A Orquestra Brasileira de Cantores Cegos se apresentará no Sesc Glória, Centro de Vitória, nestas quinta e sexta-feiras (23 e 24),
com um repertório formado por canções da tradição oral de várias partes do país e inéditas para o público em geral.
O espetáculo terá, ao todo, 15 canções com arranjos de vozes acompanhadas do som de um piano, além da combinação com composições corporais executadas por atores da Cia Poéticas da Cena Contemporânea.
Ao todo, foram selecionadas 16 pessoas com deficiência visual para fazer parte do grupo que apresentará as músicas do repertório. Todas recebem uma bolsa de R$ 400 por mês, durante os seis meses de projeto.
“Me sinto muito feliz por fazer parte desse coletivo. É muito gratificante. Temos um grupo muito qualificado em que todos se ajudam. Tem sido uma experiência muito marcante para mim e é algo que vou guardar para sempre no meu coração”, diz Adair Jervaz, que sempre gostou de música, aprendeu cavaquinho e violão, e agora está há sete anos fazendo aula de teclado.
Outro participante da orquestra, Maycon Machado descobriu durante os ensaios o seu potencial para cantar. Ele faz a voz de barítono – timbre médio masculino, em um coral, mais grave que o tenor e mais agudo que o baixo. “Tem sido uma experiência maravilhosa. Pude conhecer bastante dessas músicas da tradição oral, antes desconhecidas por mim. Também tenho aprendido muitas coisas que geralmente não temos contato na escola, como sobre canções de trabalho e cultura indígena”, pontua.
Para compor o espetáculo, a encenadora, atriz e cineasta Rejane Arruda assume a direção cênica, depois de percorrer o país inteiro registrando cantigas ancestrais. Ela considera que o trabalho com pessoas com deficiência é enriquecedor e ressalta que a diversidade potencializa os produtos estéticos por vários motivos, como a habilidade com o som e a voz e o repertório de vida que se construiu nessa experiência com a deficiência.
“Há toda a relação com o som, porque é assim que o mundo se revela para eles. Então, é óbvio que há uma relação muito forte com a música e com a voz. E a questão da estética também está sempre posta. Os trabalhos artísticos realizados com pessoas com deficiência mostram como uma especificidade traz uma nova estética e é um trampolim para novas descobertas artísticas”, observa.
O responsável pela seleção das vozes foi o professor da Faculdade de Música do Espírito Santo (Fames) Thomas Davison, que é maestro, regente e cantor. Desde junho, os escolhidos para compor o elenco participam dos ensaios e da preparação técnica para o espetáculo. Para Davison, um dos grandes desafios desse projeto é reger os cantores sem ser visto por eles.
“Sou maestro há alguns anos, mas neste caso precisei ressignificar todos os conceitos de regência aplicados até então. Passamos um período de conhecimento mútuo e foi nas tentativas e acertos que conseguimos criar uma conexão ímpar que hoje me faz estar totalmente ligado a eles. Sou como os seus olhos, sou a partitura que eles precisam ler. Porém, são os sons que produzo (com o corpo e as mãos) e minha voz que os regem. E isso tudo se tornou meio que mágico. É como se eles literalmente pudessem me ver, me perceber”, conta o maestro.
Os arranjos de voz e piano ficam por conta da cantora e musicista Tarita de Souza. Já André Stefson é o responsável pela iluminação e Antonio Apolinário pela direção de arte.
A entrada é gratuita e a organização do evento distribuirá os ingressos uma hora antes do espetáculo, que começará às 19h30. Na estreia, além do público em geral, haverá também a participação na plateia de alunos da Educação de Jovens e Adultos (EJA), com oferta de ônibus para o transporte até o local do evento. Uma terceira apresentação, na sexta-feira (24), às 14h30, será destinada a alunos da rede pública do ensino fundamental.
Serviço
Orquestra Brasileira de Cantores Cegos
Quando: 23 e 24 de novembro
Horário: às 19h30
Local: Sesc Glória, Av. Jerônimo Monteiro, 428, Centro de Vitória
Entrada gratuita (ingressos distribuídos gratuitamente uma hora antes)