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Tunico, filho de Martinho da Vila, se apaixonou pelo Espírito Santo

“Eu sou um carioxaba”, diz Antonio João e Pedro Caniné Ferreira, mais conhecido como Tunico da Vila, homenageando seu berço no samba, a Vila Isabel, no Rio de Janeiro. O nome artístico, assim como seus traços físicos e timbre, não negam a origem: desde menino acompanhava e observava em silêncio o pai, Martinho da Vila, compondo em seu escritório. E também desde jovem visitava as praias do Espírito Santo, entre elas a Barra do Jucu, cena de um dos maiores sucessos de Martinho, a adaptação do congo capixaba “Madalena”.

Não só pelos cantos e encantos do Estado Tunico se apaixonou. Se encantou por uma capixaba, Deborah Sathler, quando ela estudava mestrado no Rio de Janeiro e aqui vieram morar. “Ela fez uma moqueca capixaba, aí já era…”, brinca. Desde então o sambista tem buscado conhecer ainda mais a cultura capixaba, que agora faz parte do seu entorno e sua vivência, compondo a paisagem dos sambas que compõe.

Percursionista de mão-cheia, ele teve oportunidade tocar na banda do pai e também acompanhar outros artistas de renome como Alcione, Beth Carvalho e Zeca Pagodinho. Rodou por todo Brasil e muitos países do mundo, destacando especialmente as vivências na África. “Antes e depois dos shows não fiquei parado no hotel em Luanda. Saí para as aldeias, vi como tocavam. Não sou pesquisador, não tenho mestrado. Sou um griô. Enveredei pelos caminhos para conhecer pessoas e tons musicais, troquei informação, aprendi muito mais que ensinei”, conta.

Sua formação na percussão vem de dois lados. Um deles é o samba, que acompanha o DNA da família: além do pai, cinco de seus irmãos também estão no cenário musical, em diversos gêneros, mas carregando sempre alguma influência do samba. “Sou o quinto de oito irmãos, dó-ré-mi-fá-sol-lá-si-dó. Eu sou o sol maior. Sou de Olorum”.

A segunda influência vem do candomblé, sua religião, na qual é ogã de atabaque e canto. “Sou negro, sambista, socialista e candomblecista, com muito prazer”. É justamente daí que vem uma de suas canções feitas no Espírito Santo, Nos Caminhos de Um Só, composta junto com a esposa Deborah e Xandy de Pilares, ex-vocalista do grupo Revelação. A letra fala sobre a intolerância religiosa e o clipe gravado no Pier de Iemanjá, em Camburi, reúnindo vários sambistas, bandas de congo e praticantes de religiões de matriz africana.

A intolerância religiosa é um problema mundial. O etnocentrismo é o pai do racismo, machismo, da homofobia e da intolerância religiosa. É uma coisa perigosa. Fiz a música pensando na rapaziada que está crescendo hoje”, afirma. “Deus é um só, interpretado de maneiras diferentes. Se a pessoa pratica o bem, tem a essência de Deus”.

Outra composição feita no Estado chama-se “É Dia de Rede no Mar”, na qual homenageia homens e mulheres que vivem do mar, com quem tanto encontrou nas andanças pelo Brasil e no Espírito Santo, como pescadores, paneleiras, desfiadeiras de siri. “Estou morando aqui, então também quero falar do que tem aqui”, diz. Na canção passeia por diversos pontos históricos, turísticos e sambísticos capixabas. “Hoje eu sou um bamba da Vila e de Vitória”, diz a letra.

No Espírito Santo, Tunico encontra a tranquilidade que queria para se dedicar à sua carreira de compositor e cantor, que decidiu priorizar sobre a carreira consolidada de percusionista. “Meu anel de bamba eu passo para o Tunico da Vila, que é bom compositor”, disse Martinho da Vila em entrevista. Mais que celebração ou conforto, tal afirmação trouxe a Tunico um sentimento de responsabilidade.

Formou sua banda com artistas capixabas oriundos da Faculdade de Música do Espírito Santo (Fames), banda da Polícia Militar e escolas de samba: Alexandre Barbatto (baixo), Daniel Barreto (violão), Serginho do Cavaco, Arthur Teles (bateria), Marcos Oliveira (trombone) e Marcos Firmino (trompete). Eles também acompanham Tunico da Vila em turnês por outros estados como São Paulo e Rio de Janeiro. “Estou fazendo a integração dos músicos daqui com os do Rio de Janeiro. Isso contribui para o crescimento deles, musicalmente e culturalmente, e o Estado cresce junto”.

Em Vitória, acompanham o sambista no projeto Spirito Samba, em que Tunico convida grandes nomes do samba brasileiro. Passaram pelo palco da casa de shows Spirito Jazz, que recebe o projeto, nomes como Monarco, Dudud Nobre e Xandy de Pilares. E o próximo convidado é ninguém menos que o próprio pai Martinho da Vila, um dos maiores sambistas do planeta, num show conjunto no dia 27 de abril. A apresentação promete grandes emoções, pois além de grandes clássicos, os dois cantarão juntos pela primeira vez “Antônio, João e Pedro” composta de pai para filho, música que este ano completa 45 anos, assim como Tunico.

Aliás, juntos eles compuseram o samba-enredo Festa no Arraiá, campeão do carnaval de 2013 com a Vila Isabel, feito inédito pela autoria conjunta de pai e filho. Na escola de samba em que desfilou pela primeira vez em 1986, já tocou de quase tudo: surdo, tamborim, centrador, caixa, repique, tarol. E como percussionista critica a padronização das baterias de escolas de samba que acontece hoje em todo Brasil. “As baterias das escolas de samba não deveriam perder suas identidades. Agora está ficando tudo padronizado, tudo igual. Aqui temos bons mestres de bateria. Espero que saibam valorizar as batidas do congo, por exemplo”, sugere. “O congo é uma verdadeira base musical e cultural do Espírito Santo, deveria estar em outro patamar”.

AGENDA CULTURAL

Spirito Samba: Show de Martinho da Vila e Tunico da Vila

Quando: 27 de abril (sexta-feira). Abertura da casa às 20h

Onde: Spirito Jazz – Rua Madeira de Freitas, 244, Praia do Canto – Vitória

Ingressos: Mesa antecipada R$ 400 (4 pessoas)

Reservas: (27) 3019-0860 / 98119- 9012 ou pelo Whatsapp 99850-0860

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