Em breve São Mateus, no norte do Estado, terá uma nova secretária de Cultura representante do povo quilombola local. Domingas dos Santos Dealdina, de 32 anos, foi convidada pelo prefeito eleito Daniel da Açaí (PSDB) para assumir a pasta nos próximos anos. Ainda sem data certa para a efetiva posse do cargo, Domingas se prepara para uma gestão que, garante, se estruturará em diálogo com as comunidades.
“O convite não foi feito somente pelo fato de ser quilombola, mas também por conhecer de muito perto a cidade e a diversidade cultural presente em São Mateus. Minha proximidade, claro, está mais com a cultura popular, contudo irei ouvir e dialogar com todas as áreas culturais para que, assim, possa desenvolver um trabalho de fortalecimento da cultura de São Mateus. Sei bem da carência cultural do município e é por isso que será necessário me articular com todas as artes e grupos, para gerar um movimento e desenvolver um trabalho que atenda às diversas áreas e se espalhe por São Mateus, da cidade à periferia – afinal, a cultura precisa pulsar forte na periferia também”, explica Domingas.
Quando Domingas fala sobre a proximidade que tem com a cultura popular de São Mateus, ela faz referência à sua criação. A futura secretária nasceu na comunidade Quilombola de Angelim 3 e é descendente de Silvestre Nago, uma importante liderança quilombola. A família de Domingas sempre esteve envolvida em festejos tradicionais e, muitos parentes, até os dias de hoje, ainda residem na comunidade. Já Domingas está na Coordenação de Patrimônio Imaterial e Bens Móveis da Secretaria de Cultura do Estado (Secult), desde 2014.
Essa será a terceira estada em órgão público que Dealdina coloca em sua trajetória. E da experiência com a Secult, ela conta que buscará apoio no governo do Estado para realizar um bom trabalho, principalmente no que diz respeito à requalificação do Sitio Histórico Porto São Mateus.
“Conto muito, e em especial, com o apoio dos moradores, dos realizadores culturais e comerciantes do bairro Porto, bem como os artistas plásticos, coletivos culturais, cineclubes, os diversos projetos de capoeira, a Liga de Reis de Boi, o Jongo de São Benedito, ativistas e produtores culturais, além de projetos de grafite e hip-hop. E, além disso, meu sonho hoje é o sonho de muitos mateenses: a volta do Festival Nacional de Teatro em São Mateus”, destacou. O Festival era realizado desde década de 1980 no município mas, em meados de 2012, teve sua última edição.
Domingas iniciou a militância nos movimentos negro e quilombola em 2001, quando fez parte do Centro de Estudos da Cultura Negra no Espírito Santo (Cecunes), integrando o primeiro Grupo de Jovens Pesquisadores Negros do projeto EGBÉ Territórios Negros, da região do Sapê do Norte. Depois, integrou a Comissão Nacional de Povos e Comunidades Tradicionais, em Brasília; representou a juventude negra no Conselho Nacional de Cultura de 2009; e atua na Secult fortalecendo a realização de eventos tradicionais como o Raiar da Liberdade, em Monte Alegre, Cachoeiro de Itapemirim, a Virada Cultura Quilombola, em São Mateus, e o Encontro dos Grupos Folclóricos de Conceição da Barra.