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Stel Miranda lança ‘O Evangelho segundo os oprimidos’

Artista e ativista de São Pedro, Vitória, usa elementos bíblicos para falar de questões sociais à periferia

Divulgação

A história de Stel Miranda se confunde com a história do bairro São Pedro, em Vitória, diz o próprio artista e ativista. É na periferia da capital que ele nasceu, cresceu, se formou e se envolveu com as questões culturais e sociais. Nesta terça-feira (15), ele lança seu primeiro livro, O Evangelho segundo os oprimidos, publicado pela Editora Cousa. O evento de apresentação da obra será online, às 19h, por meio de uma “live”, no Instagram da Cousa, no qual conversará sobre a obra com Gabriel Nascimento, um dos editores do livro.

Há anos transitando pelados caminhos da literatura marginal – ou periférica -, ele constrói uma narrativa própria inspirada pelos textos bíblicos para falar das realidades e vivências da periferia. “Eu fui mais um moleque com infância na Igreja Evangélica”, diz Stel, que como muitos começou a se envolver com a música, porta de entrada para o universo da cultura, por meio da Igreja. Como outros também, passou pelo tráfico, morou nas ruas, mas encontrou nas artes um caminho para a vida. É produtor audiovisual, fotógrafo e escritor, tendo lançado seus escritos por meio de quatro fanzines, formato artesanal de livro, com baixo custo e alta capacidade de reprodução.

Divulgação/ Editora Cousa

O Evangelho segundo os oprimidos começou a ser escrito há cerca de cinco anos. “Meu processo de escrita é um tanto dolorido. Passei por inúmeros processos internos e externos, comecei a escrever sobre aquilo que estava tocando todo mundo naquele momento. A religiosidade da favela é muito intensa e presente, colocam responsabilidades delas na mão do sagrado, buscam o sagrado para resolver questões e para agradecer, isso permeia quase que 100% das fruições de toda periferia brasileira”.

Com diagramação e capa de Luana Dias, a obra imita elementos do formato da Bíblia, alternando capítulos e versículos com poesias de Stel e desenhos de Nico Dias. Para Stel, usar elementos da estética e linguagem do livro sagrado cristão é uma forma de tentar uma aproximação e intimidade maior com o morador das periferias, que muitas vezes tem na Bíblia a principal obra de leitura.

“Basicamente escrevo para a favela. Só escrevo para ela, e se pessoas de outros lugares gostarem também, me sinto lisonjeado, porque só tenho a periferia em mente, é difícil me distanciar disso”, reflete. “Espero que a favela leia, que nosso povo leia, que os meus leiam, é uma obra muito íntima e se a periferia tiver acesso a ela já estarei muito satisfeito”.

Entre suas inspirações, Stel Miranda coloca a periferia como a principal delas, por ser elemento que permeia sua vida desde que nasceu. Seu texto vem repleto de ironia e deboche ao pensar uma outra Bíblia diante de uma humanidade desolada e um Deus surdo ou impotente, sobretudo a partir do Evangelho de Al Margin, um dos capítulos em que o personagem de mesmo nome se revolta e denuncia as classes dominantes.

“Essa é uma obra que mais exalta o sagrado do que o questiona, por isso é um livro perigoso. Talvez as interpretações de leitores não sejam bem essas”, diz o escritor, que acha bastante interessante essas possíveis outras interpretações, já que é nisso que reside parte do sentido do fazer artístico. “Antes de tudo é um grito para nosso povo. A gente fica na espera de que o povo se ouça mais. Espero que a favela comece a ouvir mais a favela”, vaticina Stel Miranda,

O livro O Evangelho segundo os oprimidos está à venda no site da Editora Cousa.

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