Mais na coluna: mobilização; O Centro não quer menos; Anote aí; Circuito da Folia; novos blocos?
A palhaça venezuelana Julieta Hernández, assassinada no dia 23 de dezembro no Amazonas, a caminho da casa de sua mãe, em seu país de origem, será homenageada por dois blocos de Carnaval do Centro de Vitória. O primeiro deles é o PelaDonas do Centro, que abre os desfiles dos blocos nesta quarta-feira (7), às 18h. O outro é o Prakabá, que encerra o Carnaval no Centro da Capital, no domingo (18), às 14h. Ambos acontecerão na Rua Sete.
A homenagem é para lá de justa. Julieta Hernández, a palhaça Miss Jujuba, morou em Vitória durante cerca de um ano. Aqui, fez muitos amigos, participou de ações sociais durante a pandemia da Covid-19, como distribuição de cestas básicas para famílias em vulnerabilidade social, fez diversas apresentações de palhaçaria e como os próprios palhaços e palhaças relatam, os ensinou muitas coisas, entre elas, que a palhaçaria é uma arte política, e não um mero entretenimento.
‘Somos Todos Julieta!’
Em homenagem à palhaça venezuelana, o lema do PelaDonas do Centro este ano será “Somos Todos Julieta!”. Stael Magesck, uma das organizadoras do bloco, afirma que a homenagem é diante da importância de Julieta enquanto uma mulher artista que rodava a América Latina para levar sua arte. “Tem aquela música que diz ‘todo artista deve ir onde o povo está’. Era isso que Julieta fazia, ia em espaços e comunidades que precisavam da sua alegria, e nós queremos levar essa mesma alegria para as ruas”, diz.
Bike Folia
Stael recorda que, em 2020, Julieta ajudou a enfeitar a bike folia do PelaDonas do Centro, uma bicicleta que vai na frente do bloco e na qual é colocada uma caixa de som. Vale lembrar que a artista que, conforme bem lembrou Stael, ia “onde o povo está”, fazia isso a bordo de uma bicicleta, sendo, portanto, uma cicloviajante.
Faixas de Miss
Stael informa que, para participar do bloco este ano, a recomendação é que as mulheres compareçam com uma faixa de miss, com o nome que quiserem dar a si mesmas, já que Julieta era a palhaça Miss Jujuba. Julieta via nessa brincadeira uma forma de contestar os padrões de beleza impostos para as mulheres nos concursos de miss, muito apreciados em seu país de origem. Inclusive, para os protestos ocorridos em todo o Brasil após sua morte, pedindo justiça, sua irmã, Sophia Hernández, solicitou que as mulheres fossem com uma faixa de miss.
Palhaços na comissão de frente
No Prakabá, um de seus organizadores, Wagner Oliveira Sousa, o Waguinho, recomenda às pessoas que irão carregar os porta-estandartes a se vestirem de palhaço. O bloco é o último a ir às ruas, reunindo todos os demais para o grande encerramento do Carnaval do Centro de Vitória. Na frente, representantes de cada um deles carrega o porta-estandarte de seu bloco. Para os demais foliões, Waguinho recomenda que compareçam com, pelo menos, um nariz de palhaço, caso não queiram ou não possam ir fantasiados como um.
Feminicídio
Waguinho recorda que, além do fato de Julieta ter feito parte do “processo de brincante do Carnaval do Centro”, é preciso fazer sua memória pelo fato de ter sido mais uma vítima de feminicídio. “Embora o crime não tenha acontecido aqui, foi uma morte violenta e é preciso lembrar que o Espírito Santo é um dos estados que mais tem casos de feminicídio no país, portanto, é falar também da nossa realidade”, ressalta. Está certo, Waguinho! Carnaval é também para isso. A arte, como Julieta ensinou, seja qual for, é também política.
Mobilização
Aliás, os blocos do Centro estão de parabéns pela mobilização. Sem ela, o Carnaval sairia bastante prejudicado. Após pressionar a gestão de Lorenzo Pazolini (Republicanos), os blocos conseguiram não restringir seus desfiles ao período oficial do Carnaval, que este ano é de 10 a 13 de fevereiro. Assim, blocos como o PelaDonas do Centro, que começa na quarta-feira antes do Carnaval, e o Prakabá, que vai às ruas no domingo após a folia, não poderiam desfilar. Outra conquista foi não limitar o início dos blocos para a partir das 11h, o que impossibilitaria, por exemplo, o Amigos da Onça, na terça-feira (13), às 8h, na rua Barão de Monjardim.
O Centro não quer menos
Caso esses impedimentos fossem mantidos, seriam menos blocos, menos diversão, menos fomento aos bares e outros estabelecimentos da região, e menos crítica social, que é o que parece incomodar a gestão municipal nos blocos do Centro. A coluna espera que a proposta dos vereadores Karla Coser (PT) e André Moreira (Psol), de construir junto aos blocos um projeto de lei que regulamente o Carnaval, ganhe força este ano, para que em 2025 o Carnaval do Centro não fique à mercê de mais um decreto tão restritivo.
Anota aí!
Mas já que vai ter Carnaval, anota aí. Além dos blocos já citados, haverá, na quinta-feira (7), o Nós, Eva e Adão, às 18h, na praça Ubaldo Ramalhete. No sábado (10), serão dois blocos: Projeto Subúrbio, às 8h, e AfroKizomba, às 14h, ambos na Avenida Beira Mar. Nesse mesmo local, no domingo (11), terá Regional da Nair, às 8h, e Puta Bloco, às 14h. Também no dia 11, às 8h, Maluco Beleza, na rua Sete de Setembro. Na segunda-feira (12), às 14h, tem Vai que Gama, na rua Gama Rosa, e Coisas de Negres, às 14h, na Avenida Beira Mar. Na terça-feira (13), além do já mencionado Amigos da Onça, terá o Galinha Preta, às 14h, na rua Maria Saraiva, a rua do Bar da Zilda.
Circuito da Folia
Uma das novidades deste ano é o Circuito da Folia, com um trio no domingo (11) e na segunda-feira (12), que conduzirá os foliões depois do desfile dos blocos até o Sambão do Povo, onde haverá atrações musicais. A Associação dos Moradores do Centro (Amacentro) comemora a iniciativa, que é uma reivindicação da entidade desde a primeira gestão do prefeito Luciano Rezende (Cidadania). “A gente brigou muito por isso na prefeitura”, disse à coluna o presidente da Amacentro, Lino Feletti, que acredita que o Circuito da Folia vai “desafogar” o Centro à noite, evitando, por exemplo, a utilização de caixas de som pelas ruas.
Novos blocos?
Lino informou, ainda, que a Amacentro foi procurada para dar anuência à criação de mais dois blocos, que se dirigiram diretamente à entidade para isso. Contudo, afirma, a associação faz isso somente no caso daqueles que foram autorizados pelo Blocão (Liga dos Blocos do Centro de Vitória), respeitando a discussão coletiva que é feita em torno do Carnaval do Centro. Entretanto, ressalta, o pedido do blocão não é o único quesito a ser levado em consideração. Lino destaca que já há muitos blocos no Centro de Vitória, que já está saturado, sendo preciso ocupar outros espaços da cidade. Portanto, a criação de novos blocos depende da decisão de algum de não mais desfilar.
Até a próxima coluna!
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