Historiadora Lavínia Coutinho Cardoso resgata em livro a história e importância de Queimado
A revolta de Queimado é o mais importante evento pela libertação dos negros escravizados da história do Espírito Santo. A afirmação é da historiadora Lavínia Coutinho Cardoso, sendo uma das conclusões de sua dissertação de mestrado do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), que agora foi publicada por meio do livro Revolta do Queimado: Negritude, Política e Liberdade no Espírito Santo, da editora Appris.
Lavínia destaca que ocorreram outras revoltas no Estado, como as lideradas por Zacimba Gaba, no norte, mas sobre essa negra escravizada, princesa da nação Cabinda, em Angola, não há documentos históricos, somente história oral. Em sua dissertação, a historiadora estudou o processo de busca pela libertação dos negros de Queimado, que não começou, segundo ela, com a suposta negativa de um padre em alforriar os escravizados que trabalharam na construção de uma igreja na região.
Lavínia destaca que o livro escrito pelo ex-governador do Espírito Santo, Afonso Claudio, sobre Queimado, fez com que a insurreição permanecesse enquanto memória, mas que por meio de seu estudo é a primeira vez que uma pessoa negra publica sobre Queimado. “O livro de Afonso Claudio se limita à suposta promessa de alforria por parte do padre, não trata da engenhosidade das ideias dos negros em busca de libertação”, diz Lavínia.
Ruínas Restauradas
A restauração das ruínas da igreja de São José do Queimado foi inaugurada em 17 de agosto depois de um processo de 22 anos de luta do movimento negro por meio do Fórum Chico Prego. A previsão era de uma grande jornada de inauguração culminando no dia 19 de março, data que vem sendo celebrada nas últimas décadas com uma caminhada noturna de Serra Sede até o local e a realização de um ato inter-religioso e atividades culturais. A programação estava pronta, mas dias antes veio o início do período de isolamento em decorrência da pandemia do coronavírus, levando ao adiamento das atividades.
A nova data escolhida, 17 de agosto, é Dia do Patrimônio Histórico. O processo foi feito de forma simbólica, com a realização da caminhada, que tinha 400 inscritos em março, sendo realizada por um grupo de 15 pessoas. Na inauguração, a sociedade civil foi representada por oito integrantes, de Serra, Vitória, Cariacica e Vila Velha, num total de 25 pessoas presentes no ato, incluindo o prefeito Audifax Barcelos (Rede)
Na ocasião, Madalena Maria Teles Correia, coordenadora do Fórum Chico Prego, comemorou a entrega de Queimado, embora lamentando que a inauguração simbólica não pôde contar com a participação de muitas pessoas importantes no processo, já que o momento pedia mobilizações limitadas. “O resultado superou nossas expectativas. Eram ruínas que literalmente podiam vir abaixo, não podíamos entrar e realizávamos atividades do lado de fora. Agora está tudo limpo e estruturado”, aponta.
Prefeitura da Serra inaugura ruínas de Queimado restauradas
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