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Preta Root???s e a movimentação de ‘guerrilha’ no movimento hip hop

 
Indignação, medida de proteção não adianta. Antes de matar ele te espanca. Na roupa vermelha a mancha. É só uma discussão de casal, ninguém mete a colher e é mais um crime passional. 
(Violência, Preta Root's)
 
“Comecei a escrever o som de Violência assistindo ao jornal na TV, numa semana terrível com muitas mortes de mulheres sendo noticiadas. Daí pensei, 'vou escrever sobre isso!'. E tem coisas que a gente escreve que é vivência mesmo, como a música Trabalhador Brasileiro, que fala sobre pegar o ônibus lotado todos os dias. Não só a minha história de vida, mas a da Pdrita e de minha mãe são coisas que me inspiram a escrever”, detalha Rayssa, uma das integrante do projeto de rap Preta Root's, e quem escreve as letras.
 
Já são oito anos de Preta Root's, entre tempos difíceis e momentos de maior receptividade do trabalho de rap que realizam no Estado. Nesse tempo Rayssa terminou os estudos e enveredou-se para a área administrativa hospitalar – trabalha de segunda a sexta-feira; o sábado é reservado para um curso técnico de enfermagem; e ainda acha tempo para ser passista da Unidos de Jucutuquara. 
 
PDrita dedica-se às tranças e trabalha de segunda a sexta na loja Espaço Hip Hop, que fica na Escadaria do Rosário, no Centro. As duas formam o Preta Roots, um dos únicos grupo de rap do Estado formado por mulheres. O primeiro grupo de rap com duas mulheres a lançar um videoclipe e participar de um documentário sobre a mulher e o hip hop no Estado – juntamente com o Melanina MC’s.
 
“A gente tem ciência de que temos influência sobre as meninas, elas olham e admiram, têm vontade de querer entrar na cena também. Nessa semana mesmo uma menina veio me procurar falando que começou a escrever e queria mostrar as músicas dela para mim”, conta PDrita. As duas, recentemente, participaram do programa de rádio Vice Verso e lá interagiram com crianças do projeto Rádio Escola no Ar, que admiradas em vê-las perguntaram sobre o visual de ambas, as músicas, entre outras simples curiosidades que revelaram a importância da representatividade que a dupla exerce. Aliás, é comum encontrar o Preta Root’s  em apresentações nas escolas públicas e também no interior do Estado, onde muitas pessoas e crianças se impressionam com o impacto visual e musical da dupla.
 
 
Contudo, viver só de rap ainda não é uma realidade para Rayssa e PDrita – que como explicaram, dividem-se entre outras “mil ocupações” e deveres diários. Rayssa diz que poderia fazer um trabalho de mais qualidade se pudesse dedicar mais tempo ao rap. “Quando a gente começou, eu só estudava, então havia aquele tempo de ócio criativo, de parar e pensar sobre nossas músicas. Nessa época eu não tinha tantos problemas para resolver, tinha só 16 anos e não esquentava muito a cabeça. Agora eu tenho que pensar no meu trabalho, tenho que estudar para concurso, tenho que ajudar minha mãe em casa, tenho que dar atenção à minha família…”, enumera.
 
E mesmo nessa divisão toda entre a música e os afazeres do dia a dia, o Preta Root’s só vem crescendo. Neste ano o reconhecimento foi notório. “Hoje em dia a gente consegue ganhar um cachê e até tocar fora. Mas é um complemento, não é uma parada que você consegue sobreviver só dela ainda. O que a gente vê é que está acontecendo o reconhecimento do nosso trampo. E ficamos muito felizes”, acrescenta PDrita. Isso porque neste ano elas tiveram a oportunidade de tocar em São Paulo e Rio de Janeiro, lançaram o videoclipe do single Desce a Favela (abaixo); já gravaram o segundo clipe, da música Violência; foram convidadas para um projeto de vídeo sobre a música Trabalhador Brasileiro; participaram do documentário Irmã de Cena; e em meados de março de 2016 irão lançar o primeiro álbum oficial, com cerca de 10 faixas, entre músicas de trabalho e inéditas. 
 
 
Quem não teve a oportunidade de conhecer o trabalho das meninas, o Preta Root's se apresenta neste sábado (5) no Encontro das Pretas, no Clube de Pesca, em Santo Antônio, Vitória, no Baile Clack Boom, onde irão dividir a noite com duas convidadas de fora, a MC paulista Tássia Reis e a blogueira de moda Magá Moura, que apresentará set list. PDrita e Rayssa farão show com as músicas de trabalho e alguma inédita. Elas terão ainda a companhia do DJ Jhony, que tem acompanhado o processo de gravação do CD do projeto, junto com o DJ Criolo. 
 

 
“Tudo o que fazemos é a partir de parcerias. Nosso primeiro vídeoclipe foi produzido pela MDR Audiovisual. Os meninos são nossos amigos e nos apoiaram em tudo, nos ouvindo e respeitando nossas opiniões. A Doggeto fortalece muito a gente no momento também e tem os djs que constroem conosco. Dá para ver que somos cercadas por homens, mas sabemos nos impor e eles respeitam e nos ajudam. Não tivemos muito problema com o machismo porque a gente sabe se impor”, reforça Rayssa sobre a postura que ambas adotaram para conseguir se manter na cena hip hop. Elas contam que outras mc's acabaram deixando o rap por todas as questões de adversidades que surgem diariamente. 
 
Ainda no sábado (5), as MC’S têm a proposta de liberarem na internet o clipe de Violência, gravado recentemente e que segue em processo de finalização. A narrativa do vídeo chega para ser impactante igualmente à letra da música, citada acima. “Foi essa questão da denúncia que abordamos. A gente gravou o cotidiano de um casal, de um pai que é agressivo. Diante das perturbações diárias, chega em casa e agride a mulher. A ideia é apresentar um recorte desse tipo de caso, não tem como explicar uma violência, então resolvemos mostrar mesmo. Esse vai ser um clipe que vai vir bem impactante, bem agressivo”, adianta Rayssa. 
 
O companheirismo entre as duas é evidente, já que foi e ainda é preciso de muito apoio para que ambas consigam levar o projeto. No momento apertam seus horários para fazerem as gravações das músicas do CD que está por vir, além das apresentações que cresceram neste ano. 
 
 
Serviço
 
O show de Preta Root’s no Baile Clack Boom das Pretas será realizado no sábado (5), a partir das 20h30, no Clube de Pesca de Vitória – avenida Dário Lourenço de Souza, 1345, Santo Antônio, Vitória. A entrada custa R$10,00 (antecipado) e R$15,00 (na hora). 

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