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25 de julho homenageia as mulheres que lutam contra as desigualdades sociais

Um dia para dia reverenciar e dar visibilidade à emancipação das mulheres negras. Segmento da população que mais sofre com o feminicídio, a violência obstétrica e os baixos salários, a mulher negra latino-americana e caribenha tem, desde 1992, um Dia Internacional, que no Brasil foi decretado em 2014 – Lei nº 12.987 – pela então presidente Dilma Roussef, como o Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra.

Em Vitória, o Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do Espírito Santo (Sindiupes) realizou uma Roda de Conversa nessa quinta-feira (25), com a participação de palestrantes oriundos de movimentos sociais sobre o tema.

“Assim como Tereza, muitas mulheres foram e são importantes pra nossa história. Com trabalhos impecáveis de perseverança e liderança, muitas deixaram um legado maravilhoso, e essa Roda de Conversa é uma forma de homenagear os caminhos que essas pessoas percorreram pra diminuir as desigualdades”, declara Sandra Bremer, da Secretaria de Gênero do Sindiupes, uma das organizadoras do evento.

Líder quilombola que viveu durante o século XVIII, conhecida como “Rainha Tereza” no Vale do Guaporé (na atual fronteira entre Mato Grosso e Bolívia), Tereza tornou-se rainha do Quilombo após seu companheiro, José Piolho, ser morto por soldados do então governador Capitão-General da Capitania, Antônio Rolim de Moura.  Sob sua liderança, esse quilombo negro e indígena sobreviveu duas décadas, sendo então devastado, onde foram assassinados 70 negros e 30 índios que ali viviam. Não se tem certeza se Tereza foi morta nesta emboscada ou se suicidou.

“É uma história muito bonita de liderança e de amor pelo povo. A gente vê muito histórias das desgraças do povo negro”, pontua Sandra. “Cabe a nós nesse dia reverenciarmos e darmos visibilidade à emancipação das mulheres negras”, exulta.

Bantu

Neste âmbito, constatamos um abismo colossal, se compararmos as sociedades modernas e o povo tradicional Macua, expressivo em Moçambique, destaca o coreógrafo, pesquisador da Cultura Bantu – grupo etnolinguístico mais presente, entre os negros trazidos para o Espírito Santo – e idealizador do projeto Corpo Atlântico, Paulo Rodrigues.

Entre os Macua, relata Paulo, a ascendência materna é a mais importante, ou seja, o filho pertence à linhagem da mãe, por isso, na sucessão de um chefe político, dono das terras, em determinados grupos macuas, o herdeiro deveria ser o filho primogênito da irmã mais velha do falecido, e não como seria, na cultura ocidental, o filho do chefe com outra mulher. Para chefiar uma comunidade, o homem teria também de ter sua irmã no papel de conselheira.

“A mulher ainda detinha o controle dos meios de produção, em sua base mais agrícola, definindo o armazenamento do celeiro e a economia doméstica”, relata. “Ao se casar, não era o homem quem retirava a mulher da casa dos pais. Mas sim o marido quem se mudava para a casa da sogra, implicando conviver sob as diretrizes desse novo lugar. De certa forma, isso dilui o poder do homem, porque ele chega a um local onde não tem autoridade”, explica.

As mulheres macuas também promoviam o autoconhecimento corporal e a liberdade sexual, conta o pesquisador. “Para garantir o ingresso na fase adulta, a mulher passava por rito de iniciação que incluía técnicas para sentir prazer sexual”, exemplifica.

“Eram ensinadas não apenas a coordenar a casa, como também a elevar o prazer por meio de ervas inseridas na vagina, métodos que expandiam os grandes lábios do órgão genital, pinturas e ranhuras na coxa”, descreve. 

Números

Segundo pesquisa do Sindiupes realizada em função da data comemorativa e baseada no Portal Geledés, a população negra corresponde a mais da metade dos brasileiros: 54%, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Na América Latina e no Caribe, 200 milhões de pessoas se identificam como afrodescendentes, de acordo com a Associação Mujeres Afro.

Tanto no Brasil quanto fora dele, porém, essa população também é a que mais sofre com a pobreza: por aqui, entre os mais pobres, três em cada quatro são pessoas negras, segundo o IBGE.

De acordo com dados da Organização das Nações Unidas (ONU), dos 25 países com os maiores índices de feminicídio do mundo, 15 ficam na América Latina e no Caribe. O Brasil é o que tem o maior índice de feminicídios na América Latina.

Em um contexto de tanta violência, mulheres negras são mais vítimas de violência obstétrica, abuso sexual e homicídio. De acordo com o Mapa da Violência 2016, os homicídios de mulheres negras aumentaram 54% em dez anos no Brasil.

Barradas dos meios de comunicação, dos cargos de chefia e do governo, elas frequentemente não se veem representadas nem nos movimentos feministas de seus países.

Isso porque a desigualdade entre mulheres brancas e negras é grande: no Brasil, mulheres brancas recebem 70% a mais do que negras, segundo a pesquisa Mulheres e Trabalho, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), publicada em 2016.

Além disso, 71% das mulheres negras estão em ocupações precárias e informais, contra 54% das mulheres brancas e 48% dos homens brancos (IBGE).

Um outro estudo, realizado pelo Departamento Penitenciário Nacional (Depen), em 2014, mostra que 68% da população das penitenciárias femininas do País são mulheres negras, contra 31% de mulheres brancas e 1% de indígenas.

Os dados também apontam que 49% da população penitenciária feminina do País têm menos de 29 anos e 50% possuem apenas o ensino fundamental incompleto.

O levantamento revela, ainda, que o Brasil ocupa a 5ª posição da lista de 20 países com maior número de mulheres presas, ficando atrás apenas dos Estados Unidos, China, Rússia e Tailândia.

Calendário Feminista

24 de fevereiro – Dia da conquista do voto feminino no Brasil

8 de março – Dia Internacional da Mulher

30 de abril – Dia Nacional da Mulher

28 de maio – Dia Internacional de Luta pela Saúde da Mulher e Dia Nacional de Redução da Morte Materna

25 de julho – Dia Internacional da Mulher Negra Latino-americana e Caribenha

29 de agosto – Dia da Visibilidade Lésbica no Brasil

23 de setembro – Dia Internacional contra a Exploração Sexual e o Tráfico de Mulheres e Crianças

28 de setembro – Dia pela Descriminalização do aborto na América e Caribe

10 de outubro – Dia Nacional de Luta contra a Violência à Mulher

25 de outubro – Dia Internacional contra a Exploração da Mulher

25 de novembro – Dia Internacional da Não-Violência contra a Mulher

6 de dezembro – Dia Nacional de Mobilização dos Homens pelo Fim da Violência contra as Mulheres.

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