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Associação lança pesquisa para mapear comunidade LGBTI+ de Guarapari

Projeto busca ampliar visibilidade e embasar reivindicações

Associação Diversidade, Resistência e Cultura (ADRC): Divulgação

A Associação Diversidade, Resistência e Cultura (ADRC) lançou um mapeamento inédito da população LGBTI+ de Guarapari, com objetivo de coletar informações sobre identidade de gênero, orientação sexual, condição socioeconômica, acesso à saúde e segurança da comunidade. O secretário da entidade, Leonardo Brandão, explicou que a iniciativa visa fortalecer ações da entidade e embasar reivindicações políticas.

“Nós conhecemos a maioria, mas não sabemos a realidade de todo mundo. Com isso, esperamos entender mais sobre nosso público e suas demandas”, afirmou. Segundo ele, o mapeamento pretende preencher essa lacuna e resultar em um diagnóstico preciso da comunidade que possa direcionar melhor as ações.

Os participantes podem compartilhar suas experiências de forma anônima, por meio deste formulário online. A pesquisa, que será utilizada exclusivamente para fins estatísticos, servirá como base para a formulação de projetos, ações sociais e propostas de políticas públicas. O secretário ressaltou que os dados individuais dos participantes não serão divulgados, garantindo a privacidade das informações coletadas.

Leonardo observa que a falta de dados concretos sobre a população LGBTI+ é um desafio para a construção de políticas públicas eficazes. Por isso, a iniciativa busca ampliar a visibilidade da comunidade em Guarapari e garantir que suas necessidades sejam reconhecidas e atendidas.

“Sem informações precisas, fica difícil cobrar ações do poder público. O mapeamento é um passo fundamental para conquistarmos avanços e garantias de direitos”, destaca a associação na apresentação do formulário.

A pesquisa traz perguntas sobre identidade de gênero, orientação sexual, escolaridade, emprego, condição financeira, acesso a serviços de saúde especializados e episódios de discriminação ou violência. Além disso, busca compreender o nível de conhecimento da comunidade sobre leis e direitos LGBTI+, bem como sua participação em movimentos sociais e culturais.

Entre os principais desafios enfrentados pela população LGBTQIA+ de Guarapari, ele cita a falta de visibilidade, de empregabilidade e de investimentos em políticas públicas de diversidade. “A empregabilidade é um problema que persegue as pessoas LGBTs”, ressaltou. Em consideração ao problema da exclusão no mercado de trabalho, que ainda é uma realidade para muitas pessoas da comunidade, a DRC estabeleceu uma parceria com a doceria “A Minha AVó Fazia”, administrada por um casal gay em Guarapari, e estão construindo um banco de currículos de pessoas LGBTQIA+ em busca de trabalho.

“A ideia é estruturar esse formulário de forma descontraída, sem ser muito técnico, para que as pessoas possam contar suas experiências do jeito que sabem”, explicou. O banco de currículos permitirá que a DRC busque outras empresas parceiras, conecte empregadores a trabalhadores LGBTQIA+ e promova oportunidades de inclusão no mercado de trabalho. “Queremos orientar as pessoas para o primeiro emprego e ampliar o acesso à empregabilidade na comunidade”, enfatizou.

Além disso, a ADRC tem buscado diálogo com a Secretaria de Assistência Social, que também é comandada pela vice-prefeita de Guarapari, Tatiana Perim (Republicanos). Durante uma reunião recente, a associação pontuou a necessidade de criação de um ambulatório trans no município, voltado ao atendimento da população trans e travesti. “Nos informaram que isso está sendo alinhado, mas sem confirmação concreta”, revelou Leonardo.

A ausência de iniciativas governamentais também reflete na cultura e no lazer. “Os projetos culturais voltados para a população LGBTQIA+ em Guarapari são poucos. Os que existem são promovidos por nós ou por alguns parceiros, mas nada diretamente pensado para atender essa comunidade”, criticou.

Qualquer pessoa LGBTI+ de Guarapari pode responder ao questionário. A ADRC reforça a importância da participação e ressalta que os dados serão fundamentais para direcionar futuras iniciativas e ações em prol da inclusão e do respeito. Com essa pesquisa, espera-se um panorama mais preciso sobre a realidade da comunidade LGBTI+ na cidade, possibilitando a reivindicação de políticas que garantam uma Guarapari mais acolhedora e igualitária.

Desafios na Câmara

O representante da associação destacou que, apesar da necessidade de políticas públicas, a Câmara Municipal apresenta resistência a pautas voltadas à população LGBTQIA+. “A gente sabe que, com a Câmara horrível que temos, quase nenhum projeto voltado para LGBTs vai ser aprovado, mas vamos fazer o nosso trabalho e seguir na luta”, afirmou. Ainda assim, a associação pretende usar o levantamento para embasar diálogos com vereadores e deputados na busca por avanços.

Recentemente, o vereador Vinicius Lino (PL) protocolou um projeto de lei que propõe a proibição da participação de crianças e adolescentes em Paradas LGBTQIAPN+, em locais públicos ou privados, salvo autorização judicial. O descumprimento da norma resultaria em multa de cinco salários-mínimos, aplicada aos realizadores do evento, patrocinadores e até aos pais ou responsáveis pelas crianças e adolescentes presentes.

A Associação Diversidade, Resistência e Cultura classificou o projeto como “discriminatório e inconstitucional”, argumentando que ele viola direitos garantidos pela Constituição, como a igualdade, liberdade de expressão e reunião, além da convivência familiar e comunitária. Segundo a entidade, eventos como Paradas LGBTQIAPN+ são espaços de celebração e luta por direitos, sem qualquer conteúdo impróprio para menores. A ADRC já tomou medidas jurídicas contra a proposta e exigiu sua retirada da Câmara.

Outra medida que provocava perseguição e exclusão no município, para o secretário da associação é a Lei Municipal nº 5.036/2025, do vereador Professor Luciano (PP) aprovada pela Câmara e promulgada em janeiro, que censura o debate de gênero nas escolas. A ADRC acionou o MP contra a lei, reforçando que impedir discussões sobre gênero e diversidade compromete a construção de uma sociedade mais igualitária e agrava a discriminação contra pessoas LGBTQIA+. O Ministério Público considerou a norma inconstitucional, argumentando que legislar sobre diretrizes da educação é competência da União.

Nesta semana, a Câmara de Guarapari também votou uma moção de repúdio apresentada pelo vereador Vinicius Lino (PL) contra a deputada estadual Camila Valadão (Psol), sob a alegação de que a parlamentar estaria interferindo no legislativo municipal ao acionar a Justiça capixaba contra a lei que proíbe a chamada “doutrinação de gênero” nas escolas. A moção de repúdio foi rejeitada em votação nessa quinta-feira (6). Os vereadores Professor Luciano (PP), Oldair (União), Leandro Inácio (DC), Vinicius Lino (PL), Thiago Garrocho (PL), Thiago Magno (Republicanos) e Izac Queiroz (PP) votaram a favor do repúdio contra a deputada. A presidente da Casa, Sabrina Astori (PSB), responsável pela promulgação da lei após o Poder Executivo não se manifestar no prazo regimental, não votou. Os demais vereadores votaram contra a moção.

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