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Uma viagem às danças afroamericanas chega ao Estado

Eles chegaram ao Espírito Santo depois de mais de um ano e meio de viagem pela América Latina, financiada por meio de trocas culturais. David Cabezas e Karol Álvarez são colombianos; ele contador de contos, ela dançarina. Viajam em busca de conhecer os ritmos e histórias do povo negro do continente.
 
Integrantes de um grupo de pesquisa da Universidade de Antioquia, eles saíram de Medellin em maio de 2016, conhecendo os processos sociopolíticos e as danças das comunidades negras como a Bomba equatoniana, o Festejo peruano, a Saya afroboliviana, a Guarimba Galopa do Paraguai até o ritmos brasileiros como o Maracatu, Samba e o Congo capixaba.
 
No caminho, entre conversas, novas amizades, descobertas e aprendizados, vão construindo os percursos. “Se faz o caminho ao andar”, diz o poeta. E foi assim que chegaram ao Espírito Santo, recomendados por um mestre de cultura paulistano,. Foram acolhidos por dois contadores de história capixabas, Claudia Viuvanegra e Fábio Pererê, que servem de anfitriões, guias na cidade e articuladores de atividades que possibilitem que sigam sua viagem rumo ao Nordeste do Brasil. “São como nossos pais aqui, nossa família capixaba. Nos chama de ‘os meninos’”, brinca David.
 
Entre as atividades está a apresentação Ancestral-ES: Canticuentos Afrocolombianos, reaizada nesse domingo (28), no Centro Cultural Eliziário Rangel, na Serra. Na terça-feira (30), realizam oficina no III Encontro de Contação de Histórias na Biblioteca Municipal de Domingos Martins.
 
Além disso, também vendem produtos como camisas do grupo  Bailes Inhonestos y Provocativos, do qual participam, e o livro Escritos de Viaje, com versos feitos durante a viagem por David Cabezas, como forma de difundir sua cultura e aprendizados e ainda ajudar a sustentar a viagem de forma independente.
 
As redes construídas, a solidariedade e o bom recebimento foram marcas carregadas ao longo da percurso. Entre as desmistificações feitas no caminho, consideram a de provar que os povos latino-americanos não são inimigos e sim irmãos, além mostrarem que é possível sim viajar sem dinheiro, contando com outros tipos de trocas, sobretudo por meio da cultura.
 
Estar fora de sua terra natal os permitiu identificar e fortalecer suas próprias riquezas culturais afrocolombianas e valorizá-las cada vez. Os contos cantados junto com as danças em apresentações e oficinas estiveram nas ruas, praças, restaurantes, escolas, ônibus, teatros, universidades, centros culturais, aniversários, hospitais, em seis países diferentes.
 
Mas nem tudo tem sido flores na viagem. A marca mais dura foi no Chile, quando foram barrados na fronteira, de maneira xenófoba. Tiveram que ouvir que os colombianos “são uma carga social para o país”. Em outra fronteira, do Equador para o Perú, por um tempo a parceria se desfez. Por desentendimentos Karol e David se separaram e seguiram por caminhos distintos, mas se reencontraram e seguem juntos, compartilhando novas histórias.
 
Encontraram em cada país algo em comum na triste realidade colonial. “A invisibilidade, extermínio, empobrecimento e preconceito contra o povo negro há em toda América do Sul, apesar das diferenças em cada local. Isso é evidenciado na não satisfação das necessidades básicas, na pouca participação na política e economia”, problematiza David.
 
Toda essa experiência de aprendizados, convivências, alegrias e tristezas refletem e  transformam o sentimento que colocam em cada apresentação nesse longo caminhar. Os contos dos mestres de cultura popular Alfonso Córdoba, conhecido como “El Brujo”, e Zully Murillo, ambos do Chocó, estado colombiano que apresenta mais de 80% de população negra, ganham nova vida e cruzam fronteiras.

“Se trata, então, de buscar nossas raízes, romper a quarta parede e entrar na magia da oralidade da selva colombiana com vozes e corpos em constante reintepretação”, diz a apresentação do espetáculo de Karol e David.

 
É verdade que às vezes queremos mas não podemos viajar. Mas há outras em que a viagem vêm até nós, bater em nossa porta em forma de viajantes e seus relatos. E aqui está a Afro Colômbia, pertinho de nós.
 
SERVIÇO
 
Oficina internacional de danzas y canticuentos afrocolombianos
Quando: Terça-feira, 30 de janeiro

Onde: Biblioteca Municipal de Domingos Martins

Público-alvo: educadores, contadores de contos, atores e demais interessados
Vagas Limitadas
Mais informações: 99988-8217

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