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​Abusos contra crianças podem aumentar com isolamento social

Alessandra Azevedo, presidente do Criad, alerta para possível subnotificação de casos, que muitas vezes ocorrem em casa

Os tempos de isolamento social devido à pandemia da Covid-19 reconfiguram uma série de questões na sociedade e também geram outras a serem resolvidas. Uma das preocupações está na questão da violência e abusos contra crianças e adolescentes, que podem tanto aumentar em número de casos como diminuir em denúncias.

“A figura do agressor, do abusador, geralmente é uma pessoa próxima do convívio dessas crianças, como um padrasto, tio, vizinho. A questão do isolamento tende a agravar os casos, pois as crianças estão passando mais tempo em seus lares”, diz Alessandra Zardo Azevedo Venturim, assistente social e presidente do Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente (Criad).

Ela alerta que geralmente as crianças em maior situação de vulnerabilidade social costumam passam um tempo maior na escola e atividades de contraturno e também encontram no ambiente escolar um espaço para se expressar e pode dar origem a uma denúncia. Como muitas vezes o abusador ameaça a criança ou ela pode sentir medo de ser culpada ou não levada a sério ao acusar alguém adulto e próximo à família, elas preferem falar sobre a questão fora do ambiente familiar.

Os professores costumam ser vistos como possíveis confidentes, pessoas confiáveis para se abrirem e expor a situação que enfrentam. O ambiente educacional e outros serviços como os de acolhimento e assistência social costumam ser aliados para as denúncias de abusos, mas as escolas estão com atividades suspensas e os Centros de Referência em Assistência Social (Cras) funcionando apenas com atividades remotas.

Por isso vem a necessidade de ampliar mais ainda a divulgação de canais como o Disque 100, linha telefônica especial para recebimento de denúncias de abuso e exploração sexual contra crianças e adolescentes.

Divulgação

Entidades do poder público e da sociedade civil estão se organizando para visibilizar a questão. Na próxima segunda-feira, 18 de maio, é o Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual Contra Crianças e Adolescentes, uma data que faz referência ao bárbaro crime contra a menina Araceli Cabrera Crespo ocorrido no ano de 1973, em Vitória.

Alessandra Zardo alerta que as campanhas têm importância também para conscientizar as famílias e responsáveis sobre formas de se proteger contra possíveis abusos que possam ocorrer dentro de casa ou nas situações em que se faz necessário delegar o cuidado das crianças para outras pessoas por conta de trabalho ou outros motivos. “É preciso ter um olhar atento à criança, geralmente ela emite sinais quando é violentada e isso passa desapercebido no próprio lar”, explica a presidente do Criad.

Geralmente o 18 de maio é marcado por uma série de atividades presenciais, que incluem ações nos equipamentos e serviços de assistência social e acolhimento, caminhadas, panfletagens, entre outras atividades. Porém, devido à situação de isolamento social, a campanha deste ano, que conta com adesão e mobilização de diversos municípios, vai focar em ações virtuais por meio das redes e na divulgação dos canais para contato, dúvidas e denúncias.

Segundo a assistente social, no ano passado, o Disque 100 recebeu cerca de 700 denúncias no Espírito Santo. “Agora estamos no olho do furacão, é difícil saber. No fim do ano teremos como analisar com mais clareza com base em relatórios”, diz Alessandra sobre a atual situação.

Na segunda-feira (18), às 10h, a Ordem dos Advogados do Brasil no Espírito Santo (OAB-ES), por meio de sua Comissão de Infância e Juventude, vai realizar um debate online sobre o tema, convidando a diversos especialistas para refletir sobre os desafios nesses tempos de pandemia. A inscrição pode ser feita aqui

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