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Anciã Guarani recebe medalha Chico Mendes, do Grupo Tortura Nunca Mais

Dona Marilza Silva (Keretxu Endy) foi uma das vítimas da ditadura militar, aprisionada na Fazenda Guarani

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A anciã Guarani Marilza Silva, Keretxu Endy na língua indígena, foi homenageada com a medalha Chico Mendes, em cerimônia realizada pelo Grupo Tortura Nunca Mais, no Rio de Janeiro, nessa segunda-feira (3). Neta da xamã Tatanti Rua Retee, que guiou seu povo até Santa Cruz, no norte do Estado, na década de 1960, Keretxu Endy é a sobrevivente mais velha, no Espírito Santo, entre os indígenas que foram aprisionados pela ditadura militar na extinta Fazenda Guarani, em Carmésia, Minas Gerais.

Na época, o povo de Tatanti estava em Guarapari, no sul do Estado, conta o filho de Keretxu, o Cacique Pedro, da aldeia Piraquê-açu. “Até hoje ela sente tudo o que aconteceu naquela época. Eles pensavam que iam ter uma situação melhor quando chegassem na Fazenda, mas não foi desse jeito. Tinha uma cadeia! Os Guarani não gostaram, ficaram quase dois anos e depois fugiram”, relata, ressaltando que ele é o único filho que sobreviveu às violências sofridas pela mãe no aprisionamento.

O sofrimento, afirma, permanece nas memórias da anciã e se somam às dificuldades enfrentadas na vida em Santa Cruz, onde a natureza continua sendo poluída e sufocada pelos grandes empreendimentos que circundam e mesmo invadem a Terra Indígena.

Uma experiência que busca mostrar para os não indígenas o modo de ser e ver o mundo do povo Guarani é a Aldeia Temática, criada há cerca de oito anos próximo à aldeia Piraquê-açu, onde várias estruturas tradicionais são abertas à visitação. Mediante agendamento, escolas e outros grupos podem conhecer a dança, as trilhas, o Coral Guarani, o rio e as belezas da vida no território.

O Cacique Pedro integra a coordenação da Aldeia Temática e reconhece a importância da experiência para reduzir a discriminação contra seu povo, além de ser uma fonte de renda, por meio do turismo de base comunitária. O trabalho, no entanto, está longe de garantir a segurança e saúde do território que as famílias precisam. Especialmente as gerações mais antigas, sofrem muito com a pressão sofrida e a saudade de tempos mais abundantes em recursos naturais e paz.

Perto de completar 73 anos, Cacique Pedro conta que a mãe tem sido tocada por um sonho recorrente, que a faz querer sair do território atual em busca de uma nova Terra Sem Males. “Ela quer viver numa floresta grande, com muitos animais e árvores, com ar puro e com menos brancos por perto”, diz.

Resistência há 35 anos

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Conforme noticiado pela Associação dos Docentes da Universidade Federal Fluminense (Aduff), a cerimônia de entrega da 35ª Medalha Chico Mendes de Resistência, organizada pelo Grupo Tortuna Nunca Mais, teve como homenageados, além da anciã Guarani, as seguintes personalidades: o cantor e compositor Geraldo Azevedo; Walter de Souza Ribeiro (desaparecido durante a ditadura); Sabino Alves (camponês desaparecido no Araguaia); Belela Herrera (ativista dos direitos humanos uruguaia); Coletiva Resistência Lésbica da Maré (acolhimento antimanicomial para lésbicas – cis e trans – de favelas); Milton Barbosa (fundador do Movimento Negro Unificado) e Maria das Graças Nacort (diretora da Associação de Mães e Familiares de Vítimas de Violência no Espírito Santo – AMFVV/ES).

Realizada todo 1º abril ou em data próxima, com a intenção de relembrar as atrocidades da ditadura empresarial-militar iniciada em 1964, a Medalha Chico Mendes de Resistência foi instituída há mais de três décadas, pelo Grupo Tortura Nunca Mais-RJ. O objetivo é homenagear pessoas, movimentos sociais e entidades que se destacam nas lutas de resistência popular, contra a repressão e todas as formas de violência institucionalizada, na defesa dos Direitos Humanos e dos povos.

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