Uma carta numa garrafa é uma mensagem para o futuro. Jogada ao mar, poderia ser encontrada ao acaso, décadas depois, por uma pessoa desconhecida, como inúmeros casos já registrados. Em tempos tão carentes de futuro, o que sentiria ao receber um poema enviado dentro de uma garrafa?
A proposta é do cantor e escritor Sandrera, que está lançando o projeto “Poemas Engarrafados”, que começa em meio à pandemia para depois se transformar em show, um motivo de encontros presenciais quando as aglomerações tão comuns ao universo da cultura possam ser novamente possíveis.
A inspiração, entretanto, não vem exatamente das garrafas jogadas ao mar com mensagens, mas de um personagem curioso e obscuro do primeiro romance que Sandera irá lançar, Amorança, no qual o personagem Capitão Cifrão engarrafa os sonhos das pessoas, uma metáfora para as vontades que temos na vida, mas acabamos desistindo por nos vermos obrigados a pensar no lado financeiro.
Serão garrafas com poemas, contos e canções inéditas nas garrafas que vão conter também aromas variados, de canela, café, folhas secas, entre outros. Serão enviados pelos correios a pedido – e com destino certo. “É meu manifesto neste momento em que me sentindo engarrafado dentro de casa, quero dar um final feliz aos meus poemas, interagir com o público”.
A proposta é que quem receber os mimos como presente a si próprio ou vindo de alguém querido, possa responder também por meio das redes sociais, gravando vídeos, lendo os versos e marcando o artista autor dos mesmos.
A ideia é que assim que passar o isolamento, os poemas engarrafados tornem-se um show para apresentações em feiras literárias e saraus, no qual serão apresentados ao público as canções e os poemas de Sandrera. A primeira canção composta pelo artista na quarentena já está pronta para ser gravada e leva o nome do projeto, Poemas Engarrafados.
Os planos da carreira tiveram que ser adiados, já que a turnê do show Quase Hippie estava quase pronta para estrear no Sesc Glória e logo circular por outros espaços. Mas veio a pandemia e suspendeu os universos por um tempo indeterminado.
Daí também as dificuldades econômicas que afetam toda classe artística diante da impossibilidade de eventos presenciais com o público, que são fundamentais para sua expressão e remuneração.
Com a venda dos poemas engarrafados, Sandrera também abre uma alternativa econômica para o momento de crise. “A ideia é seguir me expressando artisticamente e manter contato com o público”, diz ele, que está na ativa como cantor e compositor desde os anos 90.
“Hoje parece que estamos todos morando numa ‘live’. Preferi morar nos meus poemas”, diz o cantor, embora não tenha deixado de fazer transmissões semanais ao vivo na internet, sempre com convidados de áreas como cultura, política e filosofia, por meio de sua conta no Instagram.