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Sons da mata

Explorador dos ritmos e culturas populares, o compositor Jorge Mautner apresenta o show do seu mais recente álbum, Maracatu Atômico Kaosnavial, na Estação Porto, em Vitória. O disco representa o encontro do músico com o Movimento Canavial, projeto artístico que envolve cinema, música e teatro no Festival Canavial, que celebra a cultura popular da Zona da Mata Norte, em Pernambuco. O espetáculo de cores e sons será nesta sexta-feira (14).

 
Mautner traz para o palco, além de seu inseparável violino, o grupo Maracatu Estrela de Ouro que conta com mais de 40 Caboclos de Lança, chefiados pelo Mestre Luiz e uma orquestra dirigida pelo Mestre Zé Duda (com que interage na foto abaixo). O Estrela de Ouro é o único maracatu rural que já se apresentou na Europa. Durante a noite também haverá o lançamento do filme Maracatu Atômico Kaosnavial, de Afonso Oliveira e Marcelo Pedroso.
 
 
Nessa fusão de violino, guitarra e tambores, Mautner cria uma música-manifesto de forte influência afro-brasileira, que sempre esteve muito presente em sua vida. Ele nasceu um mês depois que seus pais tinham chegado ao Brasil fugindo do holocausto. Jorge foi criado por uma babá, Lúcia, que era ialorixá e o apresentou ao candomblé. Desde então, dedica-se a agregar elementos da cultura popular a sua arte.
 
Maracatu Atômico Kaosnavial é uma alusão à canção Maracatu Atômico, escrita por Jorge e seu parceiro Nelson Jacobina, que faleceu este ano depois de lutar contra um câncer por 15 anos. Os dois trabalhavam juntos desde 1970 e criaram clássicos como Lágrimas Negras, Árvore da Vida e Samba-Jambo. Maracatu Atômico foi gravada originalmente por Gilberto Gil em 1973 no álbum Cidade do Salvador e se tornou um hino pela banda brasileira de manguebeat Chico Science & Nação Zumbi, em 1996.
 
Conhecido como o Profeta do Kaos, Mautner começou a escrever aos 15 anos o seu primeiro livro, Deus da Chuva e da Morte (1962). A obra de estreia compõe junto com Kaos (1964) e Narciso em Tarde Cinza (1966), a trilogia hoje conhecida como Mitologia do Kaos. Ligado ao Partido Comunista, foi preso durante o golpe militar de 1964, mas logo depois liberado sob a condição de se expressar mais “cuidadosamente”.
 
Entretanto, seu temperamento revolucionário continuaria intenso. Em 1970, Mautner passou a se dedicar ao cinema, dirigiu o longa-metragem O Demiurgo (1970), mas foi censurado. Alguns anos depois participou do Banquete dos Mendigos, junto com outros artistas como Edu Lobo, Gal Costa, Gonzaguinha, Milton Nascimento, Nelson Jacobina, Chico Buarque, Raul Seixas. O show foi um manifesto em comemoração aos 25 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos. 
 
Hoje com 71 anos de idade e quase 50 de carreira, merecem destaque na discografia do compositor os discos Bomba de Estrelas (1981), Pedra Bruta (1992), O Ser da Tempestade (1999), com músicas interpretadas por Gil, Caetano, Gal e Chico Science, entre outros, e Eu Não Peço Desculpa (2002), em parceria com Caetano Veloso, que conquistou o Grammy Latino.
 
Serviço
O cantor e compositor Jorge Mautner se apresenta nesta sexta-feira (14), a partir das 20h, na Estação Porto, Armazém 5 da Codesa. Av. Getúlio Vargas, s/n, Centro, Vitória. Entrada franca.

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