A Comissão de Anistia do Ministério da Justiça entrega, nesta quinta-feira (9), às Comissões da Verdade da Universidade Federal do Estado (Ufes) e da Escola de Magistratura do Estado (Emes), relatórios que traçam, a partir de seu acervo, o perfil de anistiados ligados a essas instituições. Foram mapeados o local e circunstâncias das perseguições, os nomes de agentes do Estado que participaram das violações, os centros de detenções e informações que contribuem para o esclarecimento das violações de direitos humanos no período de exceção.
Perly Cipriano é um dos perfis identificados. Ele era estudante na Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), participava do movimento estudantil e era filiado ao PCB, atuando junto a trabalhadores rurais. Foi preso e torturado antes de finalmente partir para o exílio.
Perly começou sua carreira política em 1960 no PCB e no movimento estudantil. Em 1965, participou do Congresso da Une, em São Paulo, quando cursava odontologia na Ufes, mas teve de deixar o Brasil por conta da perseguição da ditadura faltando um mês para a conclusão do curso. Foi preso pelo Exército e no Quartel da PM em Vitória. Em 1967 foi preso pelo Departamento de Ordem Política e Social (Dops), em Niterói, no Rio de Janeiro.
Fora do Brasil por causa do regime, cursou Direito Internacional. Perly retornou ao País em 1969 e passou atuar clandestinamente como militante da Ação de Libertação Nacional (ALN). Em março de 1970 é preso pela PM em Olinda, Pernambuco, onde foi torturado e condenado a 94 anos e oito meses de prisão, alem da perda dos direitos políticos por 60 anos.
Em dezembro de 1979, sai da prisão por liberdade condicional e não anistiado. Em 1980 torna-se um dos fundadores do PT. Foi candidato a governador em 1982, e também chefe de Gabinete do Prefeitura de Vitória deputado estadual, secretário de Estado de Justiça e Cidadania. Foi subsecretario de Promoção e Defesa dos Direitos Humanos da Presidência da República e no governo do Estado.
As pesquisas apontam para o potencial do acervo da Comissão de Anistia, composto por mais de 74 mil requerimentos de anistia política, ainda pouco explorado pela historiografia sobre o período de exceção no país. “Os estudos mostram que a atuação política desses cidadãos na luta por seus ideais acabou gerando violação de direitos humanos pelo Estado, com implicações que se estenderam à vida pessoal e profissional dos perseguidos”, analisa Paulo Abrão, presidente da Comissão de Anistia.
Os relatórios são frutos de um termo de cooperação entre a Comissão de Anistia, a Agência Brasileira de Cooperação do Ministério das Relações Exteriores e o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud).
A vice-presidente da Comissão de Anistia, Sueli Bellato, estará presente na cerimônia de entrega dos relatórios.