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Projeto Territórios Sagrados mapeia casas de Umbanda e Candomblé de Cachoeiro

Iniciativa disponibiliza em site textos e imagens sobre religiões de matriz africana no município

As religiões de matriz africana de Cachoeiro de Itapemirim, sul do Estado, foram mapeadas por meio do Projeto Territórios Sagrados, que dá visibilidade, por meio de um site, a 14 casas de Umbanda e Candomblé. O objetivo dessa iniciativa é contribuir com a redução do racismo religioso e tirar esses espaços do “ostracismo social”, conforme afirma Thatiane Cardoso, proponente do projeto, que conta também com outras seis mulheres na equipe.

Natassya Carvalho

Territórios Sagrados foi desenvolvido por meio do edital 11/2020 da Secretaria Estadual de Cultura (Secult), por meio do Fundo Nacional de Cultura (Funcultura). Um dos fatores que explicam a necessidade de contribuir para o combate ao racismo, explica Thatiane, é o fato de a parte cultural das religiões de matriz africana ser muito “descredibilizada”.

“Muitos enxergam somente o lado religioso, e não a parte cultural. Religião e cultura não se dissociam. A gente quer tirar essas religiões do ostracismo social e contribuir para a redução do preconceito, pois a ignorância é o maior impulsionador do preconceito”, diz Thatiane, que é candomblecista, única do grupo que pertence a uma religião de matriz africana.

Natassya Carvalho

A proponente do projeto afirma que essas crenças têm uma cultura “muito bonita e importante”. “A sabedoria desses zeladores, dessa yalorixás, desses babalorixás, transcende o tempo. A religião trabalha, crê, cultua, ama a ancestralidade. Conhecimentos são passados de geração em geração, conhecimentos ritualísticos, medicinais, doutrinários”, diz.

No que diz respeito à receptividade das casas, o acesso a elas para desenvolver o projeto não foi difícil. “As pessoas abriram suas casas, suas vidas, permitiram que pisássemos no território sagrado deles com humildade, maestria, caridade, desejo de ensinar. A gente foi despida de preconceito, sedentas de conhecimento e fomos preenchidas com muita sabedoria, carinho e afeto”, diz Thatiane.

Natassya Carvalho

Entretanto, a questão dos recursos financeiros impossibilitou que se chegasse a um número maior de casas. A gasolina, por exemplo, aumentou muito, dificultando chegar a todos. “Mas um passo foi dado, tanto de trazer visibilidade quanto de tirar da margem essa cultura”, comemora Thatiane. Algumas casas famosas na região, como as de Maria Laurinda Adão, mestra de Caxambu da comunidade quilombola de Monte Alegre, e da mestra de bate-flechas Terezinha de Jesus, do bairro Zumbi, não constam no site do projeto.

Thatiane explica que essas duas, assim como outras mestras e mestres do município, foram contempladas na João Inácio, uma lei municipal que reconhece mestres da cultura popular como patrimônio vivo e concede a eles, anualmente, o valor de cerca de R$ 5 mil para que possam dar prosseguimento às atividades culturais, repassando-as para novas gerações. Esse fato, segundo Thatiane, foi levado em consideração na escolha das casas a serem visitadas, uma vez que o projeto priorizou locais que não têm visibilidade. Entretanto, o projeto está aberto a inserir as casas de maior visibilidade no site caso elas queiram enviar as informações. 

Natassya Carvalho

Vila Velha e Cariacica

Vila Velha, na Grande Vitória, está prestes a fazer um mapeamento das casas de religião de matriz africana na cidade. O município está em fase de seleção de uma das quatro Organizações da Sociedade Civil (OSC) que se inscreveram no chamamento público 02/2022 para executar essa tarefa por meio do projeto “Sagrada Ancestralidade”. Estima-se que existam, em Vila Velha, mais de 300 casas de religiões de matriz africana.
O trabalho deverá “resultar em produto cultural (inventário ou catálogo, em formato impresso e mídia digital ou e-book, etc.), com a finalidade de posterior reconhecimento como Patrimônio Material e Imaterial, por meio de tombamento dos terreiros, a ser inscrito no Livro do Tombamento dos Bens Imóveis e Sítios, e registro dos ofícios relativos aos cultos, a ser inscrito no Livro do Registro Especial dos Saberes e Modo de Fazer do município, em observância aos incisos I e III, respectivamente, do Artigo 12 da Lei Municipal nº 5.636/2015”.
O município de Cariacica, por meio da Gerência de Igualdade Racial, fez um trabalho semelhante. Por meio de um mapeamento, constatou-se que a cidade conta com, pelo menos, 10,9 mil pessoas pertencentes a alguma comunidade tradicional. Os dados, que consideram ciganos, povos de matrizes africanas, pescadores e marisqueiros, são resultado de um mapeamento realizado por mais de um ano na cidade.
Elaine Dal Gobbo

O estudo, pioneiro no Espírito Santo, descortina a ausência de políticas públicas nas comunidades e pode nortear ações governamentais que amenizem o contexto de marginalização e apagamento dessas culturas em território capixaba. O “Mapeamento dos Povos e Comunidades Tradicionais do Município de Cariacica” foi um trabalho colaborativo, que envolveu pesquisadores do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros da Universidade Federal do Espírito Santo (Neab-Ufes), representantes de movimentos sociais e lideranças do município.

“O interesse de mapear essas comunidades nasceu a partir, primeiramente, do desejo dos próprios membros tradicionais do município em sair do ostracismo mediante a visibilização de suas tradições e o reconhecimento de sua cultura ancestral como um dos componentes no processo de constituição da sociedade cariaciquense atual”, explica o pesquisador e mestre em Ciências Políticas Iljorvanio Silva Ribeiro, um dos responsáveis pela parte técnica da pesquisa.

O estudo foi realizado de 23 de janeiro de 2020 a 26 de março de 2021. Dentre a população estimada de 10,9 mil pessoas em comunidades tradicionais, 9,7 mil são de povos de matrizes africanas, 1,18 mil de pescadores e marisqueiros, enquanto 70 pertencem a comunidades de ciganos.
Aruanda
Em Vitória, o levantamento das casas de religiões de matriz africana foi feito em 2018 pelos fotógrafos Carlos Antolini e Elizabeth Nader. O trabalho resultou no livro “Aruanda: religiões afrodescendentes em Vitória”. A obra, distribuída em 144 páginas, traz 118 imagens de 15 centros de Umbanda e Candomblé de Vitória. Pode ser adquirida com Elizabeth pelo número (27) 99955.2872. O projeto foi possível por meio da Lei Municipal de Incentivo à Cultura de Vitória, Rubem Braga.
Cada um dos 15 capítulos é aberto com uma fotografia em preto e branco e, em seguida, o ponto de localização de cada centro e informações como horários e fundação, além de um espaço no qual os dirigentes dos centros pudessem expor a sua motivação. “Tivemos a autorização nos planos terrestre e espiritual para o desenvolvimento do trabalho. Em cada centro, tivemos a aprovação das entidades”, ressaltou Antolini.


Vila Velha vai mapear casas de religiões de matriz africana

Manoel Goes Neto, subsecretário de Cultura, explica que mapeamento possibilitará formulação de políticas públicas


https://www.seculodiario.com.br/cidades/vila-velha-ira-fazer-mapeamento-de-casas-de-religioes-de-matriz-africana

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