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Vitória sob um olhar afrofuturista

Obra de Iaiá Rocha, “Um corpo para o futuro”, reúne fotografias de modelos negros na capital capixaba

“Um corpo para o futuro” é o nome do livro lançado no final do ano passado pela fotógrafa Iaiá Rocha. Cenários conhecidos da cidade de Vitória compõem as imagens, que reúnem 12 modelos negros com influência estética do afrofuturismo, com cores vibrantes, roupas e penteados especiais. “A perspectiva é de pensar no futuro de uma maneira positiva, um futuro que retoma a questão da ancestalidade, que não esquece a memória”, explica a fotógrafa.

O Museu Capixaba do Negro (Mucane), a Ponte da Passagem, a Vila Rubim e a sede da Varal Agência de Comunicação, em Itararé, são lugares escolhidos. Os modelos são amadores e foram escolhidos a partir de uma convocação aberta na internet para pessoas negras. De mais de 60 inscritos, selecionaram-se oito mulheres e quatro homens não a partir de suas imagens, mas de seus depoimentos escritos sobre sua relação com a negritude. 

Antes das fotografias, o grupo de modelos e a equipe de produção se reuniram para encontros e oficinas sobre psicologia corporal e saberes de terreiro, atividade facilitada pela artista Castiel Vitorino.

“A proposta foi trabalhar a felicidade, a resistência, a autoestima, o empoderamento. A gente teve um retorno muito positivos dos fotografados. Além de que foi um grande aprendizado em termos de equipe e produção”, conta Iaiá Rocha, que contou com apoio de uma equipe formada inteiramente por pessoas negras, sendo em sua grande maioria mulheres. O cenário é destacadamente urbano. e o figurino traz sobretudo roupas e acessórios reutilizados, como produtos de bazares e brechós, ou reciclados.

Com 72 páginas, o livro reúne mais de 50 das fotografias geradas pelo ensaio e está à venda ao preço simbólico de R$ 15. O resultado do trabalho também está sendo divulgado aos poucos na página no Instagram da Foto Melanina, projeto que deu impulso ao trabalho fotográfico de Iaiá Rocha a partir de 2018, reunindo ensaios que realizou gratuitamente com várias pessoas negras.

Formada em Psicologia pela Ufes e em Multimídia pelo CEET Vasco Coutinho, ela se envolveu com a militância no movimento negro na universidade a partir de 2015, mas só depois passou a se dedicar à fotografia de forma mais profissional, já munida da ideia de retratar pessoas negras, muitas vezes subrrepresentadas ou retratadas de forma negativa em nossa sociedade.

Com “Um Corpo para o Futuro”, que contou com patrocínio do edital estadual de cultura, o projeto iniciado com a Foto Melanina conseguiu ganhou mais fôlego para a produção e também um impulso para sonhar com outros projetos. Um deles pretende fazer um trabalho também pensado identidade negra, mas dessa vez com as crianças, buscando fomentar nas escolas atividades relacionadas com a história do povo negro e culminando num ensaio infanto-juvenil também com base na estética afrofuturista. O futuro é altamente ancestral.

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