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Revelação da literatura argentina tem livro lançado por editora capixaba

Córdoba, segunda maior província da Argentina, tem se destacado por um movimento cultural e literário intenso nos últimos anos. Um dos expoentes de tudo isso é o escritor Luciano Lamberti, cujo livro de contos O assassino de porcos será lançado no próximo sábado, 24 de março, no Jalapeño – Cocina y Cultura, localizado em Jardim da Penha, Vitória.

Se trata da primeira edição de um livro de Lamberti publicada no Brasil, por meio da Editora Cousa, sediada em Vitória. “Estive vendo a edição e ficou muito bonita. Também estou ansioso”, comentou o escritor por e-mail ao Século Diário.

Tudo começou quando os também escritores Wladimir Cazé e Rafael dos Prazeres, tradutores do livro, entraram em contato com a obra do autor em um curso de mestrado na Universidade Federal do Estado (Ufes), ministrado pela professora Luciana Sastre, da Universidad Nacional de Córdoba, em que abordou o movimento da nova literatura cordobesa. Dali, eles decidiram inscrever um projeto para o programa Sur, do Ministério das Relações Exteriores da Argentina, que foi aprovado. Depois de dois anos de trabalho a quatro mãos, o resultado está disponível para os leitores.

O assassino de porcos é um livro curto que reúne dez contos que trazem em comum o cotidiano de pessoas na Província de Córdoba, centrando-se em personagens “desajustados” na sociedade. “Nesse livro, vejo uma preocupação com o realismo, em contar de histórias sobre pessoas comuns, que poderiam ser pessoas que encontramos na esquina, na faculdade, no hospital. Pessoas que estão buscando viver e ter seu dia a dia, sua sobrevivência”, diz Wladimir. “Muitos contos têm a ver com o fim da juventude, personagens que estão iniciando a vida adulta e ainda não se encaixaram muito bem na sociedade, não arranjaram emprego, não se sentem mais à vontade com a família”, complementa.

Um jovem que sai de casa e decide virar mochileiro, uma pessoa que vai de uma cidade a outra encontrar um irmão que não sabia que tinha, uma senhora que viaja a outro município para encontrar um homem misterioso com quem se correspondia por cartas, são algumas das histórias presentes. O trajeto cidade-campo, os deslocamentos pela província também são um fato marcante da narrativa, revelando aspectos da cultura, dos hábitos, da música, da culinária e das paisagens de Córdoba, num regionalismo urbano, ágil, contemporâneo, como classifica Wladimir Cazé.

Os kioskos, as empanadas, o cuarteto, tudo explicado e contextualizado com cuidado pelos tradutores em notas adicionais. “Não sei o que se entenderá em outra parte de uma experiência tão argentina como a que está plasmada no livro. Mas então me digo que as experiências vão para além dos países e inclusive do tempo, que todos vivemos as mesmas coisas e que por isso posso entender algo escrito na Idade Média”, reflete o autor do livro.

“O interessante é que tudo isso é dito de maneira leve e recortada como história em quadrinhos ou como um bate-papo na esquina”, analisa Rafael, que compara o uso de um formato de recorte de histórias que se entrelaçam com a narrativa do filme Relato Selvagens, candidato ao Oscar em 2014 “A temperatura das histórias e do modo de contá-las parece ser algo muito forte na produção artística argentina de hoje”.

É importante observar também que a obra dialoga com o momento político e social do país nas últimas décadas. “Afinal, do ponto de vista da escritura argentina de modo geral, e cordobesa de modo específico, Lamberti mantém uma postura política, extremamente crítica e criativa da sua e de outras épocas”, analisa Rafael dos Prazeres. “Nada parece ser esquecido na sua obra. Nem a condição de sempre vigilante contra a opressão do capital, representado pelas relações cotidianas, nem as características formais para certificar a marca do seu tempo. Exemplos disso são as sucessivas referências de banda, de modus vivendi, de postura e de conduta que ele imprime aos seus personagens.”

O próprio Luciano Lamberti confirma o caráter político. “Diferente de meus livros posteriores, é realista, trata de reproduzir os anos 90 na Argentina, anos de terrível liberalismo econômico, e o espaço do interior, os povoados cidades como a que nasci e me criei”. Ele lembra que este foi seu primeiro livro de contos, ainda pensado e redigido depois de haver escrito muita poesia. “Tenho a esperança de que a poesia tenha se infiltrado nele. Foi uma obra muito importante para mim porque me permitiu sentir-me narrador e ter alguma visibilidade em Buenos Aires”. E agora visível (e legível) também no Espírito Santo. E no Brasil.

SERVIÇO

Lançamento de “O assassino de porcos”, de Luciano Lamberti (editora Cousa)

Data: 24 de março, das 18h às 20h

Local: Jalapeño – Cocina y Cultura (Av. Francisco Generoso da Fonseca, 355, Jardim da Penha)

Preço do livro: R$ 35,00  

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