Marcada para julho, parada em Vitória será marcada por homenagens e reivindicações políticas
Após uma pausa de duas edições, o Manifesto LGBTQIA+ vai voltar a ser realizado em Vitória. A 11ª edição do evento acontece no dia 31 de julho, no Sambão do Povo, com expectativa de reunir um público de 10 mil pessoas. Em um cenário de ataques, falta de políticas públicas e violências diárias, o evento marcará a resistência da comunidade LGBTQIA+ capixaba, que luta, todos os dias, pelo direito de existir.
“A festa também é um ato político. A gente festeja, mas também reivindica e cobra. É um manifesto em que a alegria também tem uma função de subverter essa ordem LGBTfóbica que existe no Brasil”, declara Diego Herzog Peruch, presidente do Grupo Orgulho, Liberdade e Dignidade (Associação Gold), responsável pelo manifesto.
Essa mesma LGBTfobia, na maioria das vezes, faz com que a pessoa LGBTQIA+ seja colocada em uma posição de culpa ou de vergonha. Em um país que cultua a cisnormatividade e a heteronormatividade, onde só um tipo de corpo ou forma de se relacionar é imposta como correta, o manifesto também surge como um local de liberdade para ser quem se é.
“Quando essas pessoas chegam no manifesto e veem diversas pessoas iguais, entendem que, na verdade, não tem nada de errado com elas. É uma sociedade LGBTfóbica que tenta passar essa mensagem”, aponta Diego.
Para a coordenadora de ações e projetos da Associação Gold, Deborah Sabará, também “é um momento simbólico de se encontrar, falar para nossa população. É um momento que a gente tem que falar para 10 mil pessoas, pessoas da periferia, pessoas que precisam ouvir falas políticas”, afirma.
O título “Close, close, close” faz menção ao bordão de Cleópatra Santana, mulher trans reverenciada pela comunidade LGBTQIA+ capixaba. Nascida no interior do Espírito Santo, ela faleceu em 2020, durante a pandemia da Covid-19.
Cleópatra foi uma das entrevistadas do projeto “Ponto de Memória Aquenda as Indacas”, que coletou depoimentos de pessoas trans. No encontro, ela falou sobre a repressão policial que sofreu do período da Ditadura Militar, além de histórias curiosas sobre o dia do próprio nascimento..
“A Cleópatra contou uma vez que, quando ela nasceu, nas casa dela se ouvia um pássaro cantando muito alto. Só que não na casa não tinha nenhum pássaro, nem nos vizinhos. Ela classificou o episódio como muito estranho e esse pássaro foi o anunciador do nascimento dela”, explica Diego.
A homenagem também está presente na arte do Manifesto, de autoria da ilustradora capixaba Amanda Lobos, que mostra Cleópatra em cima de um pássaro no centro do Sambão do Povo.
Esta foi uma das formas encontradas para eternizar a memória da mulher que viu de perto a perseguição policial a pessoas trans, e já foi madrinha do manifesto LGBTQIA+ em edições passadas. Este ano, a madrinha do evento é Sandy Vasconcelos, cineasta, atriz, maquiadora e a primeira pessoa do Espírito Santo a fazer a cirurgia de redesignação sexual
A última edição do manifesto LGBTQIA+ de Vitória foi em 2019, quando centenas de pessoas saíram do Mercado da Vila Rubim e foram, em passeata, até o Sambão do Povo. “Retornar, depois desse isolamento, de tantas pessoas que a gente perdeu por causa da Covid-19, é um momento também de dizer pra população LGBTQIA+ que a gente precisa vencer todas as atrocidades da vida de forma coletiva. Só vamos vencer a Covid-19 se for de forma coletiva, e a dengue, o preconceito, o racismo, a transfobia, se tudo for coletivo. Precisamos pensar em estratégias juntos”, ressalta Deborah.
Diego lembra do mais recente ataque LGBTfóbico em Vitória, com a aprovação do Projeto de Lei 93/2022, na Câmara Municipal, nessa segunda-feira (6). O PL, de autoria do bolsonarista Gilvan da Federal (PL), proíbe o uso de banheiros unissex na Capital e é criticado pelo plano de fundo transfóbico. As únicas que votaram contra a matéria foram as vereadoras Karla Coser (PT) e Camila Valadão (Psol).
“Foi uma sessão com falas totalmente transfóbicas (…) Os [vereadores] que não votaram a favor se ausentaram da sessão. A gente fica com o questionamento se não foi também uma manobra política para que eles ficassem bem com os dois lados. Tanto com com o lado conservado, quanto com o lado LGBTQIA+”, afirma Diego.
Além de ser um grito contra projetos como esse, em um ano eleitoral, o manifesto também é um oportunidade de debater, juntos, uma solução para o País, aponta Deborah. “Nós só vamos conseguir tirar o fascismo do poder no Brasil quando, de forma coletiva, a gente pensar na estratégia de voto. É uma forma de resistência e de sobrevivência da população LGBTQIA+”, ressalta.
Programação
Além do evento no Sambão do Povo, a Gold prepara uma programação extensa para junho, por meio da Semana da Diversidade, que contará com ações como o terceiro mutirão de retificação de nome para pessoas trans. Na última edição, realizada na sede da associação, cerca de 270 pessoas deram entrada no processo de retificação.
A programação deste ano contará, ainda, com o primeiro concurso de performances de Drag Queen da Gold. As inscrições já estão abertas e vão até o dia 20 de junho, por meio de um formulário disponibilizado nas redes sociais da associação.
Para Deborah, o evento também pode se consagrar como uma renda extra para a população LGBTQIA+ capixaba. A ideia é fazer com que o manifesto gere empregos e movimente o turismo estadual.
“A gente está em busca de parceiros e empresas que queiram entrar para construir junto, fazer também com que a parada seja uma rota turística para o Espírito Santo. A gente sabe o quanto é possível gerar renda, empregos, hotelaria, viagens interestaduais com a parada, então queremos movimentar o trabalho, o emprego, a renda das pessoas”, explica.
Link do formulário do concurso de Drag Queen
Mais informações sobre o Manifesto: @associacaogold