O russo Maiakóvski se suicidou em 1930, aos 36 anos, vitimado por perseguição política e desventuras amorosas
MÁRIO DE SÁ-CARNEIRO
Mário de Sá-Carneiro foi um poeta da Primeira Geração Modernista, conhecida como “Geração de Orpheu”, e escreveu na mesma época que Fernando Pessoa, em Portugal, tendo conhecido Pessoa e sido seu amigo pessoal. Sá-Carneiro viveu de 1890 até 1916. Sua obra tem destaque para a poesia de Portugal.
Em 1910, Sá-Carneiro escreveu a peça “Amizade” junto com Thomas Cabreira Júnior, que viria a se suicidar no ano seguinte. O suicídio de seu amigo fez Sá-Carneiro escrever um poema dedicado a ele, intitulado “A Um Suicida”:
Tu crias em ti mesmo e eras corajoso,
Tu tinhas ideais e tinhas confiança,
Oh! quantas vezes desesp’rançoso,
Não invejei a tua esp’rança!
Dizia para mim: — Aquele há-de vencer
Aquele há-de colar a boca sequiosa
Nuns lábios cor-de-rosa
Que eu nunca beijarei, que me farão morrer. (…)
Em 1914, em Lisboa, o poeta Mário de Sá-Carneiro se juntou a Fernando Pessoa para colaborar para a revista “Orpheu”. Neste mesmo ano Sá-Carneiro publicou o livro de poemas “Dispersão” e a novela “Confissões de Lúcio”. No final de 1915, saiu seu livro de contos “Céu em Fogo”.
No retorno de Sá-Carneiro a Paris, por sua vez, seu pai entra em falência e corta a sua mesada, que era o seu sustento, e foi em meio a esta crise financeira que o poeta começou a ter ideações suicidas. Mário de Sá-Carneiro, enfim, cometeu suicídio no Hotel de Nice, em Paris, no dia 26 de abril de 1916, com 26 anos.
VLADIMIR MAIAKÓVSKI
Vladimir Maiakóvski produziu uma poesia que tinha riqueza metafórica e rítmica, com humor e hipérboles produzia uma obra crítica e politizada, muitas vezes panfletária, e que teve um caminho bastante acidentado. Aqui se pode destacar, em relação a escritos de Maiakóvski, no Brasil, edições como “Poemas”, que tem traduções de Boris Schnaiderman, Augusto e Haroldo de Campos, “Poesia Russa Moderna”, com traduções também dos três, e “Antologia Poética”, com tradução de E. Carrera Guerra.
Vladimir Maiakóvski se suicidou em 1930, aos 36 anos, vitimado pela perseguição e por desventuras amorosas, um suicídio feito num contexto político, diferente dos casos que cito aqui nesta lista de poetas suicidas. Maiakóvski vivia o período em que Joseph Stálin estava no poder na União Soviética, em que houve um intenso expurgo de adversários políticos, o que incluiu a morte de Liev Trotsky no México. Tudo o que destoava da ortodoxia do Partido Comunista Soviético estava condenado no regime de Stálin.
Maiakóvski havia colaborado na Revolução Russa, mas a posterior tentativa do poeta de se enquadrar no novo regime soviético de uma literatura proletária, engajada e panfletária, produzindo também cartazes revolucionários, não deu certo, ele avaliou errado o efeito de sua obra neste contexto, e o poeta foi incompreendido, chegando a ter a sua peça “Os Banhos” como objeto de boicote.
O biógrafo Mikhailov diz: “As circunstâncias de sua vida pessoal eram-lhe incontornáveis. Vivia em profundo estado de depressão e passava por uma crise de criação em face de confronto com o poder soviético, mesmo sem ainda ter a consciência do que seria no futuro, mas sentindo uma enorme pressão que privava a literatura do ar de liberdade”.
Mikhailov ainda cita “a campanha para isolar Maiakóvski da literatura, ou seja, também da vida, assumia um caráter cada vez mais cruel. Na imprensa, tentavam convencê-lo de que não tinha mais o que escrever e nas apresentações alguns engraçadinhos, com intenções de ofender, perguntavam ao poeta quando, finalmente, ele daria um tiro na testa…”.
Maiakóvski deu um tiro no peito. “A bala — a única colocada no tambor (ah, essa “roleta-russa”!) — encontrou o caminho direto até o coração”, relata Aleksandr Mikhailov. Os jornais do dia 15 de abril de 1930 publicaram: “Ontem, 14 de abril, às 10 horas e 15 minutos, em seu escritório (Lubianski Proezd, nº 3), suicidou-se o poeta Vladímir Maiakóvski”.
Vladímir Maiakóvski matou-se no dia 14 de abril de 1930 e deixou um bilhete.
“A todos
De minha morte não acusem ninguém, por favor, não façam fofocas. O defunto odiava isso.
Mãe, irmãs e companheiros, me desculpem, este não é o melhor método (não recomendo a ninguém), mas não tenho saída.
Lília, ame-me.
Ao governo: minha família são Lília Brik, minha mãe, minhas irmãs e Verônica Vitoldovna Polonskaia.
