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Sarau Zacimba Gaba une arte e política em Montanha

Levando o nome de uma heroína da luta contra escravidão no norte do Espírito Santo, o Sarau Zacimba Gaba é um evento mensal que mobiliza uma cena cultural alternativa na cidade de Montanha, no extremo norte capixaba. Sua quarta edição acontece nesta quinta-feira (8), às 20h, no bar Bate-Papo.

Organizado pelo Coletivo de Formação e Mobilização Popular, o Sarau Zacimba Gaba é aberto pelos representantes do coletivo, que apresentam a proposta e história do evento. Depois há momentos de palco aberto, em que qualquer pessoa pode apresentar sua poesia, música ou outra arte para apresentar, e também momentos de apresentações de convidados, como nesta quinta-feira em que toca a banda “Alface”, formada por jovens estudantes do Instituto Federal do Estado (Ifes) Montanha. Nesta edição também haverá a exposição fotográfica Escuta, do coletivo Que Loucura, que busca retratar o mundo a partir da visão de pessoas atendidas pelos serviços de saúde mental da região.

 

Surgido há quatro meses, o evento é coisa rara no município, se estabelecendo como periódico e frequente, ao contrário dos grandes eventos que costumam acontecer apenas uma vez ou anualmente. A ideia surgiu a partir de Katia Norões e Izabella Cardoso, ambas militantes do movimento negro, que ganharam apoio também de Dione Albani, do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), e Bruno Botelho Costa, professor do Ifes.

Com essa origem militante, o evento busca retratar também temas relevantes para a luta social. No mês passado, o sarau homenageou as mulheres negras latino-americanas e caribenhas, cujo dia é comemorado em 25 de julho. Como no dia 28 de julho foi Dia do Agricultor, a edição de agosto vai abordar a agricultura camponesa na atual conjuntura econômica e social do País.

“O objetivo é atingir sobretudo as juventudes dessa parcela da sociedade que está marginalizada, sofrendo as consequências dessa nossa desigualdade social alarmante. Buscamos trazer essas juventudes e tratar de forma mais leve temas como reforma da Previdência, questões de gêneros e dos camponeses”, conta Dione Albani.

O Coletivo de Formação e Mobilização Popular surgiu durante as eleições do ano passado em apoio ao candidato Fernando Haddad (PT) contra Jair Bolsonaro (PSL). Embora Montanha tenha sido um dos 14 municípios em que Haddad foi mais votado no segundo turno, isso não foi suficiente para sua vitória no Brasil. Mas o resultado organização não foi em vão. O grupo resolveu continuar unido após as eleições, organizado de forma não-partidária, mas buscando incidir politicamente, usando o sarau como tática e a cultura como estratégia.

“Mudamos de perspectiva e compreendemos a necessidade de fazer formação popular, trabalho de base, promover debates em torno de questões políticas, mas sem caráter partidário. Tanto no processo eleitoral como depois dele o grupo se coloca numa perspectiva de esquerda, porém não-partidária”, explica o militante do MPA.

Ele lembra que Montanha é um município marcado pelo latifúndio, com destaque para o monocultivo de eucalipto e criação de bovinos de corte em larga escala. A concentração fundiária e de renda gera desigualdade social e altas taxas de famílias em situação de pobreza e extrema pobreza.

Por outro lado, em meio aos latifúndios, há camponeses organizados e produzindo a partir da agricultura familiar. Além do MPA, também há oito assentamentos de reforma agrária do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Isso sem falar na população urbana. “A cultura hegemônica é muito forte, e o sarau tem se apresentado como um espaço de articulação, encontro, conversas de uma galera que está buscando também outras perspectivas, construir outros processos para o município”, conclui Dione.

A inspiração que dá nome ao sarau diz muito da resistência do povo no norte do Espírito Santo: Zacimba Gaba foi uma princesa africana escravizada na região do Sapê do Norte. Envenenou pouco a pouco o senhor de escravos com pequenas doses de veneno, fugiu, fundou um quilombo e liderou um grupo de negros aquilombados que assaltava os navios negreiros que chegavam a São Mateus e libertavam os que chegavam escravizados da África.

AGENDA CULTURAL

IV Sarau Zacimba Gaba

Quando: Quinta-feira (8), 20h

Onde: Bar Bate-Papo – Montanha/ES.

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