemente do tipo de instrumento que cada um toque”, acrescenta o músico, que emendou nisso a busca oficial por novos integrantes. 
 
 
Uma inscrição online está em andamento. Seguido disso, Cainã e Dan realizarão audições no próximo sábado (9), em Linhares e, assim, escolherão novos músicos. Até o momento 20 pessoas estão inscritas, contudo, Cainã nota que ainda nenhuma mulher de fato nos instrumentos, o que o deixa na expectativa. E, juntamente com o processo, Cainã lançou uma proposta chamativa, diversas versões instrumentais do disco, para que músicos de qualquer local e com qualquer instrumento possam treinar acompanhando o som. A ideia se mostra um tanto quanto inovadora, já que poucos artistas brasileiros lançam as versões instrumentais de suas canções. 
 
Não só a mixagem do disco, mas a gravação, a capa, os dois clipes produzidos, o site oficial, a página do Facebook e todos os pequenos detalhes foram todos feitos por Cainã – que por acompanhar esses processos, sabe bem como está a recepção do público. Cada etapa levou certo tempo e, após tudo pronto, o projeto chega agora numa fase de trabalhar o disco nas ruas, fora do virtual. A decisão, porém, esbarra na atual procura por novos integrantes, como frisa Cainã. “Nessa hora que foi o momento de começar a tocar, aconteceu o processo de saída das meninas. Então há muito gás e vontade de trabalhar o disco fora do virtual, só precisamos de novos integrantes”. 
 
Foi em Linhares, no dia 28 de dezembro de 2014, que Cainã subiu oficialmente num palco para apresentar sua música autoral. A sensação ele mesmo conta. “Não tenho ainda muitas experiências com shows autorais, mas lembro-me perfeitamente da primeira vez que subi num palco e toquei uma música minha. A sensação foi indescritível, algo completamente diferente de tocar qualquer outra coisa. A gente houve esse romance das pessoas falando que o palco é mágico e eu naquele dia pude sentir exatamente isso. Foi um momento tão marcante que sempre que eu desanimava com a música, me lembrava daquele dia”.
 
 
O público é o que intriga o jovem no momento. Mas Cainã mostra-se um tanto preparado para apresentar seu projeto fora das redes virtuais e lidar com o que enxerga hoje como problemas. “A gente ainda sofre resistência desse grande público, por ser artista autoral. E o público também é decisivo quando se fala em encorajar o músico local. É por isso que é importante prestar atenção no cantor dos barzinhos. É importante paramos de conversar e escutá-los quando eles começam a tocar. Precisamos chegar ao ponto de as pessoas estarem dispostas a sair de casa para conhecer artistas locais novos, autorais”, fala. 
 
E não é só isso, a integração com a cena local independente é outra busca de Cainã, que acompanha o que acontece pelo Estado e sabe dos nomes que a movimentam. Sendo assim, a busca é também por mais proximidade com cantores, cantoras e bandas da Grande Vitória. Mas não é preciso sair definitivamente de Linhares para alavancar isso. Cainã acredita que, por lá, também está uma cena musical de muita potência, e que tudo pode ser integrado com Vitória, Vila Velha e muitos municípios possíveis. 
 
“A palavra é isso, cena. A cena precisa existir, não tem nada mais precioso culturalmente que uma cena musical local bem movimentada. E para isso acontecer, não precisamos necessariamente sair do Estado ou do interior, e sim incentivar músicos e fomentar essa vontade do público. Então, vamos trabalhar”, conta ele, com uma vontade que pode ser percebida na empolgação de apenas conversar sobre música. Com a sutileza que o trouxe até aqui, é assim que Morador do Mato busca alcançar novos espaços. Enquanto isso, o jovem retorna a Vitória para cursos esporádicos, pequenas apresentações e participação em projetos como o Sonzêra, que, em breve, apresentará vídeos do cantor. 
 
 

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