Raiar da Liberdade, realizada desde 1888 em Monte Alegre, sul do Estado, terá formato reduzido este ano
Bate Flecha, Folia de Reis, Charola de São Sebastião, Quadrilha, Capoeira, Caxambu e Jongo. Quem participa do Raiar da Liberdade na comunidade quilombola de Monte Alegre, em Cachoeiro do Itapemirim, sul do Estado, fica encantado com a diversidade de manifestações culturais. Entretanto, este ano será diferente. Sem recursos dos Editais 2021 da Secretaria Estadual de Cultura (Secult), a festa contará somente com o Caxambu Santa Cruz, da própria comunidade.
A festividade, realizada desde 1888 no dia 13 de maio, data da abolição da escravatura, tradicionalmente conta com a distribuição gratuita de feijoada para cerca de 1 mil pessoas, quantidade que, segundo o membro da Associação de Salvaguarda do Patrimônio Imaterial Cachoeirense, Genildo Coelho, este ano será reduzida para cerca de 80.
Os editais de 2021 da Secult foram abertos somente no final do ano, com inscrições até meados de janeiro de 2022, havendo, depois, prorrogação até dois de fevereiro. De acordo com os novos prazos, o resultado deveria ter sido divulgado em 22 de abril deste ano, o que não aconteceu. O atraso na publicação do edital bem como de seu cronograma impossibilitaram a obtenção do recurso para a festa do próximo 13 de maio.
Ele narra que, em 13 de maio de 1888, a notícia da abolição foi recebida via telégrafo, comunicada pelos fazendeiros aos escravos, que no mesmo dia foram para a praça da cidade, onde começaram a fazer seus batuques em frente à Câmara Municipal. O presidente da Casa de Leis tentou se apropriar da comemoração, tirar o protagonismo dos negros, distribuindo comida e bebida. Dias depois, sem emprego, comida, moradia e outros direitos, os negros voltaram para as fazendas, permanecendo no regime de escravidão.
A festa, então, passou a ser comemorada anualmente nas comunidades da região, mas hoje acontece somente em Monte Alegre e Vargem Alegre, também em Cachoeiro. Nesta última será no sábado (7), com início às 16h30, com missa afro; seguida da abertura oficial e da apresentação de grupos de Caxambu, Capoeira, Bate Flechas e Folia de Reis. A de Monte Alegre no dia 13 de maio, a partir das 18h.
Além de ativista, Maria Laurinda é mestra de Caxambu, parteira, coveira e líder espiritual. Ela recebeu em 2008 o título de “Patrimônio Cultural do Brasil”, do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Sua história também foi eternizada no documentário Todas as faces de Maria, em 2011.