Uma mãe registrou boletim de ocorrência após acionar o serviço para o filho autista
O coletivo já solicitou a presença do secretário de Saúde, Nésio Fernandes, para discutir o assunto em uma reunião. “Se não nos receberem, a gente vai direto para o Palácio, ficar lá até alguém vir falar conosco”, alerta a fundadora e coordenadora-geral do coletivo, Lúcia Mara Martins.
O grupo decidiu realizar o protesto após Andreia Felix dos Santos, moradora do bairro Bela Aurora, em Cariacica, registrar um boletim de ocorrência pela abordagem inadequada de agentes do Samu, com ameaças, gritos e tapas ao filho de 13 anos. O adolescente, autista, sofreu um surto psicótico e precisou ser transferido para o Hospital Estadual Infantil e Maternidade Alzir Bernardino Alves (Himaba), em Vila Velha, trajeto em que as agressões teriam ocorrido.
“É um absurdo. O Estado tem que se preparar, tem que preparar os profissionais para atender pessoas nesse tipo de situação, e a gente vê que está muito aquém do necessário. O Estado está totalmente omisso. É como se essas pessoas não existissem. Isso é uma violência”, aponta Lúcia.
Por meio da coordenação do Samu, a Sesa nega as denúncias, alegando que recebeu o chamado para atendimento de criança com surto psicótico, mas que não houve falha no atendimento ou agressão.
“Ao chegar na residência, o responsável pelo menor já o estava contendo devido a sua agitação. A equipe do Samu assumiu a contenção aplicando os protocolos para o caso, e não uso de força bruta. Durante o percurso, a criança conseguiu se soltar da contenção e foi necessário parar a ambulância para aplicar o protocolo novamente em segurança”, informou a secretaria, se colocando à disposição da família para esclarecimentos.
Apesar da resposta da pasta, relatos parecidos são recorrentes, afirma Lúcia Mara Martins. “As pessoas falam. Famílias em situação de risco têm medo de acionar o Samu, por conta dessas questões (…) A criança está lá internada com fratura, com laudo médico”, ressalta.
A Sesa alega ainda que o Samu recebe treinamentos de qualificação do atendimento e as diretrizes são discutidas pela Comissão de Saúde da secretaria. No entanto, as denúncias da mãe do adolescente apontam que todo o trajeto foi marcado por gritos e ameaças por parte dos profissionais, que já chegaram ao local estressados. “Um deles já chegou ignorante, dizendo que odiava pegar caso de psiquiatria e que, nesses casos, tinha que bater mesmo. A gente só teve paz quando entrou no Himaba”, relata.
Para Lúcia, toda a situação é revoltante. Por isso, na terça-feira, uma das reivindicações do coletivo vai ser por um tratamento mais humanizado nessas situações. “Que essa seja a última vez, que casos como esses não venham mais ocorrer no Espírito Santo. A gente está cansada desse tratamento. O Samu precisa preparar melhor os seus profissionais, uma formação humanizada e sensibilizada, para que esses profissionais possam se colocar no lugar do outro. E se fosse o filho deles? Eles fariam dessa forma? Eles aceitariam esse atendimento?”, questiona.