Caso torne a vida delas suportável, obrigado.
Os poemas inacabados entreguem aos Brik, eles saberão o que fazer.
Como dizem:
caso encerrado,
o barco do amor
espatifou-se na rotina.
Acertei as contas com a vida
inútil a lista
de dores,
desgraças
e mágoas mútuas.
Felicidade para quem fica.”
HEINRICH VON KLEIST
Heinrich von Kleist foi um poeta nascido em 1777, na antiga Prússia, hoje parte do território da Alemanha. Ele entra para a carreira militar, seguindo a tradição familiar, mas pede baixa em 1799, causando desgosto a sua família. Sem uma meta clara, Kleist estuda Direito, mas vai para a cadeira de Literatura, e passa a ler ferozmente autores como Friedrich Schiller, Christoph Martin Wieland e os filósofos mais populares em sua época. Kleist estava decidido a ser escritor, e junto da sua irmã Ulrike, realiza extensas viagens.
Entra numa crise existencial com a leitura dos escritos de Immanuel Kant, e se isola em uma vida rural na Suíça, em que relata: “Não vejo ninguém, não leio livros, jornais, enfim, não preciso de ninguém além de mim mesmo”, é quando o poeta completa seu primeiro drama “Família Schroffenstein”, e em 1802 ele começa a escrever A bilha quebrada, que será uma de suas obras teatrais mais populares. Inquieto, viajando por diversos países nos anos seguintes, Kleist tem acessos de loucura e entra em grave colapso, quando queima parte de seus manuscritos.
A estreia de sua peça “A bilha quebrada” em Weimar, recebe vaia do público e é criticada por Johann Wolfgang Goethe, e Kleist desaparece, voltando para Berlim em 1810, fundando um jornal, quando entra em choque com a censura, e o poeta fica arruinado com o fechamento do jornal, tendo uma ruptura dramática com a própria família. As ideações suicidas começam, e juntamente com uma amiga, Henriette Vogel, vítima de moléstia fatal, Heinrich von Kleist dirige-se de coche até o lago Wannsee, onde primeiro mata sua acompanhante voluntária com um tiro de pistola, para logo em seguida se matar.
As últimas palavras, para Ulrike.
“Para Ulrike von Kleist, 21 de Novembro de 1811.
Para a Senhorita Ulrike von Kleist Hochwohlgeb. Para Frankfurt a. Oder*.
Eu não posso morrer sem ter me reconciliado, contente e jubilosamente como estou, com todo o mundo, e, assim, também, antes de todos os outros, minha caríssima Ulrike, com você. Se ela me deixar, a austera nota que está incluída na carta aos Kleist, ela me permite a tomar de volta; realmente, você mexeu comigo, eu não digo que com as forças de uma irmã, mas com as forças de uma pessoa, para me salvar: a verdade é que não era para eu na Terra ser salvo. E agora provavelmente vivo; se o céu te der uma morte, que a aceite imediatamente com um pouco de satisfação e com inexpressível alegria: este é o mais afável e carinhoso desejo que acalento por você.
Perto de Potsdam.
d. – na manhã da minha morte,
Seu Heinrich.”
CVV – CENTRO DE VALORIZAÇÃO DA VIDA
O CVV — Centro de Valorização da Vida, fundado em São Paulo, em 1962, é uma associação civil sem fins lucrativos, filantrópica, reconhecida como de Utilidade Pública Federal, desde 1973. Presta serviço voluntário e gratuito de apoio emocional e prevenção do suicídio para todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo e anonimato.
A instituição é associada ao Befrienders Worldwide, que congrega entidades congêneres de todo o mundo, e participou da força tarefa que elaborou a Política Nacional de Prevenção do Suicídio, do Ministério da Saúde, com quem mantém, desde 2015, um termo de cooperação para a implantação de uma linha gratuita nacional de prevenção do suicídio.
Os contatos com o CVV são feitos pelos telefones 188 (24 horas e sem custo de ligação), pessoalmente (nos mais de 120 postos de atendimento) ou pelo site www.cvv.org.br, por chat e e-mail. (Fonte: https://www.cvv.org.br/o-cvv/)
SETEMBRO AMARELO
Desde 2014, a Associação Brasileira de Psiquiatria – ABP, em parceria com o Conselho Federal de Medicina – CFM, organiza nacionalmente o Setembro Amarelo. O dia 10 deste mês é, oficialmente, o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio, mas a campanha acontece durante todo o ano.
São registrados cerca de 12 mil suicídios todos os anos no Brasil e mais de 1 milhão no mundo. Trata-se de uma triste realidade, que registra cada vez mais casos, principalmente entre os jovens. Cerca de 96,8% dos casos de suicídio estavam relacionados a transtornos mentais. Em primeiro lugar está a depressão, seguida do transtorno bipolar e abuso de substâncias.
Com o objetivo de prevenir e reduzir estes números a campanha Setembro Amarelo cresceu e hoje conquista o Brasil inteiro. Para isso, o apoio das federadas, núcleos, associados e de toda a sociedade é fundamental. (Fonte: https://www.setembroamarelo.com/)
Gustavo Bastos, filósofo e escritor.