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‘Ruschi: o guardião da floresta’ narra vida e obra do mais ilustre cientista capixaba

Com prefácio do governador Casagrande, livro bilíngue sobre o Patrono da Ecologia no Brasil será lançado nesta terça-feira

Rogério Medeiros

A vida e obra do mais ilustre cientista capixaba, Augusto Ruschi, acabam de ganhar uma edição bilíngue, cujo lançamento virtual acontece nesta terça-feira (19), às 18h30. Ruschi: o guardião da floresta, narra os principais fatos que preencheram a história do filho de imigrantes italianos que se tornou o Patrono da Ecologia no Brasil e o principal responsável pela proteção de boa parte das unidades de conservação existentes hoje no Espírito Santo.

No prefácio, o governador Renato Casagrande afirma que Ruschi “foi bem mais do que um acadêmico” e que “[sua] vida se confunde com a luta em defesa do meio ambiente no Espírito Santo e no Brasil”. Por isso, ressalta, “no momento em que os principais países do mundo buscam estabelecer modelos de desenvolvimento mais sustentáveis e integrados ao meio ambiente, o olhar mais atento sobre o legado de augusto Ruschi ganha relevância especial”.

Coordenado pelo editor Antonio de Pádua Gurgel, o livro passeia entre prêmios, medalhas, condecoração pela Rainha Elizabeth II, rosto estampado na cédula de 500 cruzados novos, reportagens nacionais e internacionais, mobilizações políticas memoráveis em prol das florestas e a pajelança para salvar-lhe do envenenamento por sapos dendrobatas. Apresenta, também, uma síntese da vasta produção científica de Gute, como era chamado em sua Santa Teresa (região serrana), cidade onde nasceu, em 12 de dezembro de 1915, produziu a maior parte de sua obra científica e ambiental, e foi sepultado, em cinco de junho de 1986, Dia Mundial do Meio Ambiente.
“Foi um dos primeiros a denunciar o desmatamento na Amazônia e em outras regiões do Brasil e era movido por uma intensa paixão na defesa do meio ambiente, chegando a armar-se com uma espingarda para defender uma área de preservação onde se pretendia implantar uma fábrica de palmito”, destaca o editor Antonio Gurgel.

O agitador ecológico’

O livro reúne fotografias e trechos de uma entrevista publicada por Rogério Medeiros – fundador do jornal Século Diário – no Jornal do Brasil, sobre a pajelança realizada em janeiro de 1986 no Parque da Cidade, no Rio de Janeiro, em que o pajé Sapaim, dos Camyurá do Alto Xingu, na Amazônia, e o cacique Raoni, dos Txucarramães, se dedicaram a retirar o veneno dos sapos que fragilizava a saúde do cientista há dez anos.

Reprodução

O “defensor intransigente das florestas” estaria com seu fígado “irremediavelmente comprometido”, alertou Rogério Medeiros na reportagem, sensibilizando o país em torno de sua cura, incluindo o então presidente da República, José Sarney.

A entrevista foi reproduzida pela primeira vez em 1995, no livro Ruschi, o agitador ecológico, de Rogério Medeiros, que teve prefácio de Fernando Gabeira e introdução do jornalista Stenka Calado – também fundador de Século e já falecido – que o percebeu como “o repórter de Ruschi”, tamanha a confiança que o cientista depositava no jornalista e amigo.

Ao ser perguntado se sentia traído pela natureza, por ter sido envenenado pelos sapos, Ruschi responde: “Jamais. A floresta me deu tudo e nunca exigiu nada de mim. Eu que fui imprudente com o sapo, e o tempo que me restar de vida vou continuar o mesmo: defendendo a floresta brasileira e brigando por ela, porque sei que também estou defendendo a humanidade”.

Sobre como conseguia produzir sentindo as terríveis dores que o envenenamento e comprometimento do fígado lhe causava, o cientista disse: “quando fico tono pelas dores é que paro de escrever. Quando passa, volto. E, por causa das hemorragias, que me obrigam a dormir menos, é que sobra mais tempo para escrever o que já tenho pesquisado (…). Se a doença permitir mais um ano de vida, eu acabo os trabalhos Macacos do Espírito Santo, Orquídeas do Espírito Santo, que são dois volumes, e Beija-flores do Brasil. Vou deixar naturalmente de concluir outros trabalhos”.

Produção científica e homenagens

Ruschi foi professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e pesquisador do Museu Nacional. Realizou 259 expedições científicas em várias partes do mundo, publicou mais de 450 trabalhos científicos e 22 livros, reunindo informações inéditas sobre diversas espécies, especialmente de beija-flores (Ruschi classificou 80% das espécies brasileiras de colibris) orquídeas e bromélias, além de conhecimentos fundamentais para o controle de pragas agrícolas e para a esquistossomose.
Rogério Medeiros

Também criou instituições científicas importantes, como o Museu de Biologia Professor Mello Leitão – fundado em 1949 na Chácara Anita, onde nasceu e residiu por toda a vida, sendo o primeiro Museu de História Natural do Estado – posteriormente incorporado pelo Instituto Nacional da Mata Atlântica (INMA) de forma repudiada pela viúva e filho caçula, Piero Ruschi, criadores do Memorial Augusto Ruschi –, a Estação de Biologia Marinha Augusto Ruschi e a Fundação Brasileira de Conservação da Natureza.

Ao título de Patrono nacional da ecologia, outras homenagens póstumas incluem a nomeação de unidades de conservação como a Reserva Biológica Augusto Ruschi e o Parque Florestal Augusto Ruschi, em Santa Teresa; a Reserva Ecológica Augusto Ruschi, em São José dos Campos/SP; o Parque Municipal Augusto Ruschi, em Vitória; de instituições como a Estação de Biologia Marinha Augusto Ruschi, em Aracruz; e o Museu Zoobotânico Augusto Ruschi, na Universidade de Passo Fundo (UPF), no Rio Grande do Sul; e de espécies da fauna e da flora, como o rato Abrawayaomys ruschii, a rã Dendropsophus ruschii e a Begonia ruschii; condecorações, como a medalha que a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) concede desde 1996 a cidadãos brasileiros que deram contribuição relevante nas áreas de ecologia e ciências da natureza, além de inúmeras escolas, ruas, avenidas, prédios e praças pelo Brasil afora.

Seus estudos contribuíram ainda para que governo federal reconhecesse, em 2018, Santa Teresa como a primeira cidade fundada por italianos no Brasil. Município, inclusive, que elegeu como seu símbolo o beija-flor Lophornis magnificus, um dos preferidos de Augusto Ruschi.

Divulgação

Ruschi: o guardião da floresta foi viabilizado por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura, tendo apoio do Grupo Autoglass e da Biancogres. A obra é editada em português e inglês. O texto inicial é do jornalista Bartolomeu Boeno de Freitas, tendo também a colaboração de Gabriel Ruschi, neto do biografado, e de Leonardo Merçon, do Instituto Últimos Refúgios.

A live de lançamento será nesta terça, às 18h30, com transmissão pelo canal da Secretaria de Estado da Cultura (Secult) no YouTube.

Mais informações no site www.paduagurgel.com.br ou diretamente com Antonio Gurgel, no e-mail [email protected].

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