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Renata Bomfim vai tomar posse na Academia Espírito-Santense de Letras

Na Coluna CulturArte: posse de Renata Bomfim nesta terça-feira; projeto MC.Mulheres 2023; e Raiar da Liberdade

A escritora Renata Bomfim toma posse na Academia Espírito-Santense de Letras (AEL) nesta terça-feira (21). A solenidade será às 19h, no Centro Cultural Triplex Vermelho, Centro de Vitória. Renata já publicou quatro livros de poesia: Mina, lançado em 2010; Arcano Dezenove (2012), Colóquio das Árvores (2015) e O Coração da Medusa (2021). Um novo livro, A Revolução dos Colibris, está no prelo.

Divulgação

A escolha do local da solenidade, explica a escritora, foi por ser em frente à Praça Costa Pereira, espaço que homenageia José Fernandes da Costa Pereira Júnior, patrono da cadeira nº 7, a qual irá ocupar. Outra motivação foi o fato de o Centro Cultural ser um lugar acessível, o que faz da opção feita por Renata Bonfim algo muito significativo no mundo das Academias de Letras no Espírito Santo.

As Academias cumprem um importante papel de incentivo à leitura e à formação de escritores, mas por vezes isso esbarra em um certo elitismo e necessidade de mostrar erudição. Quebrar a tradição de se fazer solenidades de posse em espaços de pouco acesso da população pode estimular outras pessoas, futuros acadêmicos, a fazer o mesmo, e possibilitar a participação de pessoas que nem ao menos sabem o que é uma Academia de Letras ou nunca tiveram oportunidade de conhecer e dialogar com um escritor.

Algumas Academias até buscam esse intercâmbio com públicos diversos, entre eles, comunidades periféricas, por meio de eventos como saraus e feiras literárias. Entretanto, uma de suas práticas é estar nessas atividades com o tradicional fardão, que todo imortal de qualquer Academia de Letras tem. Normalmente bastante pomposa, a indumentária deveria ser utilizada somente em momentos solenes.
Ao ir para um evento em uma comunidade periférica, com um fardão, o escritor acaba criando, mesmo que não seja sua intenção, um distanciamento, uma diferenciação em relação aos moradores daquela região, que possivelmente não conseguirão ver aquela pessoa como “gente como a gente”.

Corre-se, então, o risco de fortalecer a ideia que muitos têm de que a arte da escrita é para poucos, um grupo muito seleto, que normalmente é formado por homens brancos heterossexuais, com um certo grau de instrução. E, é claro, defensores da gramática normativa, excluindo qualquer um que não tenha tido acesso aos bancos escolares e não domine regras de concordância e regência nominal, verbal e o escambau, mas escreve textos completamente compreensíveis, que despertam os mais diversos sentimentos e reflexões.
Foi justamente esse pensamento excludente que fez com que nomes como o do poeta e repentista cearense Patativa do Assaré, que frequentou a escola somente durante quatro meses, mas teve seus livros traduzidos para diversos idiomas, não tenha sua memória e obra tão difundidas no país. Quando teremos perfis como os de Patativa do Assaré e Carolina Maria de Jesus, a escritora negra da Favela do Canindé, autora de Quarto de Despejo: Diário de Uma Favelada, na Academia Brasileira de Letras, por exemplo?
No Espírito Santo, tivemos a experiência da cronista Carmélia Maria de Souza, mulher negra e boêmia, que, apesar de seu talento literário, foi impossibilitada de ocupar uma vaga na Academia Feminina Espírito-Santense de Letras, que anos depois reconheceu o erro e a colocou como patronesse de uma das cadeiras.
Por falar em Academia Feminina, vale lembrar que Renta Bomfim faz parte dela e na AEL irá ocupar a vaga deixada pela saudosa Jeanne Bilich. A escritora será a 14ª mulher a ingressar na AEL em 103 anos de existência. Isso mesmo, 14ª! Com tantos talentos femininos na literatura capixaba, por que elas não estão nas Academias de Letras? Seria por que a ainda maioria masculina enxerga esse espaço como reservado para eles, assim como acontece nas Casas de Leis e nos postos de trabalho, e priorizam homens na disputa por uma vaga?
Será por que a literatura feita por mulheres não pode ser imortalizada como forma de apagar a memória de escritoras, como foi feito com várias mulheres, de diversos setores, ao longo da história? Quem sabe, também, por que na injusta divisão sexual do trabalho as mulheres têm dupla, tripla, ou até mesmo quádrupla jornada de trabalho e não conseguem ter a mesma disponibilidade de tempo que os homens têm, com sua única e exclusiva jornada? E os negros e negras, porque também não estão nas Academias de Letras?
Cabe aí às Academias pensar na questão da inclusão e uma das possibilidades para isso é implantação do sistema de cotas para mulheres e negros. Havendo mais de uma vaga disponível, por que não? Desconheço alguma que faça isso. Se alguma tomar a iniciativa, muito provavelmente agirá de forma pioneira e deve ser vista como exemplo a ser seguido.

Será que ele vai? 

Ainda sobre a posse de Renata Bomfim, vale lembrar que o Centro Cultural Triplex Vermelho, como bem diz o nome, é “vermelho”. Foi reduto do Movimento Lula Livre quando o presidente estava preso em Curitiba e tem como proposta estar aberto aos movimentos sociais. Será que o vereador bolsonarista e imortal da AEL Leonardo Monjardim (Patri) vai deixar isso de lado e prestigiar a solenidade de posse da colega? Vamos ver!

Mulheres Negras 

Mulheres negras com interesse na área musical, residentes no Espírito Santo ou em todo o Nordeste brasileiro, podem se inscrever até o próximo dia 22 no projeto MC. Mulheres 2023. A iniciativa, idealizada pelo Movimento Cidade e realizada pela ES Brazil, produtora cultural capixaba, oferece 50 vagas gratuitas para um ciclo de formação teórica e prática em música, empreendedorismo e audiovisual. 

Mulheres Negras II 

O público-alvo do MC.Mulheres contempla cantoras, MC’s, rappers, poetas da música e produtoras musicais. Serão priorizadas mães solo, mulheres trans e travestis, pessoas com deficiência e moradoras de região periférica. Para a seleção, será considerada apenas uma etapa: o preenchimento e envio do formulário disponibilizado no site. A lista com as 50 profissionais selecionadas será divulgada nas redes sociais do Movimento Cidade até 5 de abril. 

Raiar da Liberdade 

O dia 13 de maio pode parecer um pouco distante, mas não para os organizadores da tradicional festa Raiar da Liberdade, na comunidade quilombola de Monte Alegre, em Cachoeiro de Itapemirim, sul do Estado. A festa foi selecionada na Lei de Incentivo à Cultura Capixaba (LICC), que permite que agentes culturais recebam patrocínio de empresas contribuintes do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), que podem ter descontos no imposto a ser pago. 

Luan Volpato

Por isso, a Associação de Salvaguarda do Patrimônio Imaterial Cachoeirense está em busca de empresas que possam patrocinar a festividade, que acontece desde 1988. Que tal contribuir para a preservação da nossa cultura, empresariado capixaba?

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