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Projeto de pensão para filhos separados dos pais com hanseníase sai de pauta

Heraldo Pereira, que preside associação no ES, critica articulação que atenderia ao governo federal

Ainda não foi desta vez que o Projeto de Lei 2104/2011 foi votado na Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJC) da Câmara dos Deputados. A proposta foi retirada de pauta nesta terça-feira (7), após o deputado federal Giovani Cherini (PL-RS) pedir vista. Questionado pela deputada Maria do Rosário (PT-RS), ele afirmou que “cumpria a missão de representar o PL e o governo [governo Bolsonaro]”.

A proposta, de autoria do deputado Diego Andrade (PR-MG), prevê uma pensão vitalícia de cerca de R$ 1,6 mil para os filhos separados dos pais com hanseníase. No Espírito Santo, se a pensão for concedida, serão beneficiadas cerca de 650 ex-internos do Educandário Alzira Bley, no bairro Padre Matias, em Cariacica, para onde as crianças eram levadas quando seus pais, com hanseníase, eram internados compulsoriamente no hospital Pedro Fontes, que fica ao lado do Alzira Bley.

O presidente da Associação dos Ex-Internos do Preventório Alzira Bley, Heraldo José Pereira, afirma que o ocorrido na CCJ “já era esperado vindo de quem está hoje no poder”, uma vez que “este governo não se preocupa com questões sociais”.

O deputado Cherini, durante a reunião na CCJ, demonstrou desconhecimento em relação à proposta, ao dizer que ela beneficiará mais de 155 mil pessoas com hanseníase no país. Maria do Rosário contestou, explicando que os beneficiados são os filhos separados dos pais em virtude dessa doença na época do isolamento compulsório, que totalizam cerca de 12 mil.
O coordenador do Movimento de Reintegração de Pessoas Afligidas pela Hanseníase (Morhan), Artur Custódio, em vídeo publicado em suas redes sociais, afirmou que uma das estratégias da entidade será dialogar com a base do Rio Grande do Sul para que pressione Cherini a se posicionar favorável à iniciativa.
A CCJ é a última Comissão da Câmara na qual o projeto precisa ser apreciado. A votação nesse colegiado seria no final de 2020, mas foi adiada diversas vezes. A proposta já foi aprovada na Comissão de Finanças e Tributação (CFT) e na de Seguridade Social e Família (CSSF). Caso passe pela CCJ, irá para o Senado, onde será apreciada nessas três comissões.
A pensão de R$ 1,6 mil tem como parâmetro a Lei nº 11.520, oriunda da Medida Provisória (MP) 373/2007, que instituiu esse benefício aos pais que foram submetidos ao isolamento e internação compulsórios em hospitais-colônia até 31 de dezembro de 1986. Além da pensão, essas pessoas conquistaram uma indenização no valor de R$ 100 mil.
A prática do Estado de separar os filhos dos pais com hanseníase teve início na década de 20, no contexto da política de isolamento e internação compulsórios de pacientes que tinham a doença, no primeiro governo do presidente Getúlio Vargas. Com a descoberta da cura da enfermidade, o fim da internação compulsória ocorreu em 1962, mas há registros de que continuaram a acontecer, em todo o país, até a década de 80. Os filhos, caso fossem saudáveis, eram levados para os chamados preventórios.
Na justificativa do Projeto de Lei 2104/2011, é destacado que a maioria dos pacientes dos hospitais-colônia foi “capturada” na juventude. “Muitos se casaram e tiveram filhos durante o período de internação. Os filhos, ao nascer, eram imediatamente separados dos pais e levados para instituições denominadas ‘preventórios’. Na maioria dos casos, não tinham quase nenhum contato com os pais”, destaca.

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