Quarta publicação do escritor reúne 38 poemas e sete letras de músicas que têm como elo a busca por libertação
Nascido no noroeste do Espírito Santo, Vander começou em Ecoporanga a escrever seus primeiros versos, mas foi quando se mudou para Vitória que passou a se dedicar com mais afinco à leitura e também à escrita. “Escrever para mim esteve sempre ligado à necessidade de alguma libertação e de autossuperação. Foi por uma necessidade pessoal muito grande de manifestação, falar de coisas espinhosas, difíceis de serem faladas, mas que é necessário falar, para nos livrarmos de fantasmas que não param de nos atormentar se não o enfrentamos”, relata.
Essa segue sendo a tônica de sua nova publicação, com versos diretos e sobre temas variados, mas que se conectam pela verve libertária seja no âmbito macropolítico, seja nas miudezas da vida, como nos poemas que trazemos no final da matéria. “Deixo-me conduzir muito mais pela intuição do que por um conhecimento prévio e, sendo assim, não me pergunte como se escreve um poema”, declara. “Simplesmente o escrevo, e pronto. Os temas no geral são variados. Depende muito do que me toca num determinado momento e me fustiga a escrever. Faço isso como tirar um espinho, que só deixa de incomodar depois que é retirado”.
Nossas Histórias começou a ser escrito em 2016, logo após o lançamento de sua terceira obra, Vozes em Nós. Vander considera que toda a crise social, ambiental, política, econômica, cultural e até sanitária dos últimos anos tenha influenciado na escrita, já que os últimos versos datam de meados de 2020.
Uma novidade na nova obra é a inclusão também de composições musicais. Junto aos 38 poemas, aparecem sete letras de músicas, que deverão fazer parte de um álbum a ser lançado em 2021, cujas gravações já começaram. São composições autorais em ritmos diversos e uma música cedida por Antônio Rodrigues de Oliveira, o Caboclo Sapezeiro, agricultor e artista popular quilombola. “Essa talvez seja a maior novidade deste livro com relação aos demais, porque mesmo sendo projetos diferentes, aproveito para falar do nosso trabalho musical e, através dele, da nossa produção poética”, considera Vander Costa.
Seu primeiro livro foi Poesia Provisória, de 2003, seguido de Eu Feito de Nós (2012) e Vozes em Nós (2016).
NADA MAIS SÉRIO
O mundo anda tão esquisito
que a coisa mais séria é brincar,
para que a maldade travestida de brincadeira,
não venha nos afetar
e a brincadeira, com ar de seriedade, nos ludibriar.
Brincar para ignorar a seriedade fingida
que visa nos enganar e dominar,
mas, o melhor ainda, brincar por brincar,
sem marcar posição, uma meta, o onde chegar,
pois a nossa cabeça não pode tão facilmente pirar.
Não falta quem não nos queira podar,
contudo, não entremos no jogo do baixo- nível,
não daremos bola, não vamos nos entregar,
a nossa brincadeira realmente é algo muito sério
e, com toda seriedade, continuemos a brincar.
RAIOS QUE ALUMIAM
A revolução
não tem cara amarrada
não é castradora
não é careta.
A revolução
é a potência
é o gozo
é a criação.
A revolução
é a empatia
é o desprendimento
é a libertação.
A revolução
são raios
que alumiam os caminhos
em noites de escuridão.