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Série com três episódios resgata história da Festa Raiar da Liberdade

Vídeos, que poderão ser assistidos no YouTube, serão alguns dos materiais anexados ao pedido de tombamento histórico da festa

Quem se interessa por informações a respeito da Festa Raiar da Liberdade, que acontece todo dia 13 de maio na Comunidade Quilombola de Monte Alegre, em Cachoeiro de Itapemirim, no sul do Estado, poderá assistir gratuitamente a uma série produzida pela Associação de Salvaguarda do Patrimônio Imaterial Cachoeirense. São três episódios com depoimentos de moradores da comunidade, falando sobre a festa e sua importância para o quilombo.

Luan Volpato

O primeiro episódio já está disponível no canal da Associação no YouTube. Chama-se O Caxambu Santa Cruz e o Raiar da Liberdade, que conta a relação da história do Caxambu com a festa. O do dia 11 de agosto é A Festa Raiar da Liberdade, que trata da importância do evento para a comunidade e a preservação da memória. Por último, no dia 12, estará disponível o episódio A Roda de Caxambu e seus Mistérios, tratando da questão mística.

A série foi realizada com financiamento Fundo de Cultura do Estado do Espírito Santo (Funcultura). Será parte do material a ser apresentado para dar entrada no pedido de tombamento da festa como patrimônio histórico imaterial. Segundo o presidente da Associação Salvaguarda do Patrimônio Imaterial Cachoeirense, Genildo Coelho, será preenchido o Inventário Nacional de Referências Culturais, documento padrão do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Nesse inventário, serão anexados diversos materiais.

Genildo aponta que é necessário o tombamento para garantir que a festa tenha financiamento garantido, não ficando dependente de editais. Neste ano, devido ao atraso na divulgação do edital e do resultado, não foi possível utilizar recurso do Funcultura para a festa, que, por isso, reduziu seu público de cerca de 1000 pessoas para uma média de 80. “A gente quer também que esse pedido abra caminho para que outras festas tradicionais possam ser financiadas sem passar pelo processo burocrático dos editais”, ressalta.
Ele exalta ainda a necessidade de uma política de preservação do patrimônio imaterial capixaba, destacando que há um edital do Funcultura específico para bens registrados, que são o Congo, a Capoeira e Caxambu, mas não se trata exatamente de uma política de preservação, uma vez que “o processo é excludente”. A exclusão está em fatos como a quantidade limitada de projetos a serem contemplados e a dificuldade de muitos grupos e mestres de escrever projetos.
Raiar da Liberdade
Cerca de 15 grupos folclóricos se apresentam anualmente no Raiar da Liberdade, em uma relação chamada de “compadrio”, pois marcam presença na festa uns dos outros, se visitam. Os grupos não se restringem aos de Cachoeiro de Itapemirim, abarcando também outros municípios do sul capixaba, como Muqui, Itapemirim, Presidente Kennedy, Alegre, Jerônimo Monteiro e Atílio Vivácqua.
Luan Volpato

Genildo, que é pesquisador da área do patrimônio imaterial, afirma que o Raiar da Liberdade é uma festa que lembra o processo de luta do povo negro. “A gente comemora a vitória de uma revolução que começou no chão da senzala, é uma festa que acontece em uma comunidade onde foi formado um quilombo, organizado por negros que fugiram de fazendas da região”, conta.

Ele narra que, em 13 de maio de 1888, a notícia da abolição foi recebida via telégrafo, comunicada pelos fazendeiros aos escravos, que no mesmo dia foram para a praça da cidade, onde começaram a fazer seus batuques em frente à Câmara Municipal. O presidente da Casa de Leis tentou se apropriar da comemoração, tirar o protagonismo dos negros, distribuindo comida e bebida. Dias depois, sem emprego, comida, moradia e outros direitos, os negros voltaram para as fazendas, permanecendo no regime de escravidão.

A festa, então, passou a ser comemorada anualmente nas comunidades da região, mas hoje acontece somente em Monte Alegre e Vargem Alegre, também em Cachoeiro. Em Monte Alegre, a comemoração é liderada por Maria Laurinda Adão desde 1961, quando ela tinha 18 anos. Trata-se de um compromisso que passa de geração em geração. Seu trisavô, Negro Adão, que fundou a comunidade quilombola, foi quem deu prosseguimento à festa, ainda no Século XIX, passando depois para os bisavós, avós e pais de Maria Laurinda, que destaca-se nacionalmente e internacionalmente como defensora da cultura negra e quilombola.
Além de ativista, Maria Laurinda é mestra de Caxambu, parteira, coveira e líder espiritual. O grupo Caxambu Santa Cruz, do qual ela faz parte, recebeu em 2008 o título de “Patrimônio Cultural do Brasil”, do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. A história da mestra foi eternizada no documentário Todas as faces de Maria, em 2011.


‘O Estado deve nos financiar assim como faz com a cultura erudita’

Associação realiza inventário para registrar festa quilombola como patrimônio imaterial e conseguir financiamento


https://www.seculodiario.com.br/cultura/o-estado-deve-nos-financiar-assim-como-financia-a-cultura-erudita

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