Pessoas em situação de rua foram tiradas dos espaços públicos com presença da polícia
A gestão do prefeito de Guarapari, Rodrigo Borges (Republicanos), divulgou nas redes sociais uma ação a qual chama de “força-tarefa”, que tem retirado de espaços da cidade pessoas em situação de rua, inclusive, com abordagem policial. A iniciativa é alvo de críticas da Pastoral do Povo de Rua da Arquidiocese de Vitória. “A Prefeitura de Guarapari não faz distinção entre lixo e pessoa”, aponta o coordenador da Pastoral, Júlio César Pagotto.
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A abordagem, feita nas imediações do antigo Radium Hotel, no Centro da cidade, e na praça Philomeno Pereira Ribeiro, em Muquiçaba, foi coordenada pela Secretaria Municipal de Trabalho, Assistência e Cidadania (Semtac), com apoio da Companhia de Melhoramentos e Desenvolvimento Urbano de Guarapari (Codeg), Secretaria Municipal de Integração da Cidade (Semic), Secretaria Municipal de Meio Ambiente (Semma), Polícia Militar (PM) e Polícia Civil (PC).
No vídeo publicado pela gestão municipal, a vice-prefeita e gestora da Semtac, Tatiana Cozer Perim, afirma que a “força-tarefa” tem como objetivo “retomar os espaços da sociedade, os espaços públicos”. “Identificamos as pessoas em situação de rua, são encaminhadas para nosso centro de serviços, o Centro Pop, e realizamos toda ação de limpeza e organização, porque o espaço pertence à sociedade de Guarapari como um todo”, afirma. Também no vídeo, o presidente da Codeg, Ubirajara Ribeiro, apontou “devolver o espaço público em condição ideal para que a população possa ter novamente espaços para trazer suas famílias”.
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Júlio, da Pastoral do Povo de Rua, defende que a cidade também pertence à população em situação de rua e que a “força-tarefa” trata-se de “higienização social, criminalização do povo de rua, como forma de mostrar para a sociedade que a gestão está fazendo algo”.
Ele também aponta insuficiência nos serviços para a população de rua e destaca que encaminhar as pessoas para o Centro Pop, equipamento no qual elas passam o dia, não resolve o problema. “A Pastoral gostaria de fazer alguns questionamentos. A prefeitura aumentou a oferta no Centro Pop? Vai acolher todo mundo lá? Como estão as políticas de moradia, de emprego? Vai ter abrigo noturno? O Centro Pop é apenas um serviço da política para pessoas em situação de rua”, ressalta.
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Júlio também faz críticas à participação das polícias Militar e Civil na abordagem. “A Assistência Social acompanhada da força policial afasta possibilidade de diálogo. Como diz a música dos Titãs, ‘polícia para quem precisa de polícia’. A gente chama a polícia quando alguém está cometendo um crime”, defende o agente de pastoral, que acrescenta: “as pessoas em situação de rua têm direito de circular pelas ruas, inclusive, de ficar paradas nos lugares, se não está agredindo ninguém, se não está destruindo o patrimônio”.
Ele reforça que a “força-ttarefa” é uma violação de direitos e que a Pastoral vai averiguar se houve violações mais graves, como a coação para que as pessoas não voltem ao local de onde foram retiradas. Caso haja, a Defensoria Pública do Espírito Santo (DPES) será acionada. A abordagem feita em Guarapari foi denunciada também pelo padre Júlio Lancelotti, que em suas redes sociais publicou o vídeo divulgado pela prefeitura afirmando que a narrativa da gestão municipal é “repressiva”.