Marcela é deficiente visual total e sonha em conseguir um cão-guia. Um sonho, segundo ela define na página da campanha, “de liberdade e inclusão”. A “vakinha eletrônica” está no ar desde o início de janeiro, com o nome “Suas patas abrem caminhos”. Já subiu a meta para R$ 20 mil, tendo alcançado quase dois terços, com ajuda de mais de 160 pessoas.
A intenção é conseguir R$ 40 mil, um pouco mais do que o custo que o Instituto tem para trazer um único cão-guia dos Estados Unidos: R$ 35 mil. O valor é relativo aos custos de treinamento do cão durante cerca de dois anos. “Esse dinheiro vai ajudar a fila a andar mais”, argumenta a estudante.
O Instituto Íris é uma das poucas ONGs do Brasil a fazer esse trabalho. Há os Institutos Federais também, como o Ifes de Alegre, mas que não podem receber doações de pessoas físicas. E neles, segundo Marcela, as doações de cães-guias acontecem num ritmo ainda mais lento que nas entidades.
Em todas elas, no entanto, sejam governamentais ou não-governamentais, não é possível comprar um cão-guia, apenas se cadastrar e aguardar a doação. E a fila não segue uma ordem de chegada, mas sim de necessidade do deficiente e compatibilidade com os cães disponíveis.
A pessoa já tem que ter uma certa independência, conseguir se locomover bem com bengala, para poder se cadastrar nas instituições. “A bengala nos dá noção geográfica. O cão é os nossos olhos, mas quem pensa é a gente, quem dá os comandos pra ele, então tem que ter boa noção do espaço”, explica Marcela.
Os guias caninos são um auxílio importantíssimo pros deficientes visuais que já se locomovem com bengalas. Há buracos no chão e obstáculos aéreos, por exemplo, que só os cães conseguem perceber a tempo de evitar um acidente.
No vídeo que fez para a campanha, Marcela detalha melhor essa situações e conta toda a sua história, desde a infância, quando começou a perder a visão em função de um um tipo de câncer chamado retinoblastoma, diagnosticado quando ela tinha um ano e oito meses.
Assistir ao vídeo e vê-la caminhando com desenvoltura pelas ruas, nos faz lembrar o quanto os passeios públicos e vias de nossas cidades são inapropriadas para o ser humano em geral, especialmente as pessoas com deficiência e idosos.
“As calçadas são muito esburacadas, com muitas árvores, muitos obstáculos. E as pessoas ainda deixam bicicletas e lixeiras nos lugares errados”, observa a estudante, que já escolheu a acessibilidade como seu tema de Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) da faculdade. “A legislação existe, mas nada é colocado em prática”, afirma.
A campanha “Suas patas abrem caminhos” está no ar e as doações podem ser feitas em qualquer valor.