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​Uma viagem surreal pela história do Espírito Santo

Do Caboclo Bernardo ao vampirismo colonial, Marcio Miranda lança seu primeiro livro a partir de elementos capixabas

Em atividades de divulgação de seu primeiro livro, Conde Trápula: uma vítima da TV em cores, o historiador e escritor Marcio Miranda Moraes costuma exibir uma imagem do Aquaman, super-herói aquático da editora de quadrinhos estadunidense DC Comics, e perguntar quem o conhece. As turmas escolares e universitárias costumam levantar a mão em peso. Em seguida, quando exibe a imagem de Caboclo Bernardo, o pescador alçado a herói em 1887, por comandar o resgate com vida de 128 marinheiros náufragos do navio Cruzador Imperial Marinheiro na foz do Rio Doce, é raro que alguém o reconheça. Estamos tão longe de nossa história e tão perto dos Estados Unidos.

Obra será lançada no próximo dia 6 de agosto, no Centro de Vitória. Foto: Divulgação

É justamente o fascínio pela figura de Bernardo e de seu povoado de origem, a vila de Regência, que Marcio conheceu em 1999, numa viagem de carona com amigos, quando ainda era estudante de História, que impulsionou a escrita do livro. Apesar de historiador formado, a obra passa longe do formato acadêmico, ao contrário, envereda pelo literário com doses cavalares de fantasia.

Conta a história oficial, registrada nos documentos, que o pescador da foz do Rio Doce foi condecorado com uma medalha e um diploma pela Princesa Isabel, que meses depois entraria para a história por assinar a Lei Áurea, que abolia a escravidão no Brasil. Com um fim de vida brutal, sendo assassinado por motivos vis, a medalha recebida por Bernardo tem um destino desconhecido até hoje.

É esse um dos pontos que abre a imaginação de Marcio para uma trilogia dentro da própria obra, apontando três possíveis destinos da medalha, em micro histórias que abordam respectivamente maus-tratos animais, abuso religioso e acumulação capitalista. Ao autor interessa mais os personagens corriqueiros, simples, aqueles que passam longe de entrar para história, como passaria o próprio Caboclo Bernardo, não fosse o fatídico episódio, seu ato de bravura e a construção que o faria colher sozinho os louros e as desgraças resultantes daquela fama inusitada que logo viraria esquecimento. O próprio pescador é retratado por Marcio como um herói humano, falho, mulherengo e cachaceiro.

O Caboclo Bernardo é celebrado até hoje na vila de Regência

Mas onde entra, então, o Conde Trápula, que dá nome ao livro? Trata-se de um vampiro vindo da Europa, como uma metáfora colonial, a sugar o sangue dos nativos, que se envolve justamente no naufrágio do Cruzador Imperial. Inspirado no pai de um amigo, o personagem faz as vezes de um curioso vilão a ser combatido pelo povo tal qual representação do imperialismo, que, inquieto, vem e volta a atormentar o desenvolvimento de nossas pátrias latino-americanas. No realismo fantástico de Marcio, o Fubica, famoso mini trio elétrico que anima carnaval e festividades de Regência, torna-se uma bastião de resistência ao odiado ser vampírico.

Elementos da paisagem capixaba e personagens históricos do Espírito Santo permeiam a obra, que será lançada oficialmente no próximo dia seis de agosto, às 19h, no Triplex, espaço cultural localizado na Praça Costa Pereira, em pleno Centro de Vitória. Segundo o autor, está confirmadíssima a presença do Conde Trápula, o que promete fazer trazer ao lançamento o aspecto cômico e tosco que perpassa o livro, editado pela Cousa. Regência, epicentro dessa história surreal, também terá seu lançamento, em data ainda por definir.

O autor com o famoso Fubica de Regência, elemento real que ganha contornos fantásticos no livro. Foto: Divulgação

A história, porém, não para nas páginas impressas. De forma independente, dois dos três contos internos da obra foram transformados em narrativas audiovisuais, filmadas na própria Regência. Entretanto, o autor, que é estudante de Cinema, tem sonhos ainda mais ousados: transformar um dos contos em curta-metragem e, quem sabe, futuramente, toda obra em longa metragem, o que exige um aporte financeiro bem mais expressivo, por meio de lei de fomentos ou talvez até conseguir algo ainda mais valioso, como encontrar a medalha perdida de Caboclo Bernardo.

Serviço

Informações sobre o livro estão no site: https://cousa.minestore.com.br/produtos/conde-trapula

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