Artista plástica Renata Apolinário elaborou kit para desenvolver artes em casa durante a pandemia
Uma “Caixa de Experimentação” que leva arte e cultura para a casa de crianças capixabas durante o período de suspensão das aulas. Essa foi a ideia que a artista plástica a construir um projeto, com materiais simples, mas informativos e educativos, inspirados no ofício das paneleiras de Goiabeiras, que evidenciam o trabalho artesanal, as tradições capixabas e a proteção do meio-ambiente.
O lançamento oficial do projeto será nesta quinta-feira (15), às 8h, pelo YouTube, com apresentação da caixa e alguns de seus usos possíveis para crianças junto com pais, mães e responsáveis em suas casas.
Elaborada com recursos do edital emergencial da Secretaria de Estado da Cultura (Secult), a “Caixa de Experimentação” terá em sua primeira edição 50 unidades distribuídas para estudantes do Centro de Educação Infantil Criarte, localizada no campus da Ufes em Goiabeiras, mesmo bairro em que se realiza o trabalho tradicional da paneleiras.
Entre os materiais enviados dentro da caixa estão uma panelinhas de barro, uma bolinha de 200g de argila para produzir uma mini panela, um potinho com tanino, utilizado na pintura das panelas, massinhas para modelar os ingredientes, adesivos, fitas, giz, papéis, um livrinho com histórias e desenhos para ilustrar, uma receita de moqueca capixaba, a própria caixa de papelão que pode ser transformada em um fogão de brinquedo e cenário para a encenação de um teatrinho de palitos com a fauna e flora do manguezal. “Com isso se pode brincar de gastronomia, pintura, literatura, teatro, escultura”, aponta Renata Apolinário, sobre a diversidade de linguagens artísticas que podem ser trabalhadas.
“As paneleiras têm esse trabalho artesanal, elas constroem a própria panela, usam o mangue como instrumento de trabalho e contribuem para a preservação do ecossistema”, ressalta a artista plástica, lembrando que a área do entorno da produção das panelas é bastante conservada pelo cuidado das paneleiras, porém em outras regiões está muito poluído, sendo ainda mais ameaçado pelas medidas do governo federal que implicam retrocesso na proteção dos manguezais e outros ecossistemas.
Outra questão importante que a Caixa busca destacar é a responsabilidade das mulheres negras nesse processo de confecção das panelas e a manutenção da tradição que é um dos mais lembrados símbolos da cultura capixaba, vinculada a outro produto significativo, que é a moqueca capixaba. “São ilhas de resistência. É necessário que as crianças conheçam isso, pra não ficarem com a ideia dessa globalização achando que bom é o que vem de fora. Globalização é conhecer o que a gente tem e ter a mente aberta para todas as várias possibilidades”, reflete.
É justamente nas brincadeiras com seu filho Evo, de 5 anos, intensificadas durante o período de quarentena, que ela se estimulou a produzir a Caixa de Experimentação. A ideia é construir formatos híbridos de aprendizado, não apenas eletrônicos, como muitas vezes acontece. Por isso, na caixa física também estão os QR Codes que permitem acessar vídeos sobre as possibilidades de brincar e aprender com a caixa e também estimulado que os responsáveis possam buscar outros vídeos relacionados com os temas abordados por ela, tudo junto a uma experiência presencial de brincar, e tátil, que envolva tocar o barro e desenvolver diversas possibilidades artísticas.