Galpão do Departamento, da década de 1930, não é tombado e está em estado de abandono
A licitação se direciona apenas ao galpão maior, mas existem outras cinco edificações menores que compõem o antigo complexo cafeeiro, numa área total de 16,2 mil metros quadrados, localizado às margens da rodovia ES-164. Parte das edificações é ocupada por moradores, e a área externa do galpão principal pela prefeitura para a fabricação de manilhas.
A reforma está orçada em pouco mais de R$ 500 mil, valor a ser coberto com verbas de emendas parlamentares. A intervenção prevê, de acordo com o edital, a revitalização dos três salões do imóvel, a partir da retirada de itens sem possibilidade de recuperação – como janelas de madeira, telhas e portões – e instalação de materiais semelhantes, junto a pintura, troca da cobertura e de revestimentos, reforço das estruturas e limpeza geral.
A intenção da Prefeitura de Vargem Alta é que o futuro Museu do Café apresente acervo histórico, exposições interativas e informações sobre o processo de produção do café e sua influência na economia local e nacional. Também está prevista a realização de atividades de degustação de café.
Segundo o trabalho de conclusão de curso da arquiteta Letícia Pin, o complexo de galpões de café da comunidade de Departamento teria iniciado suas atividades por volta de 1935, visando o depósito e beneficiamento do produto, que movimentou de forma intensa a economia do município na época. O clima frio, propício à produção cafeeira, foi um dos fatores principais para a construção no local de uma unidade do então Departamento Nacional de Café (DNC).
Letícia, que fez um projeto de requalificação da área a partir de um amplo levantamento de documentos históricos e depoimentos de pessoas da comunidade, aponta em sua pesquisa que o complexo de galpões começou a cair em desuso após a extinção do DNC, em 1946, que se transformaria no Instituto Brasileiro do Café (IBC).
Em 17 de novembro de 1975, o IBC vendeu o imóvel para o Estado do Espírito Santo, mas prosseguiu o processo de deterioração do espaço, que passou por saques de equipamentos, depredação e mau uso. Também foram feitas construções anexas no entorno, descaracterizando o conjunto arquitetônico. Atualmente, o prédio maior é utilizado por moradores como depósito de objetos pessoais.
Em 2005, a Secretaria de Estado da Agricultura, Abastecimento, Aquicultura e Pesca (Seag) assinou um termo de concessão da área para a Prefeitura de Vargem Alta, válido até 2032, mas só agora o processo de recuperação avançou.
Em julho deste ano, o produtor cultural Victorhugo Passabon Amorim lançou um site com uma mostra fotográfica do galpão. “Boa parte do material histórico foi saqueado. Uma história de Vargem Alta, do Estado e do Brasil que tem sido deixada de lado e aos poucos é tomada pelas ações da natureza. O assoreamento de terra toma o galpão, as ações de chuva e vento destroem os telhados. A Prefeitura, entretanto, tem a intenção de restaurar o espaço e construir um museu de memória do café no local”, diz o texto de apresentação.
Concessão e tombamento
No termo de concessão do complexo de galpões para a Prefeitura de Vargem Alta, o objetivo específico estabelecido foi o de instalar um Centro de Classificação e Degustação do Café, um Museu do Café e um centro de eventos relacionado ao agronegócio. Em 2011, foi feito um aditivo ao contrato de 2005 para a construção de uma quadra poliesportiva. Tanto na época da assinatura da concessão quanto na do aditivo a cidade era governada por Elieser Rabello (MDB), que desde 2021 cumpre um novo mandato como prefeito.
A quadra poliesportiva nunca chegou, porém, a ser concluída, e crianças da região utilizam o local como um campo improvisado de futebol de areia. Os demais planos para o espaço também não se concretizaram até o momento, em que pese o processo licitatório em andamento.
Em 2013, uma equipe da Secretaria de Estado da Cultura (Secult-ES) realizou visita técnica no complexo de galpões e declarou em relatório que o espaço era passível de tombamento, o que dependeria da realização de inventário e comprovação da titularidade das construções. Passados dez anos, o processo de tombamento não avançou.
Como o complexo de galpões não é tombado, a Prefeitura de Vargem Alta alega que não há problemas em haver residências no entorno.