Garimpeiro de palavras, lapidador de versos. Wladimir Cazé diz que costuma levar uma década para escrever seus livros. Microafetos levou os anos 90, quando morava na Bahia. Macromundo foi escrito nos anos 2000, apresentando experiências dos tempos em que vivia em São Paulo. Mas Minivida, livro dessa findoura década de 10, foi escrito com urgência, em apenas dois anos, depois de um longo hiato em que pouco escreveu, dedicando-se mais aos estudos, leituras e traduções literárias. A obra será lançada nesta quinta-feira (20), às 19h, na sede no Cousa Café Bar, Centro de Vitória.
“É o meu livro escrito em menos tempo, mas que carrega a gama de experiências e aprendizagens que tive depois da publicação de Macromundo”, conta sobre Minivida, cujos versos foram feitos entre 2016 e 2018.
“São poemas escritos com um sentido de urgência, para serem lidos neste exato aqui e agora. Ao acompanhar as notícias do Brasil e do mundo, senti necessidade de fazer algo rápido e intenso, um grito, uma mensagem na garrafa, antes de recomeçar tudo do zero”.
Pode-se então considerar uma obra de alguma maneira mais política ou mais afirmativa, porém mantendo o caráter minucioso, que busca detalhes e usa a poesia como lupa para as pequenas grandes coisas do cosmos e da vida.
“Antes eu buscava escrever uma poesia antilírica, destituída de pessoalidade autoral, compondo, com a descrição de coisas e seres vivos, sentidos humanos, tentativa de passar do abstrato para o concreto, o visual, o palpável ou o grafável”.
Depois de um tempo sem escrever foram surgindo novos versos, que se bem mantêm proximidade com a linguagem anterior, agora o eu se desesconde e o indivíduo aparece para dialogar com o mundo exterior, tangenciando as crises atuais e inclusive as questões políticas. “Pressenti que algum tipo de fratura estaria para ocorrer, e escrever sobre isso me ajudou a suportá-la e entendê-la, a estar preparado para quando ela finalmente ela viesse”.
Mas nem só de fraturas políticas o livro fala, traz também questões pessoais embutidas. A própria capa traz o raio-x de uma fratura sofrida pelo próprio autor após um acidente. “Sempre me perguntam porque meus livros nunca trazem um retrato meu, nem na orelha nem na página de apresentação do autor; então resolvi colocar uma fotografia minha de repente logo na capa, raios-x do autor, nu frontal”, brinca o escritor. “A foto da capa de Minividas remete às quebras e reparos que o organismo humano (e o social, igualmente) experimenta em sua existência, ruptura e reconstrução, quedas e golpes, resistência e sobrevivência”, explica.
Outro aspecto que se pode observar também é que essa é a primeira obra escrita por Cazé morando em Vitória, onde chegou há nove anos, ou seja, desde a virada da década. Também é publicado pela editora capixaba Cousa. “Alguma coisa da paisagem litorânea do Espírito Santo é evocada em Minividas, mas seu olhar também percorre Salvador, Petrolina e Vitória. Apesar disso, nos meus poemas a cidade é uma presença abstratizada”, afirma. Considera que na nova obra segue válida a afirmação do crítico norte-americano Malcolm McNee em O imaginário ambiental na poesia e na arte do Brasil: “O ambiente poético de Cazé conjuga a existência primordial em escala microscópica e cósmica”.
Wladmir diz que não pode considerar que Minividas faça parte de uma trilogia com as outras obras, pois se trata de uma série em aberto, na qual outros livros ainda podem aparecer no futuro. “Em comum, são todos livros cheios de regras escriturais que me obrigo a seguir. Nos dois primeiros, uma das regras mais importantes era jamais usar certas palavras. Em Minividas, essa regra específica não existe, mas existem outras, como a presença de algum tipo de forma fixa, por exemplo no número de versos dos poemas”.
Na nova obra, Cazé revela a preocupação com a oralidade dos versos e como soarão ao serem lidos em voz alta, algo desconsiderado nas obras anteriores em que se preocupou mais com a visualidade do poema na página.
Minividas já estreou com uma prova de fogo, pois seus poemas foram apresentados pela primeira vez no Uruguai durante o 4º Mundial Poético de Montevidéu, um festival que aconteceu em novembro reunindo poetas do Chile, Peru, Argentina, Estados Unidos, Espanha e Brasil para recitar, discutir e intercambiar poesia em espaços públicos e privados da capital uruguaia.
“Tem muita poesia boa lá, várias editoras atuantes. Havia até alguns brasileiros assistindo às leituras e recitais do Mundial, então fiquei surpreso ao perceber que meus poemas estavam sendo compreendidos fora do país”, conta sobre a experiência.
AGENDA CULTURAL
Lançamento do livro Minividas, de Wladimir Cazé
Quando: Quinta-feira (20/12), às 19h
Onde: Cousa Bar Café – Rua Sete de Setembro, 415, Centro de Vitória/ES
O livro estará à venda por R$ 30.