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O teatro que circula com o público na peça O ??ltimo Carro

O dramaturgo João das Neves escreveu a peça O Último Carro durante os anos de 1964 e 1965, início da ditadura militar, quando as movimentações populares eram abafadas. A crítica do dramaturgo – que colocou o povo da classe pobre como protagonista da peça e, assim, sensibilizava sobre a força popular – só poderia  ser apresentada dez anos depois. O contexto original da peça foi um trem, recriado nos palcos de teatros cariocas e que obteve imensa repercussão. 
 
“O João tem a marca de colocar as questões sociais em evidência, o que era algo que não acontecia na época. Ele coloca o povo enquanto protagonista, na intenção de refletir sobre a força popular, a importância da sociedade na política, a discussão dos direitos do cidadão. E, pensando nisso, vemos algo de similar com o contexto atual, em questão de exploração dos mais pobres e da importância do discurso da mobilização popular para que o povo entenda seu lugar de participação”, detalha Leonardo Patrocínio, que  fez a ousadia de João das Neves tomar força em Vitória, na adaptação da peça que começou a ser apresentada em Vitória na última sexta (11). 
 
Leonardo é professor da Escola Técnica de Teatro, Dança e Música – Fafi e responsável pela adaptação e direção da peça O Último Carro, que será interpretada por uma turma formanda no curso de teatro. Ao todo serão seis apresentações que seguem até o dia 17 – com retorno previsto para o ano que vem.  E mais uma das ousadias da peça é que ela será apresentada dentro de um ônibus que sairá do Theatro Carlos Gomes e fará percurso dialogando pelo Centro de Vitória enquanto a peça é apresentada.
 
“Quando a gente avaliou essa proposta de fazer a peça dentro de um ônibus, encaramos como um desafio, e o olho de todo mundo brilhou. Isso porque quando se faz esse tipo de escolha, abre-se um leque de possibilidades. Você tira o espetáculo de um lugar fechado o leva para a rua, entrando no cotidiano da cidade. E levar a peça para dentro de um ônibus é ressignificar esse espaço tão comumente frequentado pelo povo, que concentra cansaço e engloba personagens do  dia-a-dia que merecem ser vistos e ouvidos”, apresenta Leonardo.
 
É a partir de situações corriqueiras dentro de ônibus, naturalizadas por quem se locomove por esse tipo de transporte, que toma forma o texto, os cantos e as interpretações dos atores. Um vendedor de balas que raramente consegue visibilidade e espaço de fala dentro da sociedade vira protagonista de O Último Carro; assim como tantos outros personagens que rotineiramente ocupam os espaços dos ônibus e ganham sempre menos importância.
 
“Dentro do ônibus, o espectador estará no mesmo lugar que os atores, seguindo no mesmo caminho, vivenciando uma interatividade pouco possibilitada, quando se está numa plateia e num palco. Será uma experiência muito significativa, tanto para o público quanto para os atores, que estão em início de carreira e foram sensibilizados e trabalhados por todos os professores para que realizem um trabalho sensível e bonito”, acrescenta o professor.  
 
A cada apresentação, será comportado um público de 20 pessoas. Os ingressos já foram vendidos – e se esgotaram rapidamente. Mas para quem tem interesse ainda assim em ver a peça, é possível acompanhá-la nos momentos em que ela é vivida na rua, em frente ao Theatro Carlos Gomes, por exemplo.
 
Serviço
 
A peça  O Último Carro será apresentada até o próximo dia 17, a partir das 20h, com ponto de encontro em frente ao Theatro Carlos Gomes – praça Jerônimo Monteiro, Centro de Vitória. 

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