“No princípio, o teatro era o canto ditirâmbico: o povo livre cantando ao ar livre. O carnaval. A festa. Depois, as classes dominantes se apropriaram do teatro e construíram muros divisórios”, diz Augusto Boal no livro Teatro do Oprimido e outras poéticas políticas. Um dos mais brilhantes teatrólogos do Brasil e do mundo, ele foi também integrante fundamental do Companhia Teatro de Arena, que marcou época nos anos 50 e 70 no País.
Um pouco dessa história pode ser encontrada na exposição Arena conta… Teatro e Resistência no Brasil no Brasil (1965-1970), que está no Sesc Glória, no Centro de Vitória, fruto de parceria do Sesc Nacional com o Instituto Augusto Boal. “Politicamente, o Teatro de Arena surge como uma alternativa à produção teatral no Brasil, tanto pelas temáticas de cunho político e social quanto pela pesquisa de linguagem em prol de uma relação mais próxima à realidade do povo”, explica o dramaturgo Wilson Coêlho.
A efervescência criativa do teatro nacional no pós-guerra, a criação do grupo nesse contexto, a escolha do local que serviria de sede, o formato em arena com o palco no centro, fugindo dos padrões tradicionais, vão ser contados na exposição, por meio de fotos, textos, recortes de jornais, documentos históricos, áudios das canções que compunham as peças e vídeos. Grandes dramaturgos como Augusto Boal, Gianfrancesco Guarnieri e Vianinha, atores e atrizes como Eva Wilma, Lima Duarte, Zezé Motta, Milton Gonçalves, Dina Sfat, compositores como Gilberto Gil, Caetano Veloso e Edu Lobo, são alguns dos que fazem parte da história dessa verdadeira seleção brasileira de artistas.
“Devemos ao Teatro de Arena a valorização do autor nacional e a busca por uma estética desenvolvida a partir de nossa cultura e não como vinha sendo até então, dominada pelos modelos europeus”, caracteriza Wilson. “Obviamente, eles têm um flerte muito importante com o teatro épico de Brecht, mas não de uma forma colonizadora. Por ser um processo dialético, a própria estética brechtiana serve de tese para que o grupo crie a sua antítese em busca de novas sínteses para o momento político. Também em termos de inovações de técnicas, temos os métodos do teatro do oprimido desenvolvido por Augusto Boal”, complementa o dramaturgo.
Fundado em 1953 de modo itinerante e estabelecendo um local definitivo em 1955 na capital paulista, o Teatro de Arena se destacou como instrumento cultural de resistência desde o início da ditadura militar, em 1964. “Do ponto de vista político, trata-se de um grupo que serve de exemplo a uma resistência e crítica ao autoritarismo social e governamental do Brasil”, confirma Wilson Coêlho.
Nesse sentido, três peças são destacadas na exposição do Sesc: Arena conta Zumbi (1965), Arena conta Tiradentes (1967) e Arena conta Bolívar (1970), todas dirigidas por Augusto Boal, com a última proibida pela censura, sendo apresentada no exterior. Ao contar a saga de personagens históricos do Brasil e da América Latina que lutaram contra opressões, o grupo buscava que o público espectador encontrassem analogias com os tempos atuais.
A exposição ainda oferece como material de apoio um caderno impresso de 50 páginas com o conteúdo da exposição para os visitantes levarem para a casa.
AGENDA CULTURAL
Exposição Arena conta… Teatro e Resistência no Brasil no Brasil (1965-1970)
Quando: até 16 de junho de 2018
Visitação: Terças a sextas-feiras, das 11 h às 20 horas; Sábados e domingos, das 11 horas às 19 horas, exceto feriados
Onde: Centro Cultural Sesc Glória – Av. Jerônimo Monteiro, 428 – Centro de Vitória
Entrada franca