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‘Vaga Carne’ lota teatro em Vitória e confirma performance visceral de Grace Passô

Uma fila descia as escadas do Teatro Universitário da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). Foi assim na noite da última terça-feira (18), por volta das 19h, no campus de Goiabeiras, em Vitória, onde mais uma peça do Festival Nacional de Teatro da Cidade de Vitória estava programada para ser apresentada: Vaga Carne, uma produção vinda de Minas Gerais – e entre a programação do festival, uma das peças mais aguardadas pelo público.

É bem perceptível que ao longo dos anos o Festival tem tomado um viés bastante questionador e político na escolha da programação e, Vaga Carne, é evidentemente uma dessas peças que chegam para questionar e discutir assuntos presentes na sociedade atual e de grande importância social.

Formada unicamente pela atriz, diretora e dramaturga Grace Passô (foto ao lado), Vaga Carne é uma dessas peças que instigam discussões e dialogam com muitos assuntos. O cenário de tudo é um corpo de mulher, uma mulher sem nome, sem história, sem trajetória. E o personagem principal é uma voz – voz essa que pode entrar em qualquer matéria, desde uma pena a um cachorro.

Acontece que justamente essa voz resolve entrar no corpo de uma mulher, a ‘mulher-cenário’. E estando lá, pela primeira vez a voz começa a pensar, a sentir-se parte daquele corpo, a mostrar o quanto aquele corpo tem a dizer enquanto uma mulher, uma mulher negra, para a sociedade.

Grace Passô toma conta do palco sozinha, com uma voz que rasga a todos pelo teatro e é vívida. A palavra é o que preenche todo o espetáculo com frases por vezes desconcertantes, por outras irônicas, mas sempre reflexivas. Não há início, meio ou fim. Existe apenas, e suficientemente, uma mulher e um voz que tem muito o que dizer, que instiga a plateia e soltar palavras – e não demora muito até alguém gritar um “Fora Temer”, que é prontamente recebido pela atriz e repetido dezenas de vezes até findar-se uma das cenas regadas com as palmas do público.

Vaga Carne é uma peça que fala sobre impor-se enquanto mulher, que mostra o quanto a figura feminina ainda tem de espaços negados na sociedade, que brada sobre o direito da mulher ao próprio corpo. O texto é tão visceral quanto a atuação de Grace, que desconstrói a fala ligada aos gestos corporais. A atriz parece mostrar até ser fácil falar uma coisa enquanto o corpo demonstra outra.   De fato, Grace faz jus às diversas críticas que a exaltam enquanto atriz e dramaturga.

Essa não foi a primeira vez de Grace no Estado, neste ano a atriz já esteve inclusive em Vitória para apresentar outra peça, Krum. Contudo, Vaga Carne é o primeiro solo da carreira da artista. Um solo que tem desconcertado o público por onde passa. E bastam apenas 50 minutos de peça para que o público reconheça, aplaudindo de pé, a genialidade de Grace que conseguiu construir uma peça marcante apenas com voz, texto, jogo de luzes e sua atuação. A sensação ao fim da peça é de que ainda há muito o que dizer, tanto que diversas pessoas continuaram sentadas nos bancos, esperando por mais um outro desfecho.

A programação do Festival Nacional de Teatro da Cidade de Vitória

Esta apresentação de Vaga Carne foi única em Vitória, contudo o Festival continua com programação até a próxima sexta-feira (21), com entrada livre em todos os espetáculos. Confira com detalhes a programação. 

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