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Secult e entidades ampliam rede de proteção a Ponto de Memória incendiado

Ações incluem investigação policial, estudo de fundos para reconstrução e vakinha para reparos imediatos

Fabrício Noronha

“Não se trata de aceitar e sim de respeitar!”. Esse é o tom das notas de solidariedade publicadas por entidades capixabas ao Ponto de Memória Jongo de Santa Bárbara, após o incêndio criminoso sofrido na madrugada dessa terça-feira (9), que destruiu boa parte da singela edificação, feita de pau-a-pique, bem como a mesa de orixás, incluindo a principal imagem de Santa Bárbara. 

O espaço está localizado na comunidade de Linharinho, em Conceição da Barra, norte do Estado, integrante do Território Quilombola Tradicional do Sapê do Norte, que se estende também pelo município vizinho de São Mateus, e foi premiado pelo Fundo de Cultura do Espírito Santo (Funcultura), gerido pela Secretaria de Estado da Cultura (Secult), por ser uma referência na perpetuação da cultura quilombola, bem como sua principal zeladora, a Mestra da Cultura Popular Gessi Cassiano.

Fabrício Noronha

Em visita ao espaço nessa quinta-feira (11), a subsecretária de Políticas Culturais da Secretaria de Estado da Cultura (Secult), Carol Ruas, acompanhada de outros membros do governo do Estado, relata que o objetivo imediato foi fortalecer a rede de proteção já instalada por entidades da sociedade civil, produtores culturais, ativistas de direitos humanos e outros apoiadores do trabalho de Dona Gessi e do Ponto de Memória.

“O Estado precisa ir como um todo para oferecer esse suporte, aproveitar o seu peso institucional para fazer articulação junto à polícia, ao poder municipal e demonstrar a relevância da Dona Gessi e do Ponto de Memória para a comunidade quilombola do Linharinho e para o patrimônio cultural capixaba como um todo. Mostrar que ela está de fato amparada e não só”, declarou. 

“Em primeiro lugar, é preciso assegurar que ela vai estar protegida. Num segundo momento, vamos fazer o levantamento do prejuízo para ver como financiar a recuperação”, relatou. “De uma maneira geral, a percepção que a gente tem é que o prejuízo foi mais simbólico do que financeiro. O que foi violado, atacado mais diretamente, foram as imagens, principalmente a imagem de Santa Bárbara. Por isso, a suspeita de motivação de intolerância religiosa”, ressalta.

Para reparos mais imediatos, uma vakinha já circula (veja dados ao final da matéria). Para obras de reconstrução futura, a subsecretária explica que é preciso esperar o momento indicado pelos coordenadores do espaço. “Como está tudo ainda muito recente, vamos esperar o que ela vai dizer que quer fazer. Mas nessa visita, já conversamos sobre projetos de futuro. Há várias linhas de fomento que o Ponto de Memória pode conseguir para se reformar, ampliar e custear novas atividades e perpetuar sua missão ali. Não vai faltar oportunidade para reativar aquele ponto”, afirma. 

Forças divinas 

Para o Conselho Estadual de Promoção da Igualdade Racial (Cepir), vinculado administrativamente à Secretaria de Estado de Direitos Humanos (SEDH), trata-se de “um local etéreo, zelado pela mesma e por aqueles que ali frequentavam”.

Na “Nota de Solidariedade à Comunidade Quilombola do Linharinho e de Repúdio à ação criminosa de Intolerância Religiosa”, o Cepir afirma que o ocorrido é “censurável, abominável, lamentável e um tanto doloroso vivenciar ações criminosas como essa, de pessoas que veem suas crenças ou crendices sobreporem à liberdade alheia”.

Secult

E afirma que se soma à “voz que ecoa fortemente, não apenas para ser ouvida, mas para ter concretizado o que é de direito garantido em lei, conquistado com suor, sangue, e que jamais será coibida por aqueles que pensam que suas ações limitam nossas vocações”.

Na mesma linha, o Centro Nacional de Africanidade e Resistência Afro Brasileira (Cenarab), em nota, convoca “a todos que têm empatia pela luta e resistência dos nossos povos quilombolas para colaborarem na reconstrução desse importante centro cultural capixaba”.

A coordenadora estadual do Cenarab, Mametu Kilunji dia Nzambi, ou mãe Néia, destaca que “a violência tamanha do ato de intolerância foi um choque para as lideranças da comunidade que, num contexto de entrega à sua ancestralidade, não veem como buscar a retomada de sua casa de encontro apenas com sua força interna”, sendo “fundamental e necessário que todos nos solidarizemos com sua causa e com seu fortalecimento”.

Para a coordenadora, o ato é um tipo de crueldade que vem sendo reproduzida “por pessoas que ouvem cegamente as palavras de quem se aproveita da crise que vemos no nosso Brasil e ao redor do mundo, para engrandecer suas pautas de violência e morte, dando continuidade a uma história de colonização predadora que ainda rege as estruturas de nosso Estado”.

Mãe Néia afirma ainda que “somos fiéis nas forças divinas que agem pelas mãos da natureza em sua demanda por equilíbrio. Já é tempo de aprendermos a dar as mãos para essa caminhada de luta tomando como guia a luz de Deus Maior” e convoca à ação: “que tenhamos a sabedoria de calar quando provocados e agir sem hesitação quando a situação se faz presente. Vamos juntos, companheiras e companheiros, a um futuro em que os sonhos de toda nossa gente convivam em harmonia!”.

Para colaborar

Interessados em colaborar financeiramente com ações imediatas de reparo do espaço podem enviar doações para o Pix de Dona Gessi Cassiano, cuja chave é o telefone 27-99781-8392.


Atentado criminoso destrói parte de Ponto de Memória no Sapê do Norte

Secult vai ajudar a recuperar Ponto de Memória Jongo de Santa Bárbara, espaço premiado por ser referência da cultura quilombola


https://www.seculodiario.com.br/cultura/fogo-destroi-parte-do-ponto-de-memoria-jongo-de-santa-barbara-no-sape-do-norte

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