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Obras de Julio Cortázar permanecem como referência

 
O “velho cronópio” faria 100 anos em 26 de agosto deste ano. O escritor argentino Julio Cortázar morreu em 1984, deixando uma vasta obra de realismo fantástico que influenciou e continua influenciando escritores do mundo inteiro. Entre eles o cineasta italiano Michelangelo Antonioni, cujo longa-metragem Blow-up (1966) foi baseado no conto As Babas do Diabo, do livro As Armas Secretas (1959). 
 
O escritor é lembrando pela sua narrativa elegante e linguagem inovadora que rompia com a linearidade clássica. Seu livro mais conhecido é Rayuela (O Jogo da Amarelinha), de 1974, que permite várias leituras orientadas pelo próprio autor. Cortázar costumava falar que escrevia desde criança, mas seu primeiro livro, Os contos desconcertantes de Bestiário, só foi publicado em 1951, quando o autor tinha 37 anos. 
 
Um pouco mais tarde viria uma das obras que o popularizou, Histórias de Cronópios e Famas (1962), na qual em um dos contos ele descreve as famosas criaturas chamadas cronópios, seres criativos, sonhadores e desastrados, características as quais o escritor se identificava. A escritora Bernadette Lyra conta que esse foi o primeiro livro que leu do autor. Ela o descobriu por acaso em uma livraria no Rio de Janeiro, na época que fazia mestrado, ao terminar de ler foi logo atrás de toda a bibliografia do argentino. 
 
 
“Cortázar tem uma influência direta em meus livros, em especial, no ritmo do texto e no uso irônico e inusitado dos adjetivos. Ele escreve como quem faz jazz, com improvisos e redemoinhos sonoros de palavras. E isso me fascina. Tenho todos seus livros e estou sempre a lê-los e relê-los. É uma aprendizagem constante”, diz Bernadette Lyra. 
 
Além de literato, Cortázar também teve uma experiência política muito importante. O escritor abandonou a Argentina nos tempos finais da primeira etapa do governo de Perón (1947-1955) e teve contato coma Revolução Cubana, que lhe fez ver a realidade latino-americana com outros olhos e o tornou um militante das causas das revoluções de Cuba e da Nicarágua.
 
Apesar de seu engajamento político, Cortázar continuou produzindo com a mesma qualidade e originalidade, que chamou a atenção de Yan Siqueira, autor de Yanni (2014). “Conheci Cortázar com a obra Bestiário, o que me fez logo procurar sobre seu processo criativo. Dizia que escrevia seus contos numa espécie de ‘segundo estado onírico’, logo quando acordava de um sonho ou pesadelo, colocava-se a escrever tentando captar todo esse ambiente para a narrativa”, diz. 
 
Yan também comenta que também se utiliza da experiência dos sonhos em seus contos e também acredita que a obsessão que Cortazar tinha em reescrever seus textos seja uma das características de todo o bom escritor, “caso ela não exista, ele certamente falhará”, afirma. 
 
Em comemoração ao centenário do escritor, a editora Civilização Brasileira relançou Bestiário e prepara para este semestre uma nova tradução de O jogo da amarelinha. Já a editora Record vai lançar novas edições dos livros de contos Final do Jogo e Um Tal Lucas, ambos fora de catálogo. 

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