As jovens Thalita Mozer e Edlidiane Oliveira, a Lili, ajudaram o Brasil a conquistar o inédito título de campeão mundial de futsal feminino de surdas, realizado na cidade de Winterthur, na Suíça, durante os dias nove a 16 de novembro.
Inédita também é a primeira convocação capixaba para a seleção brasileira feminina de futsal de surdos, feito em março pela Confederação Brasileira de Desportos de Surdos (CBDS).
“Ela está maravilhada, na esperança de conseguir a Bolsa Atleta e ter visibilidade para outros times onde ela tenha um futuro promissor”, declara Lourdilene Mozer, mãe de Thalita. “Está encantada com o país de primeiro mundo, ainda acha que está sonhando”, sorri a mãe orgulhosa. “Eu tenho esperança de que ela consiga mesmo ser reconhecida por algum time de potencial e galgar outros horizontes, onde ela possa ter um futuro como profissional de verdade”, projeta.
Um convite já aconteceu, pelo Vila Nova, clube profissional de futsal de Vila Velha, o que animou muito a todas. No momento, no entanto, neste final de ano, o foco é conseguir concluir o ensino médio. E, em 2020, uma meta importante é fazer um curso Kumon, de complementação escolar, e passar em um vestibular para cursar educação física a partir de 2021.
O pedido de Bolsa Atleta já foi feito e a medalha de ouro mundial, acredita Lourdilene, deve ajudar em mais essa conquista, que vai garantir um conforto financeiro para a família, em torno de R$ 1,5 mil por mês.
O valor é fundamental para assegurar a carreira da jovem. Somente este ano, desde que a filha recebeu o convite da CBDS, Lourdilene calcula que foram levantados pelo menos R$ 20 mil para custear a viagem internacional deste mês e os treinos táticos mensais em Jundiaí, São Paulo.
O montante foi conseguido junto a amigos e familiares durante os últimos oito meses, por meio de uma Ação Entre Amigos.“Muito óleo de peroba na cara todo mês”, brinca Lourdilene, recordando-se que, de cada 200 contatos feitos, apenas dez retornavam de forma positiva. Entre as negativas, impressionou a falta de apoio por parte da Câmara de Vila Velha, Assembleia Legislativa e governo do Estado. “Não nos deram nada”, lamenta.
“Ou eu perdia a vergonha ou minha filha não viajava. Preferi esquecer a vergonha e correr atrás”, diz Lourdilene, acentuando a corretora Stalafe Saúde, que disponibilizou a hospedagem de Thalita na Suíça e a Coclear, empresa australiana que vende aparelhos de implante coclear no Brasil, os mesmos utilizados pelas duas atletas, e que conseguiu as passagens aéreas.
Durante os campeonatos de surdas, no entanto, o aparelho é retirado e todas as atletas e equipe técnica, juiz e auxiliares apenas se comunicam com gestos. E que gestos! E que festa! A seleção brasileira feminina de futsal fez uma campanha impecável, ganhando todos os jogos e fechando a final com uma goleada de 4 x 0 sobre a Polônia.
Em Cascavel, Paraná, cidade natal de uma das atletas, as jovens campeãs, de volta ao Brasil, circularam no carro do Corpo de Bombeiros em carreata pela cidade. Em Vitória, há uma agenda sendo marcada com o governador Renato Casagrande (PSB), provavelmente para a próxima semana.