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Projeto funde música contemporânea com coral ancestral Guarani

Com vozes gravadas em aldeia de Aracruz, disco ‘Originários do Agora’ é lançado nas plataformas digitais
Mavi Morais

Os corais são uma forte tradição da cultura Guarani, um dos povos originários mais populosos do Brasil, que habita, entre outros estados o Espírito Santo. A aldeia de Piraquê-Açu, em Aracruz, norte do Estado, foi local de um encontro que ressoa agora em novas sonoridades. 

Do encontro do percussionista e produtor musical Luccas Martins com Coral Kuara’y Retxakã, surgiu o projeto Originários do Agora, que se apresenta como “Música Ancestral Contemporânea”. A partir desta terça-feira (19), o público pode ter ter acesso em diversas plataformas digitais de música ao resultado do encontro musical.

Com um longo trabalho com o handpan, considerado um dos mais novos instrumentos musicais criados pela humanidade, Luccas produziu a obra a partir de um diálogo com o cacique Pedro (Karaí Peru), após uma visita a Aracruz.

As vozes da comunidade, incluindo cantos tradicionais Guarani e explicações sobre as canções, foram gravadas na Opy, a chamada casa de reza, importante local para a transmissão dos conhecimentos, modo de vida e visão de mundo deste povo, seja pela oralidade, seja pelos próprios cantos tradicionais, todos feitos em língua guarani.

O resultado da obra é uma interessante fusão, em que aos cantos do coral, o maracá, chocalho tradicional, os ruídos da natureza e outras sonoridades indígenas se somam ao hipnótico som metálico e transcendental do hanpan e a instrumentos de concerto como violoncelos, fagote e trompete e até elementos da música eletrônica.

“Na aldeia há uma noção profunda de ancestralidade, mas precisamos entender que eles estão no Século XXI, junto com a gente não-indígena, lidam com o mundo contemporâneo e tem questões que precisam ser resolvidas”, observa o músico. Para além de registrar tradições mantidas pelos Guarani, a obra busca ser contemporânea, contribuindo para quebras imagens pré-concebidas sobre este povo e outros grupos indígenas do país.

Cacique Karaí Peru (centro) com o maracá, e Luccas Martins com o handpan. Foto: Giulyanna Cipriano

São sete canções que totalizam quase 30 minutos de disco, lançado pela Lôa Discos, com apoio do edital de Diversidade Cultural Capixaba da Secretaria de Estado da Cultura do Espírito Santo (Secult-ES).

“O disco em si é um pontapé inicial para trabalhar toda questão dos povos originários neste momento em que a gente passa e eles estão sendo caçados, perseguidos. Com o disco queremos ajudar a alavancar espaço deles nesse cenário musical, para a partir daí dar voz para falar de questões deles”, diz o produtor.

Encontro de musicalidades

Nascido no estado de São Paulo, Luccas Martins vive no Espírito Santo desde 2018. Nos últimos anos, vem se dedicando a promover o diálogo do handpan com a música brasileira. Por isso, em passeio com sua companheira e produtora, a capixaba Giulyanna Cipriano, visitou a Tekoá Mirim, também conhecida como Aldeia Temátika, às margens do Rio Piraquê-Açu, dentro da aldeia que tem o mesmo nome do rio, onde os Guarani desenvolvem um projeto de etnoturismo com diversas atrações.

As participações do Coral Kuara’y Retxakã foram gravadas dentro da Opy, a casa de reza. Foto: Giulyanna Cipriano

Na segunda visita, de volta ao local, ele resolveu levar seu handpan, quando começou a interagir com os moradores da região. Com os diálogos, o que era uma brincadeira musical acabou virando um projeto de fato.

Além de lançado gratuitamente pelas plataformas digitais de música, a obra também será vendida em CD na própria aldeia, como forma de contribuir com a geração de renda junto com a comercialização de artesanato e outros produtos locais, informa o produtor.

A capa do disco foi feito pela artista visual Mavi Morais, da etnia Kariri-Sapuyá, por meio de uma colagem digital que relaciona questões ligadas aos povos indígenas e suas narrativas, espiritualidade, memórias, identidades e lutas. A identidade visual teve conceito desenvolvido pela fotógrafa Giulyana Cipriano a partir de imagens que fazem parte do cotidiano da aldeia.

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