A diversidade cultural do Espírito Santo se deve a grande quantidade de etnias que integram sua população. Índios, africanos, italianos, alemães são alguns dos povos que contribuíram para as mais diferentes manifestações culturais e religiosas que fazem parte da história capixaba. Algumas dessas imigrações, manifestações e viagens de estrangeiros em solo espírito santense são retratadas em sete novos livros que irão agregar novas informações e registros a história do estado.
O lançamento é uma parceria entre o governo do Estado, por meio da Secretaria de Estado da Cultura (Secult), e o Arquivo Público do Estado do Espírito Santo (APEES). As sete obras trazem novos olhares para a História do Espírito Santo e serão distribuídas para o público em um evento nesta quarta-feira (25), às 19h, no Palácio Anchieta.
Nessa coleção está o livro Italianos: base de dados da imigração italiana no Espírito Santo nos séculos XIX e XX elaborado pelos servidores do Arquivo Público Cilmar Franceschetto e Agostino Lazzaro. Cilmar conta que a busca começou em 1995, quando entrou no Arquivo Público, “nessa época havia uma demanda muito grande por parte dos descendentes italianos para saber quem foram seus antepassados e assim conseguirem a dupla cidadania”, conta. Porém, as informações eram de difícil acesso e poucos conseguiam localizá-las.
Devido a essa dificuldade, os dois começaram uma pesquisa nas fontes documentais do APEES e de outras instituições, como o Arquivo Nacional, além de informações obtidas junto aos documentos pessoais dos imigrantes, guardados pelos familiares. Com posse desses arquivos eles criaram um banco de dados informatizado para facilitar a busca. “Além de transcrevermos, nós também cruzamos esses dados, assim descobrimos o navio e a hospedaria onde ficaram uma mesma família”, explica Cilmar.
O pesquisador afirma que o Espírito Santo é o primeiro estado brasileiro a ter esse registro mais preciso de imigração. O livro Italianos reúne dados de mais de 38 mil nomes de imigrantes que entraram no Estado nos séculos XIX e XX. Entre as listas estão intercaladas mais de 260 imagens, entre fotografias antigas e atuais, mapas e diversos gráficos e infográficos.
Mais uma obra que trata dos costumes dos italianos é Fazenda do Centro: Imigração e Colonização Italiana no Sul do Espírito Santo. O livro de Sérgio Peres de Paula traz à cena histórias de fazendeiros, visitantes, escravos e posteriormente os imigrantes italianos, que ocuparam a Fazenda do Centro, em Castelo. O registro permite analisar o cotidiano local com suas interações, conflitos e características culturais.
Outra obra que será lançado é o Viagem ao Espírito Santo, que conta a história da Princesa Teresa da Baviera, que em 1888 visitou o Espírito Santo e percorreu rios, florestas, vilarejos e manteve contato com os botocudos às margens do Rio Doce, deixando escritas as suas impressões.
A obra foi organizada pelo historiador e professor da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), Julio Bentivoglio, com tradução de Sara Baldus. “Viagem ao Espírito Santo é a tradução de três capítulos do livro Uma Viagem aos trópicos brasileiros, de Levy Rocha, que reúne todas as anotações da princesa que passou por vários estados do Brasil”, explica Julio, que também conta que poucas províncias receberam tantos capítulos como as terras capixabas.
“O diferencial dessa obra é que a Teresa da Baviera era uma naturalista autodidata, porque na época as mulheres não podiam estudar, então suas impressões tem uma preocupação maior com a biologia e a geografia do que com os aspectos culturais da sociedade da época”, diz Julio. O pesquisador continua traduzindo o livro de Levy Rocha, os próximos capítulos a serem lançados serão sobre Minas Gerais e São Paulo. “É uma obra importantíssima para os brasileiros e merecia uma publicação integral”, afirma.
Já o livro Corpus Christi em Castelo-ES: manifestação da fé e da expressão artística tem o propósito de registrar a origem da Festa de Corpus Christi, que acontece na cidade de Castelo, município do sul do Espírito Santo. A autora Joelma Cellin pesquisou nos arquivos da Paróquia Nossa Senhora da Penha e também entrevistou as pessoas que confeccionaram o primeiro tapete em 1963. Joelma conta que seu estudo partiu da necessidade de ter um registro impresso para a memória da festa.
“Sou castelense e desde pequena participo da festa e admiro os artistas que fazem os tapetes. A maioria das pessoas que fazem esses tapetes não tem nenhuma formação artística e o resultado final é lindíssimo. O trabalho coletivo e a fé são muito fortes”, diz Joelma. Para ela, o momento mais emocionante foi quando pode entrevistar a Irmã Vicencia, que faleceu recentemente e confeccionou o primeiro tapete. “Ela nunca imaginou que o seu pequeno tapete fosse tomar a proporção que tem hoje”.
Outro livro que integra essa série é Tropas e Tropeiros: O transporte a lombo de burros em Conceição do Castelo que resgata a época de homens corajosos e de animais resistentes que desbravaram os vales e montanhas do Sul Capixaba.
Para finalizar a lista, as obras Viagem pelas Colônias Alemãs do Espírito Santo e Nossa vida no Brasil: Imigração norte-americana no Espírito Santo 1867 – 1870. O primeiro configura um relato sobre a cultura das comunidades germânicas localizadas no Espírito Santo no princípio do século XX. E o segundo traz as observações de Julia Louisa Keyes sobre o período em que sua família esteve no Espírito Santo e no Rio de Janeiro logo após a Guerra Civil norte-americana e tornou-se uma das principais referências para pesquisas sobre o município de Linhares, no final da década de 1860.
À exceção de Corpus Christi em Castelo – Espírito Santo: manifestação da fé e da expressão artística, os livros citados fazem parte da Coleção Canaã do Arquivo Público do Estado do Espírito Santo.
Serviço
As sete obras sobre a história do Espírito Santo serão distribuídas gratuitamente ao público nesta quarta-feira (25), às 19h, no Palácio Anchieta.