Ato parou trânsito de ônibus da mineradora durante visita do presidente e diretoria-executiva
“A Vale mente”. O grito de ordem deu o tom da manifestação realizada pelo Sindicato dos Ferroviários do Espírito Santo e Minas Gerais (Sindfer ES/MG) na manhã desta quarta-feira (16), em frente ao portão de entrada da unidade de Tubarão, em Vitória, durante visita da diretoria-executiva e do presidente da empresa, Eduardo Bartolomeo.
Por mais de três horas, os ônibus com empregados foram paralisados pelos manifestantes, que distribuíram informativos e conversaram com a categoria sobre a necessidade de união para frear a política de demissões em massa executada pelo alto escalão da maior empresa do país.
A paralisação atingiu turnos e o setor administrativo da empresa, que correspondem a cerca de 3,5 mil empregados. No pico do ato, pelo menos 70 ônibus que atendem a empresa ficaram perfilados, do acesso ao Complexo de Tubarão à Praia de Camburi. O ato contou com o apoio de diversos sindicatos capixabas.
As demissões têm ocorrido em todas as unidades da Vale no país. Foram mais de 250 trabalhadores somente nos dois estados de atuação do Sindfer, sendo milhares nas demais regiões. Ação que contraria os crescentes lucros da mineradora. Somente em 2021, foram R$ 121 bilhões.
O presidente do Sindfer, Wagner Xavier, afirma ser inadmissível a continuidade dessa política, que não poupa nem mesmo os trabalhadores que atravessam problemas de saúde. “Trata-se de uma redução de custos que chega às raias da ganância”, classificou.
O Sindicato ressalta que, nas negociações salariais do segundo semestre do ano passado, a Vale reajustou os salários dos empregados com apenas 80% da inflação acumulada no período, sob o argumento de manter a sustentabilidade das plantas em todo o país e, com isso, garantir os postos de trabalho.
“A Vale claramente mentiu: as demissões aumentaram”, protestou o dirigente, que tem intensificado as ações judiciais buscando as reintegrações dos trabalhadores, além de denunciar o caso ao Ministério Público do Trabalho (MPT). Novos protestos não estão descartados, assegurou.
“A desfaçatez é tamanha que a empresa nem mais se constrange em demitir sob a alegação de redução de custos, tendo em seu cofre R$ 121 bilhões de lucro acumulado somente em 2021 e a perspectiva de crescimento ainda mais recorde do valor das ações e preço do minério de ferro, níquel, cobre, entre outros”, apontou a entidade, em vídeo compartilhado em suas redes sociais.
“No momento em que o país atravessa uma crise econômica sem precedentes, agravada pela pandemia e a guerra, com seu processo de demissão a Vale contribui para engrossar o exército de 15 milhões de desempregados brasileiros”, contextualiza.
O sindicato ressalta que “a Vale tem uma dívida social, ética e moral para com seus trabalhadores, o Brasil e os brasileiros”, citando números dos dois rompimentos de barragens protagonizados pela maior mineradora do mundo, em Mariana, em 2015, e em Brumadinho, em 2019. “Sob os escombros, 19 pessoas morreram em Mariana. Em Brumadinho, perderam a vida outras 270 pessoas, entre as quais duas grávidas, o que aumenta o número para 272. Sob sua lama tóxica, os rios Doce e Paraopebas foram contaminados, matando milhares de espécimes vegetais e animais”.
O marketing externo e interno também foram alvo de críticas por parte do Sindfer. “Se por um lado a empresa informa em seu Relatório do Programa de Ética e Compliance 2021 e espalha amplamente a notícia de ter demitido 157 trabalhadores por violação do Código de Conduta, por outro esconde a demissão de milhares de trabalhadores com sólida e excelente performance”.
Enquanto “vende a imagem de preocupação com um ambiente de trabalho seguro”, a direção da companhia, na prática, “eleva de forma irresponsável o nível de estresse dos empregados, expondo-os a acidentes de trabalho”, denuncia o sindicato, que faz um chamamento para uma grande mobilização nacional.
“A luta contra as demissões da Vale é uma urgência nacional. O Sindfer conclama os dirigentes dos demais doze sindicatos que atuam na empresa para unir esforços na construção de um amplo movimento de mobilização que interrompa o processo de demissão em curso e garanta nossos postos de trabalho”.