Aberto no último mês de junho, o “Cine Gruta” entranha no Parque Gruta da Onça, no Centro de Vitória, como forma de movimentar o Centro que não dispõe de salas de cinema com programação regular. A iniciativa surgiu dos próprios moradores dos arredores do parque, que idealizaram o projeto e, até então, realizam quinzenalmente sessões com filmes que intitulam “cavernosos”.
Filipe Borba, artista plástico e um dos idealizadores do “Cine Gruta”, falou sobre a iniciativa. “A ideia nasce dessa vontade de movimentar um pouco o local, aproveitando o espaço de que dispomos. As sessões são realizadas em uma casa na escadaria da rua Cristóvão Colombo, no Parque Gruta da Onça e, por lá, já tem um estúdio de música, então existe certa movimentação que, agora, conta com as atividades do 'Cine Gruta'”.
Por lá já foram realizadas duas sessões, uma com o filme “A montanha sagrada”, de 1973, do diretor Alejandro Jodorowsky; e outra exibição com a obra “Planeta selvagem”, também de 1973, de René Laloux. Agora a sessão será com o clássico nacional “Deus e o Diabo na Terra do Sol”, de Glauber Rocha, de 1964, que será exibo neste sábado (25), às 19h, com entrada livre.
Sobre a escolha dos filmes, Borba explicou que essa proposta de destacar “filmes cavernosos” surgiu de uma brincadeira que faz analogia ao próprio Parque Gruta da Onça. Na divulgação, o “Cine Gruta” é apresentado como um espaço que evidencia obras de narrativas e temáticas pouco convencionais, filmes feitos muito menos para entreter e mais para provocar e incomodar o espectador.
Com essa viés, o “Cine Gruta” tem atraído uma participação intensa, de acordo com Filipe Borba. A casa, que comporta cerca de 40 pessoas, tem ficado cheia. “Além das pessoas que moram no próprio Centro, e que são convidadas por nós, estamos recebendo pessoas que gostam muito de cinema e vêm de outros locais. Não sabemos se conseguiremos manter as sessões de 15 em 15 dias, mas por enquanto estão acontecendo assim e ficam muito bem frequentadas”, contou.
Durante as duas sessões que o cineclube realizou, não foram programadas ainda discussões com convidados ao final das exibições. “As discussões acontecem livremente nas conversas que temos após a exibição dos filmes”, acrescentou Borba. Ele também frisou que o objetivo é fazer sim com que o “Cine Gruta” programe discussões com realizadores, produtores e faça também maratonas de filmes e eventos ligados à atividade cineclubista.
Deus e o Diabo na Terra do Sol
Segundo longa-metragem do cineasta baiano de Glauber Rocha, o filme é um marco do cinema novo e considerado um clássico do cinema brasileiro. “Deus e o Diabo na Terra do Sol”, traz em seu roteiro uma síntese de acontecimentos e personagens históricos reais, como o cangaço, o coronelismo e o beatismo nordestinos, colocando o sertão da Bahia como cenário.
O filme narra a saga do vaqueiro Manuel, personagem que se rebela contra o coronel Moraes e acaba matando-o numa briga. Ele passa a ser perseguido por jagunços, o que faz com que fuja com sua esposa, Rosa. O casal decide, então, juntar-se a um grupo religioso liderado pelo beato Sebastião que lutava contra os grandes latifundiários e prometia o fim do sofrimento através do retorno a um catolicismo místico e ritual. Paralelamente, os latifundiários e a Igreja Católica contratam o matador de aluguel, Antônio das Mortes, para perseguir e matar o grupo do beato.
Lançado poucas semanas antes da golpe que desencadeou na ditadura militar brasileira, “Deus e o Diabo na Terra do Sol” não chegou a sofrer cortes pela censura, tendo sua classificação indicativa limitada a 18 anos, e foi indicado á “Palma de Ouro do Festival de Cannes” daquele mesmo ano.
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Serviço
O “Cine Gruta” realiza a exibição do filme “Deus e o Diabo na Terra do Sol”, de Glauber Rocha, neste sábado (25), às 19h, na Escadaria Cristóvão Colombo, Casa 10 – Parque Gruta da Onça, Centro de Vitória. A entrada é livre.