Não existe lugar errado para ouvir música, com fones de ouvido, qualquer lugar pode ser ideal e os barulhos da cidade não atrapalham. Sem se preocupar com essas possíveis intervenções externas, dois produtores audiovisuais estão levando os músicos para a rua e registrando essas pequenas performances. Assim surgiu o projeto Sonzêra, com vídeos que dão voz, rosto e movimento ao vasto repertório cultural que é produzido em terras capixabas.
A ideia do projeto, que começou com o trio Antonio Cezar Martins, Fabricio Zucoloto e Gisela Garcia, é ir além da composição e do estilo musical e mostrar um pouco da personalidade do artista. Por isso, os locais são sempre pensados para serem inusitados, deixando todos os ruídos externos virarem parte da música, quase que como um personagem coadjuvante.
“O diferencial do projeto Sonzêra é a locação interferindo na música, um barulho de um carro, o ruído da água correndo, um passarinho. O que a princípio poderia atrapalhar a gravação, se transforma em um elemento a mais que faz parte da estética do projeto”, explica Antonio Cezar. Tudo começou em uma viagem de trabalho ao Caparaó, quando os amigos que trabalham com televisão conversavam sobre música, e surgiu a ideia de gravar com o músico Lucas Arruda, que estava próximo do local.
Durante uma viagem, o grupo passou por Pedra Menina e resolveu gravar com a banda Retrô. No caminho encontram com Aroldo Sampaio e com o grupo Farinhada e fizeram mais dois vídeos. “Sem planejar nada, voltamos da viagem com quatro vídeos e começamos o canal no youtube postando um vídeo toda a segunda-feira”, conta Antonio. A escolha dos músicos começou com essa série de coincidências, mas o projeto, que chega ao seu 12º vídeo nesta segunda-feira (16), já está recebendo material de diversos artistas.
Hoje a equipe esta reduzida a apenas Fabrício e Antonio. “Estamos produzindo mais devagar agora para dar conta de tantos talentos que estão nos aparecendo. Precisamos administrar o nosso tempo livre com os nossos empregos”, diz Fabrício. Além disso, a produção também é bem trabalhosa, já que é necessário escolher uma locação que combine com o artista e com a música que ele irá tocar.
“Nós fazemos uma pesquisa com os músicos e perguntamos sobre a música que ele vai gravar e pensamos na locação e nas interferências que encaixam melhor”, explica Fabrício. Ele também conta que gravar na rua é sempre inusitado, porque aparecem os mais diversos barulhos, que são indesejáveis, como serra elétrica, liquidificador, casal brigando, caminhão e carro do gás.
“O engraçado é que antes de começarmos a gravar, o local estão na maior tranquilidade, silêncio total, quando apertamos o rec, parece que o mundo vai acabar”, ri Antonio.
O resultado de tanto trabalho e dedicação é um vídeo espontâneo que acaba resignificando locais pouco valorizados na cidade. “Nós mudamos o nosso olhar sobre a cidade, às vezes, um lugar que passamos todo dia, de repente, se olharmos com mais atenção, percebemos que pode ser uma locação”, diz Fabrício. Antonio complementa dizendo que a ideia do projeto é exatamente essa, música boa no lugar certo, e o lugar certo pode ser qualquer lugar.
O músico Fabrício Oliveira é um dos artistas apresentados pelo projeto Sonzêra. Ele apresenta a música O Poder do Machado de Xangô, no Morro do Moreno, onde o barulho da água batendo nas pedras combinou muito bem com a canção. “Ele tocou a música para mim e eu já imaginei que a gravação teria que ser em um lugar com natureza, e propus o Morro do Moreno. Ele, com aquela simplicidade, aceitou na hora”, conta Fabrício.
Andre Prando também participou do projeto com a música Alto Lá. A locação foi uma casa abandonada em Jucutuquara, próximo de uma árvore com muitas raízes. “O interessante é que gravamos três músicas com ele, mas acabamos atrasando a postagem, e ele pediu para fazer de novo com uma musica inédita. Foi um grande presente para nós”, declara Antonio.
O vídeo mais recente é o Juliano Rabujah, que cantou a música com uma guitarra dentre de uma piscina. “Foi um dos mais demorados. A ideia foi dele e a gente embarcou junto”, diz Fabrício. O diretor também conta que o músico ficou cerca de três horas boiando dentro da piscina, até que o vídeo saísse do jeito que queria, sem nenhum barulho externo indesejado ou o sol atrapalhando.
O projeto Sonzêra é totalmente independente, “fazemos tudo com muito carinho e por amor, assim como todo músico que ainda não alcançou o sucesso e não consegue viver da sua arte”, diz Fabricio. O registro audiovisual é muito importante para dar sobrevida aos artistas que estão começando, além de montar um registro e contribuir na divulgação desses novos trabalhos. “Estamos percebendo visualizações de outros locais que estão começando a prestar atenção no que estamos produzindo aqui no Espírito Santo”, completa Antonio.
A dupla conta que ideia é encontrar uma forma de financiar o Sonzêra para que o projeto não acabe. Por enquanto, eles buscam um patrocínio para tornar a iniciativa mais profissional e cobrir possíveis custos com equipamento e a manutenção deles. Os músicos interessados podem enviar email para [email protected] ou seguir a página no Facebook. O próximo vídeo que será lançado pelo canal no youtube, nesta segunda-feira (16) ,é o Benedito Party, de Zeff Matielli